segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Nova Conta

Um passarim

Dois passarim

Três passarim

Um céu cheim deles

Mais que alegre...


Uma fulô

Duas fulô

Três fulô

Um novo jardim

Xô dona Tristeza!...


Um sorrisim

Dois sorrisim

Três sorrisim

Minina bunita

De trança mais comprida!


Uma canção

Duas canção

Três canção

Que o ar colora 

Como um desses quadros...


Uma conta

Duas conta

Três conta

Já perdi todas elas

De quanto te amo!!! 

Não Sei (Miniconto)

Não sei... Tenho um bolso cheio de perguntas. Algumas desesperadamente esperando ser respondidas, outras na fila do esquecimento para serem apagadas quais traços de lápis em velhos papéis. As letras se apagam, o papel amarela e depois somem por algum canto. Ou será que foram escritas em velhas paredes? Também pode ser, nunca se sabe, não é?... 

Um Cão Sem Rosto

Muitas folias, poucos carnavais,

Muitas águas, poucos temporais,

Eu sempre duvido, cada vez mais...


Quem guarda a chave que fecha a gaiola?

Quem poderá me dar pelo menos uma esmola?


Vários argumentos, pouca explicação,

Vários elementos, nenhuma estação,

A festa grande, sem comemoração...


Quem construiu as grades dessa jaula?

Será que toda dor é mais uma nova aula?


O cão sem dono abana a cauda só na rua,

Tem todas as feições, mas nenhuma é a sua,

Ainda nem aprendeu como é uivar pra lua...


Quem terá pena desse pobre cão sem rosto?

Que chegou por aqui numa noite fria de agosto...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 29 de outubro de 2023

Minha Casa

Eu vou morar aqui...

Por toda eternidade, pois não?

Mesmo que eu saia um dia de maca

E não possa mais voltar...

Declaro solenemente 

Que gosto dessas velhas paredes,

De cada canto que nem sempre

Posso ir em meus tristes dias...

Gosto até da minha rua!

Onde passam alunos indiferentes,

Alguns cães vadios,

Brincam alguns meninos

E todos cumprimentam por hábito...

Reconheço ser difícil fazer sorrisos

E eu mesmo não sou bom nisso...

Eu vou morar aqui...

Um dia serei mais um desconhecido...

Como outros que moraram

E agora também o são...

Eu confesso que um dia prometi

Isso para a primeira casa,

Depois para a segunda,

Depois para tantas outras

(Umas boas e outras nem tanto),

Mas o destino nos faz quebrar promessas...

Assim como gostamos dos brinquedos

E eles acabam quebrando...

E também amamos muitos e muitos

Que partem primeiro que nós...

Eu vou morar aqui...

A matéria testemunhará a tristeza...

Quatro quadras daqui estará o mar...

Suas garças e suas gaivotas tão lindas...

Suas areias um tanto místicas...

Desculpe-me silencioso terraço,

Não subi mais aí por conta do AVC...

Desculpe também saudade,

Depois de algum tempo, 

Acaba doendo bem menos...

Eu vou morar aqui...

Pode ser?...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 28 de outubro de 2023

Cajus Maduros

Tempo de quase nada.

Decorridos quarenta anos

Quarenta anos se passaram.

Minhas palavras não se encontram mais.

Não há pérolas para pescar.

Só sobraram algumas para os porcos.

Eu só vejo todas as cores.

Mas as cinzas embaçaram meus olhos.

E sinto um vazio no estômago.

Como se minha alma estivesse lá;

Choro com a perfeição dos que treinam. 

Numa mística básica suspiro.

Escrevo em paredes contínuas.

Perdi o mapa do meu tesouro.

Meus óculos em igual forma.

Eu sou qualquer beco vazio e escuro.

Todas paixões caíram ao chão.

Tudo se transforma em folhas.

Falsas promessas agradando mártires.

Magazines tão bem impressos. 

Quadros baratos e mais caprichados.

O futuro tomou café e foi embora.

A maldade caprichou na maquiagem.

Qualquer tema acaba valendo.

Quase caí sobre uma cerca de arame.

E fiz algumas mágicas inéditas.

A culpa com certeza não foi da maçã.

Eu escuto sons que nem existem.

Os olhos dele crescem por cajus maduros.

Tempo de quase tudo...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Um Poema de Impossibilidades

Monossílabos para um grande discurso,

Hoje é apenas o ontem que sobreviveu,

Minha máscara favorita é a minha cara,

Minhas dores para meu deleite próprio,

Plantei fazendas em quaisquer marços,

Me lembrando do que nunca aconteceu,

Trago um pacote de velhas novidades,

Até que uma febre maleita me consuma,

Perdi minha voz perante toda plateia,

Meu barco está afundado na areia da praia,

Krakatoa agora está somente à toa,

Cigarros meus que me matam sorrindo,

Pelo menos lhe sobrou alguma gentileza,

Mostrarei o dedo do meio ao mundo todo,

Faço caretas no velho espelho do banheiro,

Notei sua linda bunda sob o jeans apertado,

Politicamente correto como qualquer canalha,

Acerto dardos num alvo que nunca mirei,

Alguém chama com insistência no meu portão,

Esqueci de pagar o próprio ar que respiro,

Um dia comprarei o único espaço que terei,

Só ouço os passarinhos que começam o sofrer,

Um passo, dois passos, isso faz um caminho,

Meus ossos estalam como fossem metais,

Mas não possuem mais algum brilho algum,

Margaridas e manacás já murcharam,

A verde grana agora está meio amarelada,

Temos poeira suficiente para todos os desertos,

Monossílabos para um grande discurso...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Um Delírio, Só Isso

Sonhei com caracóis que eram serpentes,

que também eram pássaros,

que se tornavam escorpiões,

era talvez somente isso...

Sonhei que eu mesmo me amaldiçoava,

que tinha paixões nocivas,

que procurava tocaias,

usava abismos como piscinas...

Sonhei com um jogo desonesto,

em que as cartas estavam marcadas,

em que os dados estavam viciados,

porque é sempre assim...

Sonhei que não conseguia mais dormir,

porque passava fome,

porque tinha muita sede,

o abandono me acompanhou...

Sonhei que tropeçava na rua,

no meio de uma multidão,

no meio de um tiroteio,

acaba sendo a bola da vez...

Sonhei que roubava no jogo,

mas eu também era roubado,

eu também era agredido,

sem ter motivo algum...

Sonhei que eu era a mosca da sopa,

que eu era o calo no meu pé,

que eu era a pedra no meu caminho,

eu era o estorvo de mim mesmo...

Sonhei que tinha um dragão no quintal,

tinha uma febre me atacando,

tinha uma vertigem me enjoando,

que eu era apenas mais um babaca...

Sonhei com o deboche de amigos falsos,

com aquele tesão que não veio,

com uma felicidade que deu no pé,

era talvez somente isso...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades' de autoria de Carlinhos de Almeida).

Natura Humana

Vivemos livres em celas

Ligamos a TV com a alma na boca

A mentira sabe nos manipular

Vamos enganar a quem?

Somos malvados na bondade

A apatia enfim contaminou-me

Todo som acaba me assustando

Dou a volta no quarteirão?

Entre nuvens minha esperança

Entre ardis minha sobrevivência

Pensar se torna perigoso

Sou gato de rua ou um cão?

Maldita proprietária do sacolão

Maldita frustação dos meus sonhos

Acho que ainda sou humano

Escrevo versos ou me debato?

Bati o martelo em meu dedo

Xinguei tudo o que conhecia

Perdi meu tempo tentando aproveitar

Como sou bobo se não há corte?

Dei um chute no rabo da ternura

Bebi tanta água até afogar-me

Não decifrei nenhum enigma

Chegar em segundo lugar é perder?

Como gosto de passar ridículo

Minha ambição é minha cruz

Tenho medo do que é inevitável

Banquete biológico ou alma imortal?

Minha estética é firma falida

A Caverna de Platão nunca sumiu

Engasgo em minhas palavras

Isso é covardia ou autodefesa?

Vivemos livres em jaulas

Os lobos sempre jantam outros

A mentira nos apadrinhou

Vamos enganar a quem?...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Dúzia de Doze

Dúzia de doze - e só

Dúzia de dose - e nó

Toda certeza é incerta e nula

Olhe sem olhos e vide bula

Quem usa patins? A mula...

Carnaval sem folia - cabou

Louça sem pia - quebrou

Não saio mais de casa

Cuidado com pombo sem asa

Até o tempo se atrasa...

Qualquer merda - é poesia

Qualquer merda - riquecia

Tou cheim de medo

Acordei muito cedo

Esse doce é tão azedo...

Vou quebrar pedra no muque

Ando bem mais que o Huck 

Me dê logo essa cana

Tua fuça é tão sacana

Sua bença dona Grana...

Didi desceu do Cristo

Chinês mijou e foi visto

Eles dançaram no cemitério

O meu palhaço tá tão sério

O óbvio é um mistério...

Dúzia de doze - é só

Dúzia de dose - é nó!...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Lógica

Todo poema é algum,

toda marca é desenho,

solidão é ter nenhum,

donde vim é que venho...


Os poetas estão chegando,

como pássaros em bando...


Todo carinho me afaga,

todo afeto é tão terno,

toda mentira é praga,

a guerra é feito inferno...


Os suspiros ecoam pelo ar,

ninguém escolhe quando amar...


Toda beleza é vã,

todo riso é estampado,

todo futuro é amanhã,

mas o hoje é passado...


Um periquito tira a sorte no realejo,

eu me entristeço com aquilo que vejo...


Toda rua é caminho,

toda nuvem passeia,

eu uivo se estou sozinho

em noites de lua cheia...


Só o menino que fui tem eternidade,

mesmo nesse país chamado saudade...


Todo vento é segredo,

cada palavra um desacato,

o medo tem medo do medo,

a novidade é um jato...


Do fundo dessa minha triste cela,

acompanho cada capítulo dessa novela...


Todo preconceito é idiota,

todo ambicioso é doente,

o que passa não se nota,

é meio, atrás ou na frente...


A bondade é uma coisa teimosa,

no meio dos espinhos tem mais rosa...


Toda maré uma hora esvazia,

coisas vão não voltam mais,

a que não é quente é fria,

nenhum barco mora no cais...


Para todos os sábios sua sabedoria,

para todos os sóis a luz do dia...


Todo poema é algum,

toda marca é desenho,

quem bebe fica bebum,

donde vim é que venho...

domingo, 22 de outubro de 2023

Mormaço Sem Águas

A tela agigantou-se aos meus olhos

e acabou criando o dia...

Errarei sempre os meus mesmos erros

sobretudo minhas vãs paixões...

Procurarei enfeitar todos os pavões

com o que sobrou daquele brilho...

Todos os meu absurdos serão perdoados

se eu permanecer em mortal silêncio...

A minha solidão é tão mais veloz

quanto flecha disparada ao sol...

Todas as bandeiras brancas nos enganam

são como cruéis fins de festa...

Escuto sons que não mais existem

nessa surdez dentro de minh'alma...

Brinquedos todos que foram ontem

agora não passam de sombras...

Até os rios podem parar alguma hora

como uma carpideira em seu ofício...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Poesia Gráfica LXXVII

S O U S E U E R R O

S O U S E U B E R R O

S O U B E Z E R R O

E U M E E N C E R R O

E U M E E N T E R R O


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M A I S D E M E N O S

M E N O S D E M A I S

S A P O P U L A P R A F R E N T E

G A T O P U L A P R A T R Á S

A S C A R P I D E I R A S C H O R A M

M E S M O N O S C A R N A V A I S

M A I S D E M E N O S

M E N O S D E M A I S


...................................................................................


F E R R O M E T A L Q U E N T E

P A I X Ã O C O R A Ç Ã O D O E N T E

M E N T I R A M E N T E D E M E N T E

A N D E I D E T R Á S P R A F R E N T E

S Ó S O B R O U A L G U M A S E M E N T E

S E N T A D O E S P E R O A U S E N T E

M O E D A P A R A U M P E N I T E N T E


...................................................................................


A R O D A D O D E S T I N O R O D O U

O T E M P O ? JÁ P A S S O U ...

A L E G R I A ? U M L A D R Ã O R O U B O U !


...................................................................................


S E V O C Ê F O S S E U M N A D A

C E R T A M E N T E 

S E R I A O N A D A M A I S L I N D O

Q U E J Á E X I S T I U A T É H O J E


...................................................................................


F E L I C I D A D E B O L A S D E G U D E

F E L I C I D A D E B O N E C A N O V A

F E L I C I D A D E P A S S A R I M S O L T O

F E L I C I D A D E N U V E N S S O L T A S

F E L I C I D A D E H O J E É C I R A N D A

F E L I C I D A D E 


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U N S P U L O S

A L G U N S S A L T O S

U N S P A R A O B A I X O

O U T R O S P A R A O S A L T O S

A V E N I D A S C O M S E U S C A R R O S

H O M E N S E S E U S V Í C I O S


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Sujeito Simples (Miniconto)

Nasceu no dia do seu aniversário. Todos os anos, neste mesmo dia, era acrescentado um ano em sua idade. Tinha o hábito de respirar continuamente enquanto seu coração bombeava sangue por artérias e veias e a máquina do corpo funcionava. Pensava enquanto pelo menos estava consciente. Aprendeu pelo menos um idioma já que conseguia falar pelo sentido correspondente. Tinha hábitos, gostos e gestos únicos mesmo que semelhantes com outros em outras pessoas. Praticou os sete pecados capitais em alguma ocasião de sua existência. Teve fé e acreditou ou não em alguma coisa religioso, filosófica ou de outra natureza. Foi enganado e também enganou algumas vezes. Se considerou ou se sentiu louco em algum tempo de sua existência. Como qualquer um animal teve necessidade de sexo e comida em sua intensidade própria. Experimentou sentimentos diversos como amor, medo e solidão. Foi muito famoso ou totalmente anônimo, teve muita grana ou quase nenhuma. Teve família, parentes ou não. Pertenceu a algum grupo ou a nenhum deles. Até que a máquina um dia parou completamente se deteriorando aos poucos. Descanse em paz.

sábado, 21 de outubro de 2023

Quase Cores

Leões para o jantar

e a nova (velha) moda

de trazer escorpiões para acompanhar...

Meu medo heroico 

suporta qualquer cativeiro

antes mesmo de te amar...

Fiz festa nos três dias

e numa quarta qualquer

quando percebi estava voando...

Cenário de uma novela real

onde escravos fabricam grilhões

e pássaros montam gaiolas...

O cego ensina o bê-á-bá 

criando calos nos dedos

nas cordas do velho violão...

Os dentes que faltam

mesmo assim ainda mostram

um sorriso de enigmas...

Não via faz muito tempo

aquele filme antigo

que tanto me fazia chorar...

A vida é um roteiro improvisado

de muitos erros inocentes

e baixo custo de produção...

Nova atração turística 

de muitas velas acesas

e de alguns vulcões extintos...

Os nativos em volta da fogo

enquanto nas selvas

dormimos entre o concreto...

A chuva cai lentamente

esfriando o ar em volta

enquanto sonhos morrem pelas calçadas...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Cadê?

Cadê? Cadê? A brisa mansa que tava por aqui, brisa mansa de dias com alguma fome, não se pode negar, mas dias. Trago agora na memória o que mais não existe, a memória foi feita pra isso. Um cemitério, um álbum velho, o que se estampou sem tecido algum. O meu luto, o seu luto, o nosso luto. De letras engolidas que não saíram por outro lado algum. Estalo de dedos. O giz que desenhou a amarelinha no asfalto já se apagou, a culpa foi da chuva, a culpa foi da chuva, sim senhor. Cadê? Cadê? A mentira que trouxe chuvas, até que o céu secou, até a próxima, obrigado pela preferência, volte sempre, minha freguesa, meu freguês. Maria Balalaica não cozinha mais, Maria Carioca fechou o cabaré, Marina não grita mais atrás da porta. Prazer, meu nome é nada. A carne esfriou, os vermes fizeram fast-food, ossos branquinhos que nem as torradas dela, nem foram ao fogo, jogados foras no cal de uma grande multidão de interrupções. Alguém testemunhou o desespero rindo de rolar no chão. Velhos sofás e cristaleira na sala. A minha eternidade é de novos gestos. Cadê? Cadê? Hoje é folga do cantor, respeitem. Lucrécia ainda tem olhos verdes, mas não cresceu mais nada. Natal de pobre é água da bica. Morder a ponteira da Bic é tão chique. Saber de cor e salteado a letra da música da novela. Vale a pena fechar os olhos. Sorte ao quadrado, morte ao cubo, solidão à quarta potência. Sorrisos símios desprovidos de estética, isso foi tudo. De cortinas entendo eu. No mês que vem, esse mês é o mês passado, pode anotar na parede. Mike18 pintou os cabelos de louro e dança forró eletrônico. Palmas que ele merece! Ele merece! Ele merece! Cadê? Cadê? Estou em nova política de alternância, num sabe? Em dias pares eu bebo, em dias ímpares bebo eu. Genial! Puro Eugênio! Até os que têm tudo, têm inveja de mim. Carne loura pra minha maluca ali. Até os mosquitos daqui são viciados, santo inseticida, Batman. Lantejoulas na máscara do boy, eis a questão. Tia caprichava, séculos atrás. E o tio escutando suas bandas militares, ele era o máximo. Malabarismo sem destreza alguma é o que teve até um dia. Cadê? Cadê?


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Muita Coisa para Não Se Fazer

Baile de máscaras,

é, baile de máscaras

com ventos bons 

que nem sabemos...

Façamos eternas poses

como velhas fotos...

O sol tem preguiça...

Fadas sem tempero...

Doem seu sangue

para vampiros pobres...

A gravidade dos atos

é a alegria contumaz

de várias borboletas...

A ferida sem me ferir...

Mais um drinque, sim,

só mais um apenas...

Uma tontura daquelas

como nunca dantes...

Alguns destes mares

sombrios por vocação...

Um destes problemas

que vieram resolvidos...

Nem todos os amantes

conseguem fingir...

Minha derradeira utopia

tem sabor de chocolate...

Assistam a peça

"Pedro e o Bobo"...

De preferência

usando tapa-ouvidos...

A cadeira cansou...

Não sei de mais nada...

Baile de máscaras,

é, baile de máscaras

com ventos bons 

que nem sabemos...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Quase Esquecemos de Rir

Por falta de uso,

pelo jeito desajeitado que nos segue,

quase esquecemos de rir...


Esquecemos de rir

como se a vida fosse somente choro,

mas ela não é...


Lembramos de chorar

como se a morte nos visitasse sempre,

mas ela nos visita...


Aflições tão tolas

não me impedirão mais de voar,

mesmo sem asas...


Confesso-me carnaval

ainda que um fevereiro morto

não volte nunca mais...


Pela falta total de nexo,

como um pesadelo que logo acaba,

quase esquecemos de rir...

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Alguma Coisa (Antítese?)

Alguma coisa, quase nada,

Uma grande festa sem motivo,

A fama heroica do anonimato,

O sem-gracismo de exclamações,

O estômago quase vazio,

Os pulmões cheios de poeira,

A turnê dentro de casa,

Tenho motivos de porra nenhuma...


Alguma coisa, quase nada,

Página em branco esquecida,

A grana se tornou um deus,

A arte acabou  machucada,

Piratas de muitos Caribes, 

Apatia chegando em delivery,

Corações de aço inoxidável,

Meus monstros foram passear...


Alguma coisa, quase nada,

O gato colocou terra por cima,

O boleto acabou me vencendo,

Perdi a hora de meu ócio,

Brinquei com algumas labaredas,

Já derrubei alguns castelos,

Andei descalço milhares de léguas,

Acabei caindo de cima do telhado...


Alguma coisa, quase nada,

Ninguém notou o meu grito...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).


terça-feira, 17 de outubro de 2023

É Rodopio

De qual cor escolherei a rosa,

Para qual santo farei a reza,

Qual o milagre vou fazer,

Que dia vai ser o feriado,

Qual calamidade vai acontecer,

Qual o maior espetáculo da terra?


Um grande carrossel na nossa alma,

Uma ciranda interminável tão bonita,

Uma roda-gigante cheia de luzes...


Qual a fantasia usarei no carnaval,

Qual máscara esconderá meu mal,

Que desculpe darei para meu atraso,

Que remédio tomarei para a dor,

Que perdão darei aos meus pecados,

Qual é a hora que me erguerei para o dia?


Um pião rodando contente no chão,

Um redemoinho levantando folhas,

Uma ideia não saindo da cabeça...


Qual delas darei o meu amor,

Em que lua irei me transformar,

Em que oceano navegarei à deriva,

Em que castelo arrastarei correntes,

Que espelho confessarei segredos,

Em que terras andarei por último?


Um andar de ponteiros no relógio,

Um planeta em volta da estrela,

Uma engrenagem da máquina malvada...

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Cadê Minha Chave? (Um poema baseado em outro)

Mais uma visagem qualquer...

Cadê minha chave?

Pergunta a vida com cara de choro

ou pergunta a morte com ar de riso...

Qual das duas respondo primeiro?

A primeira amarelou o papel

rabiscou o que quis

rasgou alguns pedaços

amassou e jogará fora...

A outra espera 

(não sei se paciente ou não)

o mesmo papel sofrido...

Desconheço se irá queimá-lo de vez

ou se o guardará com o carinho

que antes nunca tive...

Mais um delírio diário...

Cadê minha chave?

No meu bolso ela não está

caíram de lá pelas ruas da vida...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 14 de outubro de 2023

Agridoce

Agridoce
Agridose
De tristezas que só chegam em bando
E os meus infortúnios vão comemorando...
Eu não sei, ela não sabe, ninguém sabe,
Quantos desamores num peito cabe...
Não há mais tempo, nem há dia,
Um tiro disparado, acertado na poesia...
Corram logo, levem-na ao hospital,
Ainda existe chance, mas o paciente passa mal...
Agridoce
Agridoze
Nem me conheço, acabei me conformando
E isso me enlouquece de sempre em quando...
A fantasia tem muito já foi rasgada
E nossa musa é a mais feia e desesperada...
Pare o silêncio, vamos tocar a viola,
Um trocadinho para arte, por favor, uma esmola...
Já faz tempo, ontem que minha mãe me pariu
E faz algum também que minha alegria partiu...
Agridoce
Agripose
Ninguém ganhou, todos somos apenas perdedores,
Cada um chora e reclama de suas próprias dores...
Se há algum prêmio, ele acaba vindo atrasado,
Nessa viagem ninguém qual escolhe qual seu lado...
Um meteorito caiu em cima da minha cabeça,
Acenda a luz antes que o dia então escureça...
Não vou viajar nem vou quero ir pra marte,
Cada um tem a sua e eu também tenho minha parte...
Agrifosse
Agritrouxe
É a bola no pé se o dinheiro estiver na mão,
Dá aquela preguiça logo depois da refeição...
Não tenho mais boca para poder comer,
Mas tenho muita sede para poder beber...
Pintei a fachada dos prédios de cor lilás.
Inclusive todos os que não existem mais...
Tenho saudades da roda-gigante no carnaval
Mas isso foi antes de desabar esse temporal...
Agritosse
Agriposse
De tristezas que chegam de quando em quando
E os meus infortúnios vão se alegrando...
Eu não sei, ela não sabe, ninguém sabe,
Qual será a hora que o edifício desabe...
Não há mais tempo, nem há dia,
Um tiro disparado, acabou a fantasia...
Corram logo, levem-na ao hospital,
Ainda existe chance, mas o paciente passa mal...
Agridoce
Agridose...

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Sem Copacabana

Eu mesmo confecciono meus cigarros em evidente desespero, acendo-os na única boca do fogão que ainda funciona. Consegui o mínimo do mínimo do mínimo e ainda acho graça nisso. Olho a cama que um dia já foi nova e hoje é velha e suja. Quanto tempo dura a sinfonia da vida sem músicos e sem instrumentos?

Olho as teclas do velho teclado como quem observa um cemitério. A poeira e os restos de fumo de incontáveis vezes faz seu mórbido trabalho. Serão coveiros? Yes, nós temos baganas para qualquer catástrofe anunciada. Yes, nós somos bananas sem pés e maracatus de qualquer um jeito.

Quero aquilo que não gosto. Como todos os zumbis diplomados de nossos tempos. Onde abutres gourmets abominam o que não for o prato do dia. A imaginação é apenas um mamulengo que viralizou em nossas redes de puro infortúnio. Alguém aí já desmaiou pelo menos uma vez na vida?

Palavras são apenas palavras, mas tão mortais quanto os tiros. Aqueles tiros que pintam minha cidade com as cores alegres do próprio inferno. As mãos estão adormecidas quase como a alma, mas um dia chegarão lá. Tudo agora tem seu medo particular, sobretudo as catástrofes que não causam mais comoção alguma. Cadê aquele nude que eu deixei aqui?

Sem calor, sem motivo. A última moda virou quase última. E as bolhas de sabão são mais sólidas do que qualquer promessa solene. O médico e o monstro agora são sócios da mesma firma e todos os estereótipos estão na mesma fila. Alguém aí sabe o meu nome? Desculpem-me, é que meu anonimato bate palmas e são muitas. 

Show à parte, limito-me como um cão num canil maior que o planeta e as guerras são maiores que podemos esperar. Toda fome não tem cara, toda regra exceção, falo coisas que repito, sou um carro em contramão. Não posso evitar certos hábitos, um deles é viver. Quem escreveu esta frase na parede desse banheiro?

Todo tamanho tem maior, todo arrependimento é culposo. O rato não rói mais nada, pede delivery, é bem melhor. Qualquer hora dessas acaba o estoque, será a hora em que daremos berros e dessa vez com algum motivo. Pobres adjetivos, caem no chão enquanto um gago é o palestrante e a nudez a nova uniforme para reuniões sociais. Quem apodreceu essa flor aqui?

São tantas siglas, deixem-me falar, juro que não estou vendendo mais nada. Minha gaveta desarrumada tem até um pouco de ternura. Ninguém é mal, ninguém é bom, todos são pobres de alguma coisa. Nem todos se chamam Aquiles e a maioria possui calcanhar. Acordo de repente no meio de uma tourada e nem dá tempo de me arrumar. Tem um chiclete aí?

Humanamente não sou humano e os meus pedaços nunca mais se juntaram em algum milagre. É uma comédia, só falta a graça, o palhaço usou terno e algumas pessoas morreram de tanto rir. O palco está lotado e podemos chamar isso de modernidade com certos ares antigo. Vocês querem lascas de bacalhau?

Uma hora para de chover e terei que assumir meu ar de bem-comportado, é trágico, mas acontece. Toda tragédia é assim mesma. Tudo estará no grande livro do esquecimento, detalhe por detalhe, letra por letra. A memória pode falhar, mas o tempo, nunca. Sem Copacabana e suas luzes eternas, só me resta acender mais um cigarro. Incomoda a fumaça?...

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Nem A Metade

Recorto figuras de papel

e coloco-as em barbantes

para enfeitar a antiga sala...

Xingo bem baixinho o pior dos palavrões

pois tento me ofender e nunca consigo...

Ajeito o topete que emborou

desde os tempos que mirava 

o espelho e ainda sorria...

Eu sou o menestrel que perdeu o alaúde

e esqueceu as letras de todas as canções...

Quero aquilo que inexiste

principalmente o simples

o ingênuo e o que tem ternura...

São calendários que foram jogados fora

temos tanto medo do cadáveres dos dias...

O bobo da corte caiu no choro

depois que a cigana leu a mão

e lhe declarou um cara sério...

Depois de Freud acabaram-se todos os tabus

e ainda existem muitos charutos para acender...

Meu silêncio acaba gritando

e com isso acordou muitas pedras

que existiam pelos meus caminhos...

Não custa quase me dar algumas moedinhas

eu não me canso de lhe estender a minha mão...

Dispenso todo e qualquer enigma

pois eu sou o maior de todos eles

não cheguei aqui por um acaso...

Tenho muitos e muitos pecados variados

me cansaria de contá-los nem a sua metade...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Passarando (Um Simples Poema Pedindo A Paz para O Mundo)

 

Fugiu da pedra atirada, 

deu língua pra atiradeira,

riu junto com o sol,

puxou a orelha das nuvens,

guardou o segredo do tímido,

comeu migalhas das cores,

colocou na cabeça a coroa do dia,

roubou um beijo da boca mais bonita,

deu todos os suspiros do mundo,

brincou de pega-pega com o gato,

fez festa ao cão tristonho de rua,

ligou a lanterna na escuridão,

disse não pra chuva malvada,

encontrou abrigo nas torres das igrejas,

leu todos os poemas não-escritos,

pediu em casamento todas as mãos,

colocou em silêncio malvados ditadores,

fez a alegria das mães do mundo,

brincou com as crianças,

colocou asas nos homens,

consolou órfãos e viúvas,

andou ocupando todo o espaço,

não precisou de justificativa 

pois era a mesma em si,

ressurgiu de todas as cinzas,

animou as mais cansadas fogueiras...


Diga-me lá quem é você,

pássaro mais bonito entre as criaturas,

que todos os homens desejam (menos os vis)

e mesmo assim foge...


E ele me deu um sorriso e me disse:

Eu me chamo Paz!!!




Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...