segunda-feira, 10 de março de 2014

Por Que Não?

Eram dias que hoje parecem sombrios e talvez tivessem sido mesmo. Eles já se foram, mas suas marcas permanecem no chão de minha alma e nada pode tirá-los. Mesmo que eu queira, mesmo que faça mil rezas em mil línguas esquecidas e mesmo que tudo pareça resolvido.
Eu aqui estou. No mesmo desespero de ontem e de todo o tempo possível. E olho com os mesmos olhos tortos que fizeram tanto rir. É como se eu andasse o tempo todo e continuasse parado no mesmo lugar. Tudo partiu, menos eu...
Por favor, me esperem. Voltem aqui. Eu não sou o que pareço ser. Voltem aqui. Eu ainda tenho gestos mais intempestivos que os seus e rio mais do que possam sequer imaginar. Eu não estou sério de forma alguma, isso é apenas um disfarce para alguns golpes de mestre. Não me deixem fora desse círculo onde podemos brincar a mesma ciranda...
Por favor, me beije. A beleza não veio ao meu encontro e eu não sou um cara nada legal, mas também desejo. Me namore. Mesmo que isso signifique tristeza na próxima curva ou maltratos para um coração. Me deixe meter a cara na parede se isso pode significar ter lembrança. Não me deixe...
Eu tenho uma coisa para lhes contar. Era tudo mentira. Vocês nem imaginam como era. O medo pode ser um grande arquiteto quando ele quer. O medo pode fazer paredes de sombra e chãos de fumaça. E foi o que ele fez. Na verdade, eram tempos de guerra e nesta guerra os fracos podem e devem vencer. E era o que acontecia... Cavem trincheiras, camaradas! Armem-se até os dentes! Não durmam, os pesadelos podem chegar à qualquer momento! Não pedimos a tristeza que aí vem!  Eu conheço sequer seu nome, mas temos algo em comum! Nada fizemos de errado, quando muito, apenas nascemos! Nascemos chorando e chorando continuamos...
Vocês riam e brincavam, mas riam de nós e brincavam com nosso sentimento... Não se envergonham disso? Pois deviam... Vocês faziam a festa e mandavam no mundo e nem sabiam que isso era mal... Nunca fomos convidados para a festa e o mundo que era também nos pertencia era como que tomado... Não se envergonham disso? Pois deviam...
Cada lágrima que choramos até hoje tem a sua participação. Cada desamor que sentimos partiu de suas mãos e cada abismo em que caímos também foram cavados por elas. Não há tribunal que os absorva de sua culpa e nem deus que lhes dê o perdão. Não há Pedra Filosofal que transforme nossa dor em alegria e nem há algum elixir que ressuscite aqueles nossos sonhos. Vocês os mataram em seus berços ou perto deles...
Mas seus fantasmas ainda estão por aí. Perseguindo cada carrasco e espreitando cada algoz. Os que venceram na vida ou os que perderam na morte porque tanto faz... Pais de família e mulheres amadas, construtores da sociedade e pensadores do hoje... Leitores de grandes novidades e telespectadores de todas as maravilhas... Formadores de opinião pública e bom exemplo à ser seguido... O seu perfume não disfarça o cheiro e a sua aparência não afasta o perigo. O cheiro dos mortos é muito mais forte e, por isso, sentido de longe. E o que restou de seus corpos metem sempre medo...
Contem nossos ossos se quiserem. Um dia chegará a vez de sua contagem... Tentem nos enganar com solenes missas. Só a terra realmente nos dá e nos tira e a terra não tem muitos enfeites...
Por que você fez isto? E por que você fez aquilo? Na verdade só pergunto por perguntar... O tempo já respondeu tudo e agora eu rio. Rio de quão foi pequeno os seus destinos e como a sua felicidade foi tão falsa. E por que não? ...

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Carliniana XLV (Indissolúvel)

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