Vivemos livres em celas
Ligamos a TV com a alma na boca
A mentira sabe nos manipular
Vamos enganar a quem?
Somos malvados na bondade
A apatia enfim contaminou-me
Todo som acaba me assustando
Dou a volta no quarteirão?
Entre nuvens minha esperança
Entre ardis minha sobrevivência
Pensar se torna perigoso
Sou gato de rua ou um cão?
Maldita proprietária do sacolão
Maldita frustação dos meus sonhos
Acho que ainda sou humano
Escrevo versos ou me debato?
Bati o martelo em meu dedo
Xinguei tudo o que conhecia
Perdi meu tempo tentando aproveitar
Como sou bobo se não há corte?
Dei um chute no rabo da ternura
Bebi tanta água até afogar-me
Não decifrei nenhum enigma
Chegar em segundo lugar é perder?
Como gosto de passar ridículo
Minha ambição é minha cruz
Tenho medo do que é inevitável
Banquete biológico ou alma imortal?
Minha estética é firma falida
A Caverna de Platão nunca sumiu
Engasgo em minhas palavras
Isso é covardia ou autodefesa?
Vivemos livres em jaulas
Os lobos sempre jantam outros
A mentira nos apadrinhou
Vamos enganar a quem?...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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