quarta-feira, 18 de setembro de 2024

É Quando Faltam Pesadelos...

É quando faltam até pesadelos

Que começamos então a entender

Que a única coisa que tem tamanho

São esses nossos pobres olhos...


Que a estética é uma piada de mau-gosto...


É quando a alma está vazia

E a barriga está mais vazia ainda

Que percebemos um fraco indício

Que é tudo da mesma natureza...


Que a moda é a maior das desnecessidades...


É quando o amor viras as costas e parte

Que entendemos o fatalismo do gostar

E que se dá certo ou se nunca vai dar

É como tentar fechar os olhos para o sol...


Que a estatística é uma brincadeira malvada...


É quando a covardia morre na sala de parto

Que descobrimos mesmo que tarde demais

Que o bem e o mal são irmãos gêmeos

E que a escolha só depende de cada um...


Que os dias não possuem piedade alguma...


É quando engolimos de uma vez o relógio

E damos play na cena que estava parada

Que descobrimos que somos o próprio tempo

E que desistir não é para a nossa teimosia...


Que a eternidade só necessita de um segundo...


É quando faltam até pesadelos

Que começamos então a entender

Que a única coisa que tem precisão

São esses nossos pobres olhos...


(Extraído da obra "Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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