Recorto figuras de papel
e coloco-as em barbantes
para enfeitar a antiga sala...
Xingo bem baixinho o pior dos palavrões
pois tento me ofender e nunca consigo...
Ajeito o topete que emborou
desde os tempos que mirava
o espelho e ainda sorria...
Eu sou o menestrel que perdeu o alaúde
e esqueceu as letras de todas as canções...
Quero aquilo que inexiste
principalmente o simples
o ingênuo e o que tem ternura...
São calendários que foram jogados fora
temos tanto medo do cadáveres dos dias...
O bobo da corte caiu no choro
depois que a cigana leu a mão
e lhe declarou um cara sério...
Depois de Freud acabaram-se todos os tabus
e ainda existem muitos charutos para acender...
Meu silêncio acaba gritando
e com isso acordou muitas pedras
que existiam pelos meus caminhos...
Não custa quase me dar algumas moedinhas
eu não me canso de lhe estender a minha mão...
Dispenso todo e qualquer enigma
pois eu sou o maior de todos eles
não cheguei aqui por um acaso...
Tenho muitos e muitos pecados variados
me cansaria de contá-los nem a sua metade...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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