sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Até Lá...

Até lá nada haverá...

Talvez um solo da orquestra sanfônica

Ou ainda o aparelho nos dentes de Mônica

Ou aquele seu penteado de tranças pra cima

Podre dessa minha eterna pobre falta de rima...


Até lá nada haverá...

Talvez a minha alegria que passe de galope

Ou talvez a verdade que venha de envelope

Ou essa maré que vive teimando de encher

Desculpe ontem na rua não vi que era você...


Até lá nada haverá...

Talvez Sansão que deu um pulo lá no barbeiro

Ou o cara mais honesto que faz tudo por dinheiro

As Marias não são mais três agora são quatro

E essa cara de feliz que tentei no meu retrato...


Até lá nada haverá...

Talvez o chiclete que eu masquei sem ver o gosto

Ou os dias que conto rezando até que chegue agosto

Papai Noel toma coca-cola porque está muito calor

E isso está no script pois foi o patrão quem mandou...


Até lá nada haverá...

Talvez um pagode de sucesso com a mesma letra

Ou mostrar toda a radicalidade cheia de cor neutra

E agora só moraremos se forem em Torres de Babel

Não há mais espaço no Inferno que muitos dizem céu...


Até lá nada haverá...

Talvez a caça agora pense que ela é o caçador

Ou  que cada jornal seja mais um filme de horror

Isso faz bem para a nossa insistente morbidez

Ou ainda para nossa tão crônica insensatez...


Até lá nada haverá...

Talvez o mundo seja acabado por muitas chamas

Ou dê pane em todos os nossos efêmeros programas

Os senhores donos de todo mundo já enlouqueceram

Ou as paredes não aguentaram e todas elas morreram...


Até lá nada haverá...

Até lá nada de novo haverá...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...