sábado, 21 de outubro de 2023

Cadê?

Cadê? Cadê? A brisa mansa que tava por aqui, brisa mansa de dias com alguma fome, não se pode negar, mas dias. Trago agora na memória o que mais não existe, a memória foi feita pra isso. Um cemitério, um álbum velho, o que se estampou sem tecido algum. O meu luto, o seu luto, o nosso luto. De letras engolidas que não saíram por outro lado algum. Estalo de dedos. O giz que desenhou a amarelinha no asfalto já se apagou, a culpa foi da chuva, a culpa foi da chuva, sim senhor. Cadê? Cadê? A mentira que trouxe chuvas, até que o céu secou, até a próxima, obrigado pela preferência, volte sempre, minha freguesa, meu freguês. Maria Balalaica não cozinha mais, Maria Carioca fechou o cabaré, Marina não grita mais atrás da porta. Prazer, meu nome é nada. A carne esfriou, os vermes fizeram fast-food, ossos branquinhos que nem as torradas dela, nem foram ao fogo, jogados foras no cal de uma grande multidão de interrupções. Alguém testemunhou o desespero rindo de rolar no chão. Velhos sofás e cristaleira na sala. A minha eternidade é de novos gestos. Cadê? Cadê? Hoje é folga do cantor, respeitem. Lucrécia ainda tem olhos verdes, mas não cresceu mais nada. Natal de pobre é água da bica. Morder a ponteira da Bic é tão chique. Saber de cor e salteado a letra da música da novela. Vale a pena fechar os olhos. Sorte ao quadrado, morte ao cubo, solidão à quarta potência. Sorrisos símios desprovidos de estética, isso foi tudo. De cortinas entendo eu. No mês que vem, esse mês é o mês passado, pode anotar na parede. Mike18 pintou os cabelos de louro e dança forró eletrônico. Palmas que ele merece! Ele merece! Ele merece! Cadê? Cadê? Estou em nova política de alternância, num sabe? Em dias pares eu bebo, em dias ímpares bebo eu. Genial! Puro Eugênio! Até os que têm tudo, têm inveja de mim. Carne loura pra minha maluca ali. Até os mosquitos daqui são viciados, santo inseticida, Batman. Lantejoulas na máscara do boy, eis a questão. Tia caprichava, séculos atrás. E o tio escutando suas bandas militares, ele era o máximo. Malabarismo sem destreza alguma é o que teve até um dia. Cadê? Cadê?


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

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