Não me pergunte determinadas
coisas. Hei de não responder. E farei a inversão das palavras nas frases sem
nenhum pudor. Passaram-se anos e isso é direito certo e adquirido. Porque elas
não envelheceram. Mas eu sim. Farei também rimas óbvias e pobremente
enfeitadas. Com o papel crepom usado para as nossas falsas riquezas. É o que
há. Bem parecido com o que sobrou e que não satisfaz nossa fome. Assim é. Ordem
natural das coisas. E a eterna interrogação aprontando das suas. É um silêncio
irritante que há. E muitos chegando cansados daquilo que não entenderam. Porque
riram e riram muito. Mas desconheciam que eram o próprio objeto do riso. Os
mortos não devem chorar por sua própria morte. E nem olhar pra trás no último
cortejo. É o que somos.
Não me pergunte determinadas
coisas. Há vários tipos de perguntas. E algumas delas foram feitas para ficarem
sem resposta alguma. Respostas podem ferir ou ainda enlouquecer. Mais ainda do
que desconhecemos ser. O divino se afasta de nós em largos passos. Mas o
profano sempre tem mais um minuto de atenção. Ainda não estou embriagado por
enquanto. Mas prometo sinceramente fazer o possível. Prometo também
sinceramente achar graça com graça. E chorar da forma mais discreta possível.
Chorar sem olhos e sem boca. Mas com alma. E ser ainda o mesmo que desconheço.
As coisas mudam. Até a eternidade. Sonhos realizados decepcionam. E o amor pode
ser o maior ódio existente na face da terra. E o desejo nos trará algum bocejo
de tédio depois de tanta aflição. O carinho virou espinho. E algumas e outras
rimas ainda estão em seu prazo de eterna validade.
Não me pergunte determinadas
coisas. A falta de perigo pode ser mais perigosa ainda. E os lápis-de-cores
podem conduzir para os erros mais graves. É um estado de sítio em que nos
encontramos. E queiramos ou não queiramos não há posição que possamos ocupar
permanentemente. O destino é quem faz as escalas. E certamente não escalas
musicais que distraem a mente ou às vezes o coração. Quando muito somos quase o
que somos. Mas perigosamente somos os melhores fregueses de nossas mentiras. A
justiça nunca usou vendas. E sua balança sempre esteve desregulada. Por isso
nem sempre os finais felizes eram o que deveriam ser. Talvez o tédio seja uma
felicidade maior e incompreendida. E o último capítulo da novela o achado do
ano. Quando menos esperamos as coisas acontecem. E a chegado do rei nos pegou
despidos.
Não me pergunte determinadas
coisas. É perigoso orar aos demônios. Seus ouvidos estão sem cera. E eles
costumam atender todos os nossos pedidos. Vá que o trânsito esteja engarrafado.
E o garoto ou a garota de programa se atrasem como nunca. O sistema saiu fora
do ar e os torpedos não chegaram. A vida cansou de esperar por nós e foi em
frente. Eu mesmo dei todas as chances possíveis e ninguém quis. Como foram
bobos. Eu tinha preparado a festa detalhe por detalhe. Era quase um carnaval e
o Pierrot era eu. Mas mesmo assim eu também poderia ser o Arlequim. Em cada
passo calculei com exatidão o melhor carinho possível e a maior ternura
imaginável. E nem nos piores dias de guerra parei de suspirar. Agora já é
tarde.
Não me pergunte determinadas
coisas. A caixa de Pandora está fechada só com o trinco e nada garante que se
abra de repente. Mesmo envelhecido o vinho é o mesmo. E até os alquimistas
guardam secretamente algumas absurdas concepções comprováveis de acordo com sua
particular dialética. Tudo se resume às frases de efeitos e insistentes modismos
que às vezes passam despercebidos. Miramos um alvo e acabamos acertando outro.
Em dias diferentes sem aviso algum. Deveríamos estar preparados para agradáveis
surpresas. Mas se fosse assim seria uma surpresa ainda bem maior. Mas que seja.
Me contentarei de ser o melhor dos piores. Ou o pior dos melhores. E com a
mesma razão que falei verdades também mentirei.
Não me pergunte determinadas
coisas. Eu sei demais e isso é muito perigoso. E falo sozinho a maior parte do
meu tempo ocioso e isso é muito perigoso também. Porque os olhos mesmo que
encurtados são mais lúcidos que a mente. E os pés cansados são mais sábios que
a alma. Repare bem na minha camisa com seus belos olhos e nada mais. Tudo pode
ser inverter no próximo capítulo desse folhetim vendido na feira. Repare bem na
boa intenção que eu tive. Sou falsamente verdadeiro avisando que tenha cuidado.
Os dias que você me negou ainda apresentam a conta do aluguel. E o normal é a
mais engraçada de todas as piadas. O seu disfarce mostra mais claramente todas
as coisas. E eu nem queria que fosse assim. Que nos calemos. Até os cobertos de
razão. Faz calor ou faz frio. E ambas as opções são apenas o que temos. Mesmo
havendo tanta coisas nos descontentamos e a rota de fuga nos tenta novamente.
Não me pergunte determinadas
coisas. Não hesitarei em ferir se necessário. Eu posso responder...
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