sexta-feira, 20 de setembro de 2024

E O Poeta Morre...

E o poeta morre...

Quando a palavra falha

Quando corre da batalha

Quando beija o fio da navalha...


Sei que morrer também é ofício

Mas então voemos do precipício...


E o poeta morre...

Quando dá a cara à tapa

Quando da paixão não escapa

Quando se esconde sob a capa...


Sei que viver também é sacrifício

Como um improviso num comício...


E o poeta morre...

Quando se afoga no rio

Quando se enche de vazio

Quando grita sem dar um pio...


Sei que morrer é só um orifício

E que não teimar é um desperdício...


E o poeta morre...

E ninguém mais o socorre...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Os Baiões

Todas as sextas são sábados

E pecados de família são eternos

Debaixo do angu estão as carnes

E até os esqueletos usam ternos...


Olha o baião de um!

Quem não tem nada e nenhum...


A pichação lambendo a parede

Só comemos em pratos de terracota

Eu não estudei pra prova de fogo

Mas os meus berros ninguém nota...


Olha o baião de dois!

No paraíso tem feijão com arroz...


Bonita é essa tua cara lambida

Que na foto triste e tão debochada

Em sonhos vejo águas que não têm

Pesadelos chegou a vez da escada...


Olha o baião de três!

Pago agora só pago final do mês...


Acabou de morrer a rosa do povo

Os tolos sempre serão os primeiros

Nem sei mais aquilo que faço

Meu preço agora é trinta dinheiros...


Olha o baião de quatro!

A vida nunca será um teatro...


Agora a moda é quem manda

Não há explicação para o explicado

Queremos só o que não queremos

O gato só tem medo do telhado...


Olha o baião de cinco!

Não tem mais barracão de zinco...


Cada um que dance apenas sozinho

Mesmo que seja no meio da multidão

A alegria não precisa de motivos

Assim como não precisa a compaixão...


Olha o baião de seis!

Já estou cansado volto ao um outra vez...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 298

Busco meu coração de volta

Como quem perdeu o que não perdeu

Faço questão de mais nada

Como quem pisa em pedaços de vidro

Percorro todas as ruas do país

Igual quem é dono de todo tempo

A luz agora só pode incomodar

Aos insetos então em torno da lâmpada

Bato palmas nos portões das casas:

Alguém viu um coração por aí?


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Não se importo com esse som

Com o barulho dos meus pés na lama do tempo

Foi sem querer todos os pecados que cometi

Não espere mais de um cão que só ladra

Só morrerei na hora certa do incerto

Cigarros acesos são apenas um risco

Mas o maior de todos existentes é amar...


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Eu queria, eu juro que queria

Chamar tua nudez de outro nome

Cobri-la de uma vez com nuvens

Ou seria melhor com água límpida

De algum riacho por aí?

Com algum cristal mais brilhante

Que consiga roubar do sol?

Eu queria, juro que queria

Chamar tua nudez de outro nome

Posso chamá-la de fascínio?


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Um. Dois, Três.

Cada passo bem contado

Como formiguinhas em marcha.

Na verdade, é o que somos.

As estações se sucedem

Sem pena alguma de nós.

Todas as fábulas mentem...


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As gaiolas estão abertas.

Elas nunca tiveram portas.

Os pássaros podem voar.

Mas o medo os limita.

Todos têm medo dos céus.

Esses somos nós, sempre...


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Todas as fomes são iguais

A fisiologia tem lá seus caprichos

Mesmo em suas curvas

Os rios vão para o mesmo lugar

Águas brincam subindo e descendo

Enquanto ricos e miseráveis

Acabam parando de respirar...


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Desculpem poetas:

Meus carnavais não possuem

Fantasias bonitas e bem enfeitadas.

Meus amores são tão trágicos

Quanto um tango argentino.

Minha mente imagina

Mas acaba duvidando de tudo.

Eu não bardo algum de canções

Que possuem a habilidade dos gênios:

Eu sou apenas um triste

Que só possui palavras...

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

É Quando Faltam Pesadelos...

É quando faltam até pesadelos

Que começamos então a entender

Que a única coisa que tem tamanho

São esses nossos pobres olhos...


Que a estética é uma piada de mau-gosto...


É quando a alma está vazia

E a barriga está mais vazia ainda

Que percebemos um fraco indício

Que é tudo da mesma natureza...


Que a moda é a maior das desnecessidades...


É quando o amor viras as costas e parte

Que entendemos o fatalismo do gostar

E que se dá certo ou se nunca vai dar

É como tentar fechar os olhos para o sol...


Que a estatística é uma brincadeira malvada...


É quando a covardia morre na sala de parto

Que descobrimos mesmo que tarde demais

Que o bem e o mal são irmãos gêmeos

E que a escolha só depende de cada um...


Que os dias não possuem piedade alguma...


É quando engolimos de uma vez o relógio

E damos play na cena que estava parada

Que descobrimos que somos o próprio tempo

E que desistir não é para a nossa teimosia...


Que a eternidade só necessita de um segundo...


É quando faltam até pesadelos

Que começamos então a entender

Que a única coisa que tem precisão

São esses nossos pobres olhos...


(Extraído da obra "Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Declaratio

A vela é longa, curto é o pavio,

Eu quero ir embora, tou sentido frio,

É assim mesmo, me enche um vazio,

Não vou pra Catende, estou aqui no Rio...


Estou aqui no Rio numa rua que não ando,

Sofrer é pior quando estamos esperando...


A vela é longa, o fogo é breve,

Só a dor é que a tudo se atreve

Pois há calor mesmo quando cai neve

E aqui só paga quem nada tem ou deve...


Nada tem ou deve eis o nosso destino,

Toda seriedade é apenas um desatino...


A vela é longa, fraca é a sua chama,

Babaca aqui é todo aquele que ama,

Estamos pagando qualquer preço pela fama,

Colocamos os pregos e deitamos na cama...


Deitamos na cama para um sono nada eterno,

Na beira do abismo: Viva o que é moderno!...


A vela é longa, curta é a minha declaração,

Não sei se falo um sim ou se falo um não,

Se bato as minhas asas ou pego um avião,

Pois para nascer ou morrer tudo tem certidão...


Estou aqui no Rio numa rua que não ando,

Sofrer é pior quando estamos sonhando...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 15 de setembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 297

Num estalo de dedos

Num piscar de olhos

Os segundos que desaparecem

Uma nuvem passando

Um olhar desviado

Um raio de sol extinto

Nossa vida acabando...


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Repito quase tudo quase sempre

Os rios enganam parecendo os mesmos

Espero as mesmas coisas ansioso

Mesmo desconhecendo se chuva ou sol

O doce e o amargo às vezes confundem

Tenho medo de escadas quando acordado

Mas dormindo faço inúmeros voos tão reais...


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Não há mais pássaros aqui

O dia trouxe todos eles

E agora a noite acabou levando

Antes o sol brilhava em festa

Agora a lua está em quase luto

Espero dormir profundamente

Enquanto mais um dia envelhecido...


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Todo sonho tem um quê de real

As nossas mãos conseguem pegar o ar

O nosso riso supera a tristeza

Mesmo sozinho acompanho eu mesmo

Não sei onde minha loucura para

Agora só conheço os meus versos

E o amor que nem tive supera a morte


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O efêmero e o eterno se confundem

O que passou marca para sempre

Nossas cicatrizes ainda continuam lá

Toda dor e toda alegria dançam 

O bem e o mal caminham pelo mundo

Vida e morte ainda continuam seu namoro...


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Repito as mesmas palavras

Xingo com a mesma intensidade

O quase entrou em minhas entranhas

Como um espinho ferindo a carne

Quero aquilo que sempre quis

Desistir não é para os fracos

Desistir é para os que são fortes...


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Estático estava

Estático permaneceu

Não olhou o relógio

E nada mais disse

Malvado amor

Que quer que eu crie asas

E alce então mais um voo...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 296

Naturalmente não sei mais nada

Conto as moedas que não tive

Apenas com esse meu desespero

Recorto todas as recordações

Com a tesoura cega do tempo

Sem esperar surpresa nenhuma...


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Queria eu estar numa caverna

Escondido de toda essa maldade

Perdida estaria a noção de tempo

E o resultado do jogo não importasse

Queria eu perder todo o controle

E risse até que chegasse o cansaço

Um certo cansaço bem menos pior

Do que o de correr atrás de sonhos...


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Com todo cuidado possível

Dobrei um velho papel amarelado

E o transformei - num pequeno barco

Escolhi o riacho que fosse calmo

E nele coloquei minhas esperanças

Mas veio um vento forte - ele afundou...


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Não sei onde estás nesse momento

(Quando muito, apenas imagino)

Manhãs de domingos mais miseráveis

(Eu falo aquilo que quero!)

Ou ainda nem dormiu de sábado

(Estarás bêbada, drogada ou ambas)

Ou dormirás outro sono medíocre

(Na mediocridade que escolheste...)


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Eu pego o medo com as mãos

Como quem pega um pequenino inseto

Entre meus dedos ele tenta fugir

Mas em minha inocente maldade

Eu acabo não deixando que consiga

Não terá tempo de bater suas asas

Eu não quero matá-lo quero brincar

Que depois ele então vá embora

E me deixe por aqui - pior que o medo...


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Eu sou pior que o pior do pior

Mastigo as palavras e cuspo-as

Só pararei quando na minha lápide

Alguém um dia assim escrever:

"Ele estava aqui, agora não está mais"...


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A primeira foi por raiva 

A segunda nem lembro (O tempo apagou...)

Depois chegou feito um vício

E muitas se perderam pelos caminhos...

As últimas são de puro desespero

Como um palhaço que ninguém ri...

sábado, 14 de setembro de 2024

Mala Sem Valsa


Pois a soma dos catetos é para caititus

Que tomavam cerveja e andavam nus

O nariz dela parece a Ponte Rio-Niterói

E cada pelo pubiano ainda que dói

Arranquei meus cabelos de pura alegria

Enquanto vomito o vinho todo na pia

Essa é uma catira boa e eu não nego

É melhor n]ao enxergar que ser cego

Eu agora só ando bebendo se no gargalo

Desde o tempo que titia comia galo

Eu faço aquele corno sambar na brasa

Qualquer inferno agora já virou a casa

Os filhos fizeram filhos e assim se foi

No meio da gelatina mandaram um boi

No meio do feijão veio uma cavaca

E dia desses quase passeei de maca

Caracóis caramujos dito cujo e caramelos

Eu troquei os mais feios pelos mais belos

Temos todos os melhores venenos caseiros

É só pagar desde que seja só em dinheiro

As baratas agora estão curtindo o barato

E a nova moda vegana é churrasco de gato

Vamos comer frutas verdes lá do Afeganistão

Enquanto somos pegos por nossa combustão

A minha e a nossa vida é uma mala sem alça

E quem acaba nos caçando é a própria caça...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Tico Butico

 

É pico no pico né?

Né não Zezé.

Hoje tem arroz.

E depois? 

Amanhã tem não!

Viu, mandrião?

Minha conta tá contada.

Zeros fora? Nada.

Ficou rico?

Vai beber no penico!

Ficou legal?

Vai cagar no quintal!

Ficou maneiro?

Vai morar no chiqueiro!

Gabunda cega!

O Diabo que te carrega.

Até tua mãe te nega.

Desgraçada sem prega.

Tá beleza?

Vai deitar na mesa.

Tá leitão?

Assim é que é bão!

Bão de tacho e bão de rima.

Explode ou sai de cima.

Bebeco mora no beco?

Não me deixa seco!

Faça logo um sanduíche

E capriche.

Caprichado e zarolho.

Te dou um porrolho!

Morreu dona Zozó! 

Hoje tem cachaça em pó?

É cacuruco no boteco,

Meu estômago faz eco!

E Dedeia tá tão feia.

Tá comendo até areia?

Hoje tou tão esquisito.

Tou rezando até mosquito!

Galinha boa, galinha choca

Não me faça mais fofoca!

Agora cada crocodilo

Só pesa um quilo.

Meio quilo não!

Juro pelo teu irmão.

Gramuchima de peitão.

Lanterninha de cinema.

Já não tem mais nem poema!

Cadê o seu Pitumba?

Foi ali dançar a rumba.

Cadê meu bode caramelo?

Foi ali calçar chinelo.

O passarinho tá cantando.

Eu tou aqui esperando?

É pico no pico né?

Né não Zezé.


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Carliniana LIX ( ... Um Quase Vento )

Há vários ventos... 

Uns comuns... Outros não...

E nós: desatentos...

Foi por pura exaustão...


Toda folha caída...

Uma folha... Uma vida...

Uma folha... Um sonho...

Ou um pesadelo medonho...


Há vários ventos...

Uns malvados... Outros não...

Como desalentos...

Aqui no meu coração...


Toda poeira jogada...

Uma poeira... Um nada...

Uma poeira... Pequena...

Que sufoca ou envenena...


Há vários ventos...

Uns covardes... Outros não...

Como elementos...

Da minha total extinção...


Era tudo um quase vento...

Carliniana LVIII ( Couro e Ossos )

Palmas dadas ao acaso

Enigmas distribuídos à granel

Curas magnânimas para nada

E cada um cumprindo o seu papel...


Brisa suave que vem pelo ar

Brisa suave que vem lá do mar...


Risos que vieram de mim

Brincadeira de qualquer um gosto

Meu coração que bate fora do peito

Máscara que não cabe em meu rosto...


Silêncio quase que absoluto

Silêncio quase terno e porém tão bruto...


O cavalo disparou na estrada

Minha vontade acabou de entrar no cio

Tudo alegre como uma grande festa

Tudo tão triste quando o mercado está vazio...


O primeiro pássaro que canta ao dia

O primeiro pássaro na manhã quente ou fria...


Todas os vivas agora para o palhaço

A última vontade antes da minha execução

O monstro emergindo sem ter uma lagoa

As roupas rasgadas para a nova estação...


Brisa suave que vem pelo ar

Brisa suave que vem lá do mar...


O que sobrou? O meu couro e os meus ossos...

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Triste Espetáculo

Sem lona,

Sem picadeiro,

Sem plateia...


A existência - um grande circo

Em que todos se confundem

Na roda interminável dos dias...


Sem mágico,

Sem domador,

Sem palhaço...


O mundo - uma grande injustiça

Onde todos somos vítimas

E a morte vem buscar todos...


Sem bailarina,

Sem trapezista,

Sem mágico...


A rua - o maior de todos os desafios

Onde qualquer surpresa nos espera

Seja ela a melhor ou a pior de todas...


Sem banda,

Sem alegria,

Sem apresentador...


O silêncio - mesmo se feito de muitos gritos

Guarda histórias e segredos inconfessáveis

Para um futuro que não mais existirá...


Sem leão, 

Sem elefante, 

Sem macacos...


Nossa nudez - acabou de vez o espetáculo

E apenas existirá o silêncio da expectativa

Se haverá ou não mais um espetáculo...


Sem lona,

Sem picadeiro,

Sem plateia...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 295

Na noite escondo-me que nem covarde pois a escuridão não foi feita para os corajosos, apesar de todos os seus riscos. Na noite procuro meus sonhos, sonhos estes parecidos com pesadelos que acabei nem percebendo. Na noite sou gato, sou rato ou pássaro qualquer que voa sem ver nuvem alguma em céus com luar ou não. Os dias sim, estes são tão malvados...


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Me viciei em reticências, me viciei sim. Elas são abrigos, são caminhos mais seguros. Escrevo reticências sim, muitas delas, como quem não desistiu de lutar por sonhos quase impossíveis. Acredito numa continuação, mesmo quando a dúvida consome a cabeça. Quando não sei no que acredito ou não acredito. Elas são como as máscaras que usamos para nos defender da maldade que não é a nossa. Me viciei em reticências, me viciei sim...


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Onde estarão vocês? Todos esses rostos que vi com nitidez num dia tão distante. O tom de voz que acabei guardando feito cicatriz em minha pobre pele. Mesmo com toda essa distância, não os esqueci. Mesmo quando alguma detalhe de menos importância acaba fugindo de minha pobre mente. Espero que esteja bem, que tenham vivido aquilo que queriam, que tenham algum sonho realizado. Onde estarão vocês?...


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Basta um pouco de alegria, só um pouco, para que a velha máquina continue funcionando. Basta um pouco de coragem, só um pouco, para que a boca não se cale diante a maldade que manda no mundo. Basta um pouco de loucura, só um pouco, para que meu canto permaneça pelo ar por toda eternidade sem fim. Basta um pouco de malícia, só um pouco, para que eu não deixe de pensar nos beijos que eu não te dei e tanto queria. Basta um pouco de verdade, só um pouco, para que esses castelos feios desabem de uma vez como o que foi prometido. Basta um pouco de alegria, só um pouco...


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 Ventos calados ou não, mas disfarçados pelo manto das noites que sejam as mais escuras. Tempos em que o silêncio cala muitas vozes de uma humanidade quase sempre cansada. Eu ainda estou por aqui, cansado e teimoso como sempre. O que faço agora? Também procuro algumas palavras para poder eternizar de um jeito qualquer...


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E os malvados chegaram em bando. Com suas caras cínicas de quem são bons, mas nunca foram. Com suas propostas nefastas para enganar todos, mas não conseguiram. Com suas armas apontadas para todos inocentes, mas acabaram errando. Com seus discursos de falsos moralistas, mas isso também não deu certo. Com sua poesia vã e sem graça, mas a plateia acabou vaiando. Eles eram teimosos, muito teimosos e já insistiam desde muito tempo. Até que a morte foi pegando de um em um, assim como faz com todos. E os malvados foram embora em bando...


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Nunca mais seremos o que fomos. Cada segundo é uma eternidade que faz tanta diferença. Somos como rios. A água que passa não será nunca mais a mesma. Os passos já foram dados assim como as palavras já foram ditas. Todas as variações acompanham todos os temas. Os meninos são esperados pelos velhos e as desesperanças acabam uma hora chegando...

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O Grande Banquete

Guardamos as sobras do almoço para o jantar

Mostramos as mentiras do sistema para nos justificar

Para nosso falso pudor mostramos nossa falsa moral

Para esconder nossa dor fazemos mais um carnaval


Comemos todas essas sobras com grande avidez

Não querendo imaginar que um dia será nossa vez

Toda carne serve para isto! Toda carne será comida

O que não é comido na morte antes será na vida


Preparemos nossos talhares para esse grande banquete

Já mandaram nosso convite já escreveram um bilhete

É tudo apenas mais uma questão de sobrevivência

Sem milagres da fé que não temos ou mistérios da ciência


Guardamos as sobras do almoço para o jantar

Mostramos as mentiras do sistema para nos disfarçar

Para nosso falso pudor mostramos nossa falsa moral

Para esconder nossa dor porque isso nos faz mal...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 294

Não tenho idade

Eu sou que nem pedra

Vejo não olhando

Falo não falando

Escuto não escutando

Amo não amando

Eu sou que nem pedra...


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O tempo brinca conosco

Não deveria brincar...

Fala coisas tão feias

Que não deveria falar...

Nos dá tantos medos

Tão difíceis de explicar...

O tempo brinca conosco

Não podemos evitar...


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Eu mesmo não entendo os meus delírios, mas insisto em tê-los. Tê-los de um em um e os confundindo com os meus pesadelos. Essa noite mesmo, quase agora, tive mais um. Não entrarei em detalhes, estes mesmo se fazem desnecessários, ninguém entenderia, nem mesmo eu. Só sei que poderia parecer uma simples e forte febre, muitas assim foram. Mas sei que você estava lá, isso depois de muito tempo que não nos vemos. Isso pode ser até saudades. pois não? Mas todo o delírio, assim como todo pesadelo acaba acabando. E aqui estou...


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Não repare

É essa vida malvada

Que faz pedir que ela pare...


O relógio pode parar

Os dias podem ir embora

E apenas tudo terminar...


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Visto aquele terno que não existe mais. Que poderia ser de qualquer tom de azul, desde que assim fosse. Assopro entre minhas pálidas mãos para que se tornem um pouco menos frias, é madrugada e todas são desse jeito. Tomo cuidado com meus passos, falta-me agora certa firmeza que é mais necessária do que nunca. O que pensaria eu enquanto com passos miúdos tento andar? Em centenas de histórias diferentes que nem os cabelos brancos conseguem atrapalhar...


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Todo lírio 

tem delírio!

Mentira?

Senhores donos da maldade

Após vinte e quatro horas

A morte é só mais um dia...


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A mosca mergulha na sopa com maestria notável. O grão de poeira mira e acerta bem no nosso olho. O último biscoito geralmente vem quebrado. Coincidência? O maior amor era só puro interesse. O esforço de uma corrida que não queremos fez a mediocridade da corrida. Perdemos tanto tempo com a banalidade que o que valia acabou indo embora. Fatalidade? A minha curiosidade acabou dando em nada. Não posso escapar do que não se escapa. Vieram faltando algumas peças no quebra-cabeças e só reparei isso no fim, Humanidade?...

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Nabos em Cacos

Toda bunda tem pereba! -

Falava o grande filósofo de besteiras

Enquanto mascava placidamente seu granito...

Tou de mal com meus botões! -

Exclamava o senhor melequeiro

Enquanto observava a mosca caída no copo...

Ai, que coceira no meu saco! -

Reclamava o ilustre dono da venda

Enquanto esperava a encomenda de puns caramelados...

Eu acabei dando um tiro em mim! -

Confessava o político marciano

Enquanto comia sua pamonha mais que enfadonha...

Vamos comer um torresmo de mamão? -

Decidia a carpideira de stand up

Enquanto bebia e bebia copos de ilusões baratas...

O IBAMA prendeu o tatu do Jeca! -

Lamentavam os grandes burgueses

Enquanto mastigavam seus pratos e talhares...

Todo dia alguém vai pra puta que pariu? -

Indagou o direitista de extrema-esquerda

Enquanto dava tiros em Papai Noel numa favela...

Vou voltar aonde eu nunca fui! -

Decidia senhor Manoel Mendiguinho

Enquanto fumava seus charutos feitos de palha...

Quero robalo no café da manhã! -

Falava o inglês natural de Nova Iguaçu 

Enquanto acariciava suas medalhas de lata...

Eu agora só falo inglês quando durmo! -

Era esse o lema tatuado no peito de Mumica

Enquanto catava tampinhas de garrafas enferrujadas...

Quem pular no abismo ganha um prêmio! -

Seu Napoleão e dona Floricema cantavam a pedra

Enquanto o festival de ossos acabava glamourosamente...

Meu reino pelo pato que ande montado no fogo! -

Com unhas pintadas de lilás branco falava Jandiro

Enquanto folheava Carlos Zéfiro para mais de meia hora...

Bagana! Bagana! Bagana! Bagana!

Vendi a alma por meia dúzia de bananas!...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

A Outra Parte

A outra parte

que parte

com arte

até para Marte...


Fel

que vira mel...


A outra parte

que reparte

que farte

o nosso estandarte...


Véu

que vira réu...


O nosso beijo

que eu desejo

que ensejo

toque realejo...


Léu

que vira céu...


O outro porte

que sorte

fugi da morte

sem um corte...


Som

que vira bom...


A outra parte

que parte

com arte

até para Marte...


Fel

que vira mel...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Piripiri No Meiu Zóio

Se há alguma coisa...

Se há alguma coisa, há!

Soicorro, mimãe!

Boitaram pimeinta

No meiu zóio!...

Ainda beim minino, 

Já imaginou se foisse lá?


Atraivessei o mair...

Pra gainhar um pé nibunda!

Bruixa véia desgraçada,

Ganhou o qui miricia

Foi falar co Zé Mairia

Nuima mainhã fria 

Toida dispreiparada!


Se há alguma coisa...

Se há alguma coisa, há!

Soicorro, paipai!

Butaram pimeinta 

No meiu goile!

Ainda beim minino, 

Já imaginou se foisse lá?...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

E O Poeta Morre...

E o poeta morre... Quando a palavra falha Quando corre da batalha Quando beija o fio da navalha... Sei que morrer também é ofício Mas então ...