Lembrar-me de certas tristezas
é como levantar um morto da cova
ele te fará sofrer das mesmas coisas
eu gostaria que seus ossos
se transformassem em pó
e esse pó se dispersasse pelo ar...
Lembrar-me de certas dores
é como enfiar novamente o espinho
no mesmo local que fui ferido
eu queria apagar todas as marcas
mas agora isso é impossível
seria o mesmo que me matar...
Lembrar-me de certos amores
é como entregar o pescoço ao carrasco
ele lerá solenemente a sentença
eu ainda teimo que não é
mas os amores que foram perdidos
são como a morte novamente...
Lembrar-me de certos sonhos
é como se torturar o tempo todo
sonhos que partem se tornam maus
eu acabei disfarçando-os
para que continuem o tormento
que sua partida me causou...
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Veneno que me salva
dor que me acaricia
Inverto todas as coisas
mesmo sem masoquismo
Sou eu! Sou eu!
Que brincou entre nuvens
Até me cansar totalmente
Sou eu! Sou eu!
Que nada teve do que pediu
e nada pediu do que teve...
Agora me transformei
no fantasma do que eu era...
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Nada esteve tão igual
os perigos apenas mudaram de nome
são os mesmos projéteis
partindo de diferentes lados
para o mesmo alvo...
Tudo está mal como sempre
os homens são o mesmo perigo
e os afligidos são aqueles
que não afligiram ninguém
a mesma sandice manda no mundo...
Enquanto isso poetas e sonhadores
permanecem no abrigo da imaginação
esperando esperançosamente
que um dia tudo isso acabe
ou então o homem acabe de vez...
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A minha espera é a do desespero
que pelo tamanho que tem
parece que nasceu até antes de mim...
O meu amor é como um ladrão
que invade das minhas entranhas
para tirar todo o meu sossego...
Ser feliz é tão e tão complicado
que nesse vai-e-vem da mente
acaba se tornando simples demais...
A minha esperança é uma malvada
que faz com que o espinho
fique ainda na carne esperando o prazer...
A minha resposta é uma eterna dúvida
porque querer permanecer é algo
e ver o temporal passar é outra coisa...
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Não sou um fantasma
(pelo menos ainda não)
mas ando pelos corredores
de mim mesmo
procurando velhos dias mortos...
Não sou um demônio
(pelo menos ainda não)
sou apenas um sobrevivente
preso e triste
entre as ruínas de meus sonhos...
Não sou um animal estranho
(pelo menos ainda não)
ando no meio da madrugada
procurando
um amor que há muito perdi...
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Há tamanhos e tamanhos
e os enganos pousam sobre nós
pequenas ou grandes
as nossas paixões nos machucam
e aí... bem, e aí...
só nos resta chorar...
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Eu guardo em mim muitas perguntas:
Por que a maldade é sempre covarde?
Por que a ambição sempre se suicida?
A vaidade é parceira da decepção?
Por que teimamos numa felicidade impossível?
Gostamos de repetir velhos erros?
A saudade nos destrói aos poucos?
Por que o tempo se espalha como folhas mortas?
A vida é mais cruel do que a morte?
Os sonhos podem também nos matar?
Qual o endereço do destino?
O amor pode nos matar se assim quiser?
A esperança nos joga areia nos olhos?
Eu guardo em mim tantas perguntas...
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