É quando faltam até pesadelos
Que começamos então a entender
Que a única coisa que tem tamanho
São esses nossos pobres olhos...
Que a estética é uma piada de mau-gosto...
É quando a alma está vazia
E a barriga está mais vazia ainda
Que percebemos um fraco indício
Que é tudo da mesma natureza...
Que a moda é a maior das desnecessidades...
É quando o amor viras as costas e parte
Que entendemos o fatalismo do gostar
E que se dá certo ou se nunca vai dar
É como tentar fechar os olhos para o sol...
Que a estatística é uma brincadeira malvada...
É quando a covardia morre na sala de parto
Que descobrimos mesmo que tarde demais
Que o bem e o mal são irmãos gêmeos
E que a escolha só depende de cada um...
Que os dias não possuem piedade alguma...
É quando engolimos de uma vez o relógio
E damos play na cena que estava parada
Que descobrimos que somos o próprio tempo
E que desistir não é para a nossa teimosia...
Que a eternidade só necessita de um segundo...
É quando faltam até pesadelos
Que começamos então a entender
Que a única coisa que tem precisão
São esses nossos pobres olhos...
(Extraído da obra "Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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