domingo, 29 de setembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 301

O tempo sai correndo, menino assustado, bicho arisco. Vai até as estrelas, acaba se cansando e volta. Mede, não mede. Erra, não erra. Faz, não faz. É pedra, não é. É pluma, nunca foi. Escuto seus passos na calçada, nem percebo. O vejo no espelho, não vejo nada. O novo que envelheceu, o velho que teimou em ficar ainda novo. O tempo sai correndo, menino arisco, bicho assustado.


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Eram pegadas, sim, eram pegadas. De um bicho estranho, muito esquisito, que andava sem saber o porquê, nem onde. Era por preguiça que se cansava, até que exausto, andasse mais, muito mais. Era valente, por ser covarde; de tanto ser mau, acabava sendo bom. Usava máscara, usava algumas. Para embelezar seu rosto, seu pobre rosto que mais feio ainda ficava. Sentia fome, muita fome, depois de um tempo que comia, a fome voltava. E a sede? Agia de igual forma, atormentando-o. Tinha sono, medo, dor, desejo, e sobretudo, sentia-se sozinho, por ser tão igual, mas assim mesmo, tão diferente. Teve começo, teria um fim; aquele soubemos, esse não. Eram pegadas, sim, eram pegadas. Espécie única, espécie rara - eu.


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Até o nada tem beleza. Não existe para quem não olha. Milhares de extensão de um grande vazio terno. Como foi antes que existisse algum tempo. Era um eterno e terno descanso. Sem cor e sem dor alguma. Inscrições antigas e indecifráveis, impossíveis de se ler. Não havia porque ler, nem olhos haviam. Até que - milagre - aconteceu algo, alguma coisa e nasceu o primeiro de todos os choros...


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Como os pombos e algumas outras aves - cato as migalhas de sonhos. Nesta grande praça do mundo, diariamente, esperando a misericórdia ou descuido de quem passa. Esqueço que tenho asas e navego o chão. Quase não olho o sol quente ou a chuva fina que cai. Talvez um gato me cace ou um carro me atropele. E aí foi apenas, mais um pombo...


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Nada do que eu faça vai até as estrelas. Nada do que peço segura o mar. Nada do que eu ore alguém escuta. Nada do que me acalente sossega o mar. Eu sou o solitário que passeia de drone. O drone falhará e eu cairei. Tentei conhecer a vida e da vida nada sei. Podem me perguntar e nada responderei. A boca se fechou até o fim do mundo. Não valho nada e nem um segundo. Quero trabalhar e sou vagabundo. Queria trabalhar e sou um mendigo. Queria voar e cprro perigo...


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Crueldade em letras garrafais, o menos e o mais. Indecisões de domingos solitários. As palavras apenas se escondem. Eu só tenho aquilo que tenho, o resto foi embora pela corrente. Era um rio, hoje secou e nem chegou ao mar. De todos os viventes, o mais desesperado, assim sou, está lá no script, ninguém pode mudar. Palcos cheios, plateias vazias. O que temos de melhor é o que temos de pior. Nosso sangue vai na contramão. Nossa dor não tem pressa, nem de chegar e nem de partir. Alguns falam de pequenidades e eu de desnecessidades...


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A água mudou de cor devido ao tempo, está parada, evaporando somente um pouco, um pouco. As folhas amarelaram e depois caíram, agora o chão, sabe-se lá até quando, até serem recolhidas e mais nada. A poeira pousou sorrateiramente sobre os móveis até encobri-los com sua mortalha fugaz. O metal foi se enferrujando devido à maresia e logo, logo, desabará em pequenos fragmentos. As fotos perderão todo seu sentido, os modelos não mais estarão lá. Só o tempo permanece, entretido em seus segundos no velho relógio, mas nunca saberemos até quando...

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Até Lá...

Até lá nada haverá...

Talvez um solo da orquestra sanfônica

Ou ainda o aparelho nos dentes de Mônica

Ou aquele seu penteado de tranças pra cima

Podre dessa minha eterna pobre falta de rima...


Até lá nada haverá...

Talvez a minha alegria que passe de galope

Ou talvez a verdade que venha de envelope

Ou essa maré que vive teimando de encher

Desculpe ontem na rua não vi que era você...


Até lá nada haverá...

Talvez Sansão que deu um pulo lá no barbeiro

Ou o cara mais honesto que faz tudo por dinheiro

As Marias não são mais três agora são quatro

E essa cara de feliz que tentei no meu retrato...


Até lá nada haverá...

Talvez o chiclete que eu masquei sem ver o gosto

Ou os dias que conto rezando até que chegue agosto

Papai Noel toma coca-cola porque está muito calor

E isso está no script pois foi o patrão quem mandou...


Até lá nada haverá...

Talvez um pagode de sucesso com a mesma letra

Ou mostrar toda a radicalidade cheia de cor neutra

E agora só moraremos se forem em Torres de Babel

Não há mais espaço no Inferno que muitos dizem céu...


Até lá nada haverá...

Talvez a caça agora pense que ela é o caçador

Ou  que cada jornal seja mais um filme de horror

Isso faz bem para a nossa insistente morbidez

Ou ainda para nossa tão crônica insensatez...


Até lá nada haverá...

Talvez o mundo seja acabado por muitas chamas

Ou dê pane em todos os nossos efêmeros programas

Os senhores donos de todo mundo já enlouqueceram

Ou as paredes não aguentaram e todas elas morreram...


Até lá nada haverá...

Até lá nada de novo haverá...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 300

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O Silêncio dos Indecentes

O velho (novo) PC no canto da sala.

Cortinas quase coloridas imóveis.

A minha teimosia é um rato num labirinto.

Rogo pragas como quem masca chicles.

Seu sabor já foi faz tempo e só sobrou o amargo.

Sonho às vezes com velas e andanças.

Em palavras de desespero minha marca registrada.


O sono é o maior de todos os meus inimigos.

Eu não consegui ver a luz do farol na tempestade.

Talvez um copo de cerveja ou talvez quase não.

As legiões não cantam mais canções de guerra.

A maldade agora apenas gosta de apertar botões.

Existem tantos sorrisos atrás de cada óculos.

Os cinemas agora estão mais totalmente vazios.


Escondido sob a cama eu lia Carlos Zéfiro.

Debaixo das cobertas eu fazia meus castelos.

Vão-se os dedos e ficam os anéis de Saturno.

Ainda posso decidir quais maiúsculas e minúsculas.

Roubar cocos ainda continua sendo uma arte.

Nos fins-de-semana piqueniques nos escritórios.

A dança da chuva se atrasou e já está chegando.


Bebo e não négo e pararei logo que puder.

Eu só passo mal em um dia sim e no outro também.

Outro dia irei na feira do bairro comprar robôs.

Para cada castigo todo corno é muito pouco.

Meu amor agora não vale nem dez centavos.

Todo começo é o fim que não foi esperado.

Cada um se perde com aquilo que quer.


Interminável um dia foi todo esse meu desejo.

Agora brevidades não são só comestíveis.

Dropes de anis agora para todos os elefantes.

A lei da gravidade é a mais cumprida de todas.

Até o amarelo acabou amarelando de susto.

Todos vamos brincando de pique com a morte.

Estamos todos em silêncio até gritando...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 299


Geralmente geral. Política do bom rebanho gordo. Excentricidades bem aceita. Um festival de calorosos acenos. A maldade (sobretudo ela) usa máscaras inocentes. Água envenenada e límpida. Manhãs calmas herdeiras de uma madrugada sangrenta. Sem testemunhas para seus ardis. Crimes para serem esquecidos. Nada imoral. Tudo amoral. Teorias e teoremas brincando de roda. Camuflagens baratas e quase eficientes. A pedra atingiu em cheio o vidro da janela...


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Ajeitem suas toalhas, acendam suas velas. Um dia já é suficiente para a morte, mas de um, nem me fale. A maçã de Eva tinha agrotóxico, A impressora estava acanhada demais. Vai aí um pedaço? Quanto mais desastres, melhor. Tudo acaba em bundalelê, isso sim. Toda boa intenção é aparecer, todo talento é tentativa de fama. Ninguém encena peça para plateia vazia, ninguém grita no deserto. Queremos mais uma dose de cana, caprichada, isso sim. Mandem o moleque trazer seus doces rápido. Guardem suas toalhas, apaguem suas velas.


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Até a memória mofa, mofa sim. Toda importância é desproporcional ao tempo da espera. A paixão e amor revezam seus papéis. Duas meia dúzias tornaram-se parceiras e viraram uma dúzia. Os tolos estão viciados nela. Migalhas alegram os pombos, mas os miseráveis também. Os gatos cagam nos jardins, sua normalidade assim permite. Meia-noite estaremos nas encruzilhadas. Meio-dia é hora do cochilo após o almoço. Sabe como é, baby? Eu tento conservar a minha fama de mau aluno, mesmo não sendo. Faço façanhas fatídicas, gosto de passear no Himalaia comendo torradas com geleia. Um dia sambarei com os esqueletos. Até a memória mofa, mofa sim...


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Cometi todos os pecados, cometi sim. Mas nenhum crime, isso não. Cometi o pecado de pensar, esse cometi. Querendo saber a razão de que os tolos dizem possuir. Cometi o pecado de me alegrar com coisas simples, esse cometi. Reverenciei as simplicidades de flores sem nome, de jardins sem cuidado. De admirar nuvens que logo cairão sobre a terra. Cometi o pecado de não querer ser apenas mais um. Olho no espelho todas as manhãs sem medo de cada ruga nova que fatalmente aparece. Aceito minha loucura, não como minha inimiga, mas como minha aliada para poder atravessar a tempestade que chamamos vida. Cometi todos os pecados, cometi sim. Mas nenhum crime, isso não!


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Tudo não passa de nomes. Palavras, isso sim. Algumas gravadas, outras faladas, outras fadadas ao eterno silêncio. Os mesmos átomos de bilhões de anos, estes permanecem. Até quando? Não sabemos. Transformados sim, mas presentes. O resto? O resto talvez alguém preserve para nós numa velha lápide ou num site que ainda permanece on,,,


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Minhas mãos falam mais que minha boca. Meus pés conhecem mais do que minha mente. Meu coração é mais eterno do que minha alma. Eu sou uma mistura malfeita de várias eternidades passageiras. Cada ruga em meu rosto testemunha minha sobrevivência. Cada mancha nova no espelho um desafio inesperado. Cada inseto na parede um novo herói de uma epopeia. E se ele voa em volta da lâmpada é mais um guerreiro que nada teme...


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Numa velha gaveta guardei desejos e segredos, guardei perigos, guardei sonhos que só permanecerão para dor minha em não realizá-los. É uma gaveta comum, mais para pequena do que para média ou grande, mas lá tudo cabe. De vez em quando me atrevo, abro-a e acabo me deleitando com cada insatisfação que tive, assim como quem tem pesadelos, mas mesmo assim, não quer acordar...


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Estado natural de coisas, até que alguém inverta subvertendo a lógica e tudo bem. Vamos acender logo essa fogueira, eu quero dançar dentro dela! De preferência acesa no fundo do mar... Vamos dar um passeio bem legal entre as nuvens? Trouxe para você um par de asas de reserva... Quero fazer um discurso em meio ao temporal! De preferência de madrugada, de madrugada... Andemos totalmente nus daqui até a próxima praça! Ninguém vai ver, somos invisíveis... Estado natural das coisas, sonhar e delirar, sempre...

domingo, 22 de setembro de 2024

HQ de Ontem

Desenhos desanimados

Amizade colorida sem cor

Um passado violento

Que vive pedindo perdão

Sob a forma de desculpa

Não queremos seus farrapos...


Covas semiabertas

Dedos apontados para o nada

O que feriu foi por querer

Toda estatística canalha

Finge seus desmaios

Até que a morte não separe...


Esquizofrenia vitoriana

Perversões históricas

O trem de ferro enferrujou

São tantas as Marias

Para tão poucos Josés

E um pedaço de pão velho...


O passado é o fantasma

Que engoliu o presente

Que quer matar o futuro

Capricha nas lições de casa

Pois os porcos no chiqueiro

Ainda reclamam por pérolas...


Sonetos perdidos do avô

Tamancos para os calos

Centopeias mais caseiras

Gritos no fundo do quintal

Grilos trancados em gavetas

O longo que temos mais breve...


Uma praga feito benção

Sangue correndo sem veias

Dois tiros e uma corrida

Beijos na boca fatídicos

Desastres com falsa comoção

Os pedreiros comeram pedra...


As contradições no varal

A perfeição é obra do acaso

A preguiça se esforça

Levante-se para poder cair

As bolas são quadradas

E os desenhos desanimados...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Fazendo Macarrão Quase Meia-Noite

 

Miserável, miserável, etílica, desgraçada,

Essa hora caída num pano sujo,

Roncando e babando no canto da boca,

Os mosquitos em bando te comendo

Nessa pocilga que um dia casa foi...


Destino, destino, inseto morto na parede,

Rato dando um rolé pelos esgotos,

A nova Hollywood de todos os miseráveis,

Tudo não vale aquilo que sempre vale,

Sou um cego dando tiros no escuro...


Porrada, porrada, a cara já se acostumou,

Por não ser nada é que eu sou tudo isso,

O cigarro aceso no canto da boca da puta,

Disputando lugar com o chicle já sem gosto,

Ambos beijarão o asfalto logo em breve...


Apodrecendo, apodrecendo, cada instante,

Grande guerra sem um disparo sequer,

Minha morbidez é apenas um cavalo de Troia, 

Inventaremos um nome para a nova tristeza,

Assim como um prato inédito de restos de comida...


Camaleão, camaleão, pura tática de guerrilha,

Por um prato de comida vendemos nossa alma,

Por um copo d'água perdemos toda nossa razão,

Versos novos feitos de papel higiênico

E um otimismo feito aos mancos e barrancos...


Saltimbanco, saltimbanco, chegará a sua vez,

A água vai poder então esfriar da panela,

Não haverá mais nenhuma barriga para encher,

Tanto fará a estação em que estivermos,

Não haverão mais macarrões á meia-noite...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 21 de setembro de 2024

Instintos Básicos

Mode on. 

O beijo de dois seres. 

Na boca. Parado. Congelado.

A nulidade dos outros.

Quem saberia? Enfim.

São alucinações lúcidas.

(Pergunte ao famoso e ele dirá).

Toda lascívia inocente.

Meio minuto de perdão.

Muralhas em tempos idos.

Batalhões enfileirados.

Tudo é quase brincadeira.

Já faz tempo que não respiro.

Posso economizar palavras?

Todas perguntas são respostas.

Eu quase inventei o novo.

Com cuidado morro mais.

O louco nunca foi.

Desisti de ir ao cinema.

Continuo voando por aí sempre.

Esqueci meu cocar e a coca.

A faxineira estava de folga hoje.

Essa aguardente tem colar.

E esse vinho é do bom.

É namastê ou é saravá?

Tanto brasileiro quanto latino.

Quatro colheres salvam o paciente.

E minhas mãos gritam solfejos.

Vamos ganhar balas de coma.

E muitos chicletes de anis.

Corte logo esse baralho.

Estou quase nas nuvens.

Fui convidado para meu enterro.

Quer saber? Ou não?

Tenho um átomo à menos.

Fatídico. Enfadonho. Enfadado.

Muitas cervejas em outros tempos.

Nossa maratona é de costas?

Muralhas de papel glacê.

Um letra muda tudo.

Um divã para divagar.

Quase não falo grego arcaico.

Os bailes do Oriente se acabaram.

Quem perdeu já perdeu.

A cena erótica está desfocada.

Na nossa lista existem poucas coisas.

Bezerros de ouro do Paraguai.

São anomalias de família.

Como um teste driver rotineiro.

Só conheço o que desconheço.

Meus sábados são de pura sacanagem.

E os domingos para chorar.

Quem aí tem a chave?

Vamos assistir velhos seriados.

Possesso, Sem posse. Possuído.

Só um bom uísque para nos refrescar!

Quem não tem pecado dance a rumba.

Ela sentou no meu colo.

E eu acabei urrando de felicidade.

Santo é que morre de promessa.

Cada nome é uma fronteira,

Cenas idílicas de campos de batalha.

Eu só quero o que ninguém quer.

Fizemos moqueca de arraia com sabão.

A direita não faz nada direito.

Dois dedos podem salvar o mundo.

Como é indigesto esse meu gesto.

Casinha de cachorro. Balaio de gato.

O simples é mais complicado.

Vai graxa aí meu patrão?

O pé da cadeira está engessado.

Eu sou o mais tolo dos homens!

O macaco hoje está um caco.

As sardinhas salvarão o mundo.

Isso foi feito aqui no exterior.

Ainda o beijo de dois seres.

Mode off...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

E O Poeta Morre...

E o poeta morre...

Quando a palavra falha

Quando corre da batalha

Quando beija o fio da navalha...


Sei que morrer também é ofício

Mas então voemos do precipício...


E o poeta morre...

Quando dá a cara à tapa

Quando da paixão não escapa

Quando se esconde sob a capa...


Sei que viver também é sacrifício

Como um improviso num comício...


E o poeta morre...

Quando se afoga no rio

Quando se enche de vazio

Quando grita sem dar um pio...


Sei que morrer é só um orifício

E que não teimar é um desperdício...


E o poeta morre...

E ninguém mais o socorre...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Os Baiões

Todas as sextas são sábados

E pecados de família são eternos

Debaixo do angu estão as carnes

E até os esqueletos usam ternos...


Olha o baião de um!

Quem não tem nada e nenhum...


A pichação lambendo a parede

Só comemos em pratos de terracota

Eu não estudei pra prova de fogo

Mas os meus berros ninguém nota...


Olha o baião de dois!

No paraíso tem feijão com arroz...


Bonita é essa tua cara lambida

Que na foto triste e tão debochada

Em sonhos vejo águas que não têm

Pesadelos chegou a vez da escada...


Olha o baião de três!

Pago agora só pago final do mês...


Acabou de morrer a rosa do povo

Os tolos sempre serão os primeiros

Nem sei mais aquilo que faço

Meu preço agora é trinta dinheiros...


Olha o baião de quatro!

A vida nunca será um teatro...


Agora a moda é quem manda

Não há explicação para o explicado

Queremos só o que não queremos

O gato só tem medo do telhado...


Olha o baião de cinco!

Não tem mais barracão de zinco...


Cada um que dance apenas sozinho

Mesmo que seja no meio da multidão

A alegria não precisa de motivos

Assim como não precisa a compaixão...


Olha o baião de seis!

Já estou cansado volto ao um outra vez...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 298

Busco meu coração de volta

Como quem perdeu o que não perdeu

Faço questão de mais nada

Como quem pisa em pedaços de vidro

Percorro todas as ruas do país

Igual quem é dono de todo tempo

A luz agora só pode incomodar

Aos insetos então em torno da lâmpada

Bato palmas nos portões das casas:

Alguém viu um coração por aí?


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Não se importo com esse som

Com o barulho dos meus pés na lama do tempo

Foi sem querer todos os pecados que cometi

Não espere mais de um cão que só ladra

Só morrerei na hora certa do incerto

Cigarros acesos são apenas um risco

Mas o maior de todos existentes é amar...


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Eu queria, eu juro que queria

Chamar tua nudez de outro nome

Cobri-la de uma vez com nuvens

Ou seria melhor com água límpida

De algum riacho por aí?

Com algum cristal mais brilhante

Que consiga roubar do sol?

Eu queria, juro que queria

Chamar tua nudez de outro nome

Posso chamá-la de fascínio?


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Um. Dois, Três.

Cada passo bem contado

Como formiguinhas em marcha.

Na verdade, é o que somos.

As estações se sucedem

Sem pena alguma de nós.

Todas as fábulas mentem...


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As gaiolas estão abertas.

Elas nunca tiveram portas.

Os pássaros podem voar.

Mas o medo os limita.

Todos têm medo dos céus.

Esses somos nós, sempre...


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Todas as fomes são iguais

A fisiologia tem lá seus caprichos

Mesmo em suas curvas

Os rios vão para o mesmo lugar

Águas brincam subindo e descendo

Enquanto ricos e miseráveis

Acabam parando de respirar...


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Desculpem poetas:

Meus carnavais não possuem

Fantasias bonitas e bem enfeitadas.

Meus amores são tão trágicos

Quanto um tango argentino.

Minha mente imagina

Mas acaba duvidando de tudo.

Eu não bardo algum de canções

Que possuem a habilidade dos gênios:

Eu sou apenas um triste

Que só possui palavras...

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

É Quando Faltam Pesadelos...

É quando faltam até pesadelos

Que começamos então a entender

Que a única coisa que tem tamanho

São esses nossos pobres olhos...


Que a estética é uma piada de mau-gosto...


É quando a alma está vazia

E a barriga está mais vazia ainda

Que percebemos um fraco indício

Que é tudo da mesma natureza...


Que a moda é a maior das desnecessidades...


É quando o amor viras as costas e parte

Que entendemos o fatalismo do gostar

E que se dá certo ou se nunca vai dar

É como tentar fechar os olhos para o sol...


Que a estatística é uma brincadeira malvada...


É quando a covardia morre na sala de parto

Que descobrimos mesmo que tarde demais

Que o bem e o mal são irmãos gêmeos

E que a escolha só depende de cada um...


Que os dias não possuem piedade alguma...


É quando engolimos de uma vez o relógio

E damos play na cena que estava parada

Que descobrimos que somos o próprio tempo

E que desistir não é para a nossa teimosia...


Que a eternidade só necessita de um segundo...


É quando faltam até pesadelos

Que começamos então a entender

Que a única coisa que tem precisão

São esses nossos pobres olhos...


(Extraído da obra "Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Declaratio

A vela é longa, curto é o pavio,

Eu quero ir embora, tou sentido frio,

É assim mesmo, me enche um vazio,

Não vou pra Catende, estou aqui no Rio...


Estou aqui no Rio numa rua que não ando,

Sofrer é pior quando estamos esperando...


A vela é longa, o fogo é breve,

Só a dor é que a tudo se atreve

Pois há calor mesmo quando cai neve

E aqui só paga quem nada tem ou deve...


Nada tem ou deve eis o nosso destino,

Toda seriedade é apenas um desatino...


A vela é longa, fraca é a sua chama,

Babaca aqui é todo aquele que ama,

Estamos pagando qualquer preço pela fama,

Colocamos os pregos e deitamos na cama...


Deitamos na cama para um sono nada eterno,

Na beira do abismo: Viva o que é moderno!...


A vela é longa, curta é a minha declaração,

Não sei se falo um sim ou se falo um não,

Se bato as minhas asas ou pego um avião,

Pois para nascer ou morrer tudo tem certidão...


Estou aqui no Rio numa rua que não ando,

Sofrer é pior quando estamos sonhando...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 15 de setembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 297

Num estalo de dedos

Num piscar de olhos

Os segundos que desaparecem

Uma nuvem passando

Um olhar desviado

Um raio de sol extinto

Nossa vida acabando...


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Repito quase tudo quase sempre

Os rios enganam parecendo os mesmos

Espero as mesmas coisas ansioso

Mesmo desconhecendo se chuva ou sol

O doce e o amargo às vezes confundem

Tenho medo de escadas quando acordado

Mas dormindo faço inúmeros voos tão reais...


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Não há mais pássaros aqui

O dia trouxe todos eles

E agora a noite acabou levando

Antes o sol brilhava em festa

Agora a lua está em quase luto

Espero dormir profundamente

Enquanto mais um dia envelhecido...


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Todo sonho tem um quê de real

As nossas mãos conseguem pegar o ar

O nosso riso supera a tristeza

Mesmo sozinho acompanho eu mesmo

Não sei onde minha loucura para

Agora só conheço os meus versos

E o amor que nem tive supera a morte


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O efêmero e o eterno se confundem

O que passou marca para sempre

Nossas cicatrizes ainda continuam lá

Toda dor e toda alegria dançam 

O bem e o mal caminham pelo mundo

Vida e morte ainda continuam seu namoro...


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Repito as mesmas palavras

Xingo com a mesma intensidade

O quase entrou em minhas entranhas

Como um espinho ferindo a carne

Quero aquilo que sempre quis

Desistir não é para os fracos

Desistir é para os que são fortes...


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Estático estava

Estático permaneceu

Não olhou o relógio

E nada mais disse

Malvado amor

Que quer que eu crie asas

E alce então mais um voo...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 296

Naturalmente não sei mais nada

Conto as moedas que não tive

Apenas com esse meu desespero

Recorto todas as recordações

Com a tesoura cega do tempo

Sem esperar surpresa nenhuma...


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Queria eu estar numa caverna

Escondido de toda essa maldade

Perdida estaria a noção de tempo

E o resultado do jogo não importasse

Queria eu perder todo o controle

E risse até que chegasse o cansaço

Um certo cansaço bem menos pior

Do que o de correr atrás de sonhos...


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Com todo cuidado possível

Dobrei um velho papel amarelado

E o transformei - num pequeno barco

Escolhi o riacho que fosse calmo

E nele coloquei minhas esperanças

Mas veio um vento forte - ele afundou...


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Não sei onde estás nesse momento

(Quando muito, apenas imagino)

Manhãs de domingos mais miseráveis

(Eu falo aquilo que quero!)

Ou ainda nem dormiu de sábado

(Estarás bêbada, drogada ou ambas)

Ou dormirás outro sono medíocre

(Na mediocridade que escolheste...)


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Eu pego o medo com as mãos

Como quem pega um pequenino inseto

Entre meus dedos ele tenta fugir

Mas em minha inocente maldade

Eu acabo não deixando que consiga

Não terá tempo de bater suas asas

Eu não quero matá-lo quero brincar

Que depois ele então vá embora

E me deixe por aqui - pior que o medo...


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Eu sou pior que o pior do pior

Mastigo as palavras e cuspo-as

Só pararei quando na minha lápide

Alguém um dia assim escrever:

"Ele estava aqui, agora não está mais"...


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A primeira foi por raiva 

A segunda nem lembro (O tempo apagou...)

Depois chegou feito um vício

E muitas se perderam pelos caminhos...

As últimas são de puro desespero

Como um palhaço que ninguém ri...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...