Mesmo com esta tempestade durando mais do que o previsto. Mesmo com as estatísticas me olhando de cara feia. Mesmo que os oráculos façam vaticínios mais aziagos do que o costume. Ainda estou vivo...
Mesmo que as pessoas se insensibilizem nas filas de nada para nada. E que os dias não sejam tão bonitos como antes. E as preocupações acabem tirando nosso sono. Tem que ser assim. Ainda estou vivo...
Mesmo que não compreenda nenhum dos enigmas que cercam nossas vidas. Conceitos filosóficos ou regras que sobrepujam a minha fraca inteligência. Mesmo que eu não saiba falar certo meu português. Ainda estou vivo...
Mesmo que me impeçam de correr no parque. Deitar sobre as flores do jardim. Nem me esquentar em velhas fogueiras. Que passe a graça de velhas piadas. Não contam mais aquelas velhas histórias tão bonitas! Ainda estou vivo...
Mesmo que a injustiça seja o prato do dia. E novas mentiras sejam fabricadas em série. Tudo faz parte dessa grande fábrica desumana em que somos os marionetes. Ainda estou vivo...
Mesmo quando a felicidade pegou o ônibus errado. E a tristeza conseguiu achar nosso endereço. E fomos rastreados pelos problemas que transformam qualquer herói num grande fracassado. Ainda estou vivo...
Mesmo quando as redes sociais modelem nossa personalidade. E coisas mais banais sejam motivos de um luto. Mesmo quando a moda nos coloque cabrestos. E as bitolas façam parte da ordem do dia. Ainda estou vivo...
Mesmo que eu seja cego e eu seja surdo e eu seja mudo. E os prazeres da simplicidade se afastem de mim. E não encontre mais um pouco de ternura no fundo das gavetas. Ainda estou vivo...
Mesmo se quero chorar e não posso. Quero cantar e não deixam. Quero ser insensato e louco acima de quaisquer tolas regras. Cair quando tropeço e xingar toda vez que me venha a vontade. Ainda estou vivo...
Mesmo quando as aparências evidenciam o oposto. E já existe uma multidão esperando piedosas e falsas notícias. Ainda estou muito vivo e vivo ainda demais. Ainda estou vivo...
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