quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 293

Prometo solenemente, de hoje em diante, não ligar mais para espelhos. Antes não era assim, sem sombra de dúvida. Toda vez que passava perto de algum, era quase obrigatório, me mirar detidamente nele, mesmo que por alguns segundos que acabam demorando, Hoje não, não consigo mais ver aquele menino de antes. Espelhos são tão volúveis... E eu, na minha velha tristeza, já cansei de colaborar com sua malvada brincadeira. Desta vez, só lhe fitarei, senhor espelho, quando necessário for...


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Ouça aquela carta que não escrevi. Veja com bons olhos aquela minha música. Sinta nos dedos aquele meu pequeno poema de desespero normal. Apenas me refugio hoje em dia na frente desta tela que eu mesmo manchei com pobres sonhos. Tenha um pouco mais de pena de mim. Não repare em meus erros de gramática e nem nos meus passos fracos. Dê uma nova chance para o meu nada. E de vez em quando, ajude a matar algumas dessas quimeras...


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Todas as cenas se repetem, com mínimos detalhes que parecem diferenciá-los, mas nem tanto. Todos os sentimentos são quase iguais, só mudam os personagens, mas os textos são bem parecidos. Toda novidade acaba sendo antiquada um dia, o tempo faz isso de forma que nem é notada. A poeira suja os móveis e ninguém nota. A água parada não diz mais segredo alguns. Folhas em seus tombos homéricos e flores murchas no dia seguinte...


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Quando chegava naquela rodoviária, aquela loja de doces para mim era o paraíso. Não que fossem doces maravilhosos, não era nada disto. Eram doces comuns, desses industrializados em embalagens coloridas e chamativas. Eu nem sequer ia comê-los. O dinheiro naquela época eram bem pouco, a fotografia não me rendia muito. Eram para levar para mamãe que ficava o dia todo quase sozinha, esperando seu filho chegar...


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Estou sabendo que não estou sabendo mais. Que a minha alma está em antigos carnavais. Que não chegam mais notícias lá das Gerais. Que agora quebraram todos os cristais. Na hora do tombo também chegaram novos temporais. E que a vida lá fora está com malvados sinais. Tudo o que havia agora não tem atrás. O bem e o mal são amigos e não rivais. Agora todas as mentiras são iguais. 


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Um ar morno nos envolve. Morno e tão enjoativo! Talvez como as flores que oferecemos aos mortos. Como dias que nos cansamos e nem queríamos acordar. Um ar que se repete quase sempre nesses meus dias. As fábricas também exalam seu mau-cheiro. Parecem crematórios e neles são queimadas as ilusões dos oprimidos. Um ar morno nos envolve...


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Nesse dia. Onde o desespero veio me visitar. Onde as nuvens cinzas cobriram minha cabeça como um véu de carpideiras. Como um canto de bacurau mesmo sem noite. O barulho das ondas não teve pena de mim...  

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