Sem chuva...
Apenas um vento cabreiro
Indo até minhas orelhas e perguntando:
Cadê minha chave?
Debaixo do pé de mangueira
O menino escutava canções
No pequeno rádio de pilha...
Um chinelo novinho
Aos meus descalços pés...
A maré não está pra gato
E uma andorinha fez ninho no terraço
E ficou com raiva do verão...
Covardia para todos os homens
Principalmente para os tolos
Que pensam que comem dinheiro...
Meu cão virou filósofo
E me ensina lições de ternura
Que até choro sentindo dor...
Solenemente conto minhas rugas
Me lembrando de cada uma delas
E de minhas inúmeras cicatrizes idem...
Oh, minhas quimeras! Minhas quimeras!
Acabei de vir da loja
De onde comprei ração pra vocês...
Uma guerra no noticiário
E bilhões delas ocultas sob corações...
Cadê minha chave?
Deve estar sob o tapete da sala
Ou eu a engoli com um gole d'água
Conforme mandava a bula...
Faz muito e muito tempo...
Não me lembro nem mais quando foi...
Será que foi ano retrasado?...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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