Até lá nada haverá...
Talvez um solo da orquestra sanfônica
Ou ainda o aparelho nos dentes de Mônica
Ou aquele seu penteado de tranças pra cima
Podre dessa minha eterna pobre falta de rima...
Até lá nada haverá...
Talvez a minha alegria que passe de galope
Ou talvez a verdade que venha de envelope
Ou essa maré que vive teimando de encher
Desculpe ontem na rua não vi que era você...
Até lá nada haverá...
Talvez Sansão que deu um pulo lá no barbeiro
Ou o cara mais honesto que faz tudo por dinheiro
As Marias não são mais três agora são quatro
E essa cara de feliz que tentei no meu retrato...
Até lá nada haverá...
Talvez o chiclete que eu masquei sem ver o gosto
Ou os dias que conto rezando até que chegue agosto
Papai Noel toma coca-cola porque está muito calor
E isso está no script pois foi o patrão quem mandou...
Até lá nada haverá...
Talvez um pagode de sucesso com a mesma letra
Ou mostrar toda a radicalidade cheia de cor neutra
E agora só moraremos se forem em Torres de Babel
Não há mais espaço no Inferno que muitos dizem céu...
Até lá nada haverá...
Talvez a caça agora pense que ela é o caçador
Ou que cada jornal seja mais um filme de horror
Isso faz bem para a nossa insistente morbidez
Ou ainda para nossa tão crônica insensatez...
Até lá nada haverá...
Talvez o mundo seja acabado por muitas chamas
Ou dê pane em todos os nossos efêmeros programas
Os senhores donos de todo mundo já enlouqueceram
Ou as paredes não aguentaram e todas elas morreram...
Até lá nada haverá...
Até lá nada de novo haverá...
(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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