sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Sem Copacabana

Eu mesmo confecciono meus cigarros em evidente desespero, acendo-os na única boca do fogão que ainda funciona. Consegui o mínimo do mínimo do mínimo e ainda acho graça nisso. Olho a cama que um dia já foi nova e hoje é velha e suja. Quanto tempo dura a sinfonia da vida sem músicos e sem instrumentos?

Olho as teclas do velho teclado como quem observa um cemitério. A poeira e os restos de fumo de incontáveis vezes faz seu mórbido trabalho. Serão coveiros? Yes, nós temos baganas para qualquer catástrofe anunciada. Yes, nós somos bananas sem pés e maracatus de qualquer um jeito.

Quero aquilo que não gosto. Como todos os zumbis diplomados de nossos tempos. Onde abutres gourmets abominam o que não for o prato do dia. A imaginação é apenas um mamulengo que viralizou em nossas redes de puro infortúnio. Alguém aí já desmaiou pelo menos uma vez na vida?

Palavras são apenas palavras, mas tão mortais quanto os tiros. Aqueles tiros que pintam minha cidade com as cores alegres do próprio inferno. As mãos estão adormecidas quase como a alma, mas um dia chegarão lá. Tudo agora tem seu medo particular, sobretudo as catástrofes que não causam mais comoção alguma. Cadê aquele nude que eu deixei aqui?

Sem calor, sem motivo. A última moda virou quase última. E as bolhas de sabão são mais sólidas do que qualquer promessa solene. O médico e o monstro agora são sócios da mesma firma e todos os estereótipos estão na mesma fila. Alguém aí sabe o meu nome? Desculpem-me, é que meu anonimato bate palmas e são muitas. 

Show à parte, limito-me como um cão num canil maior que o planeta e as guerras são maiores que podemos esperar. Toda fome não tem cara, toda regra exceção, falo coisas que repito, sou um carro em contramão. Não posso evitar certos hábitos, um deles é viver. Quem escreveu esta frase na parede desse banheiro?

Todo tamanho tem maior, todo arrependimento é culposo. O rato não rói mais nada, pede delivery, é bem melhor. Qualquer hora dessas acaba o estoque, será a hora em que daremos berros e dessa vez com algum motivo. Pobres adjetivos, caem no chão enquanto um gago é o palestrante e a nudez a nova uniforme para reuniões sociais. Quem apodreceu essa flor aqui?

São tantas siglas, deixem-me falar, juro que não estou vendendo mais nada. Minha gaveta desarrumada tem até um pouco de ternura. Ninguém é mal, ninguém é bom, todos são pobres de alguma coisa. Nem todos se chamam Aquiles e a maioria possui calcanhar. Acordo de repente no meio de uma tourada e nem dá tempo de me arrumar. Tem um chiclete aí?

Humanamente não sou humano e os meus pedaços nunca mais se juntaram em algum milagre. É uma comédia, só falta a graça, o palhaço usou terno e algumas pessoas morreram de tanto rir. O palco está lotado e podemos chamar isso de modernidade com certos ares antigo. Vocês querem lascas de bacalhau?

Uma hora para de chover e terei que assumir meu ar de bem-comportado, é trágico, mas acontece. Toda tragédia é assim mesma. Tudo estará no grande livro do esquecimento, detalhe por detalhe, letra por letra. A memória pode falhar, mas o tempo, nunca. Sem Copacabana e suas luzes eternas, só me resta acender mais um cigarro. Incomoda a fumaça?...

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