Eu vou pela rua neste pequeno trajeto
Como o condenado vai ao patíbulo...
Não faço alguma ideia quase exata
Quando meus pés balançarão no nada...
Colho flores como quem prepara o final
Mesmo sabendo que murcharão amanhã...
É triste chorar mas pode ser mais triste
Ficar rindo no mais puro desespero...
Eu tento recolher pedaços do carnaval
Que talvez tenham sobrado sem eu brincar...
Nunca mais vi os cata-ventos das festas
E a vida não é mais o brinquedo de antes...
A inocência me protegia dos espinhos
Mesmos quando estes feriam minha carne...
Se achar alguma fotografia perdida na rua
Prometo guardá-la com carinho que não tive...
Vou tentar ter piedade mais que necessária
Mesmo para os malvados e suas vilanias...
Muitos que conheci agora repousam sob a terra
E qualquer dia desses serei mais um deles...
O metal das gaitas se transformou em algo
Mas nem meus passos sabem dizer no que foi...
Tenham pena do pobre cego que esmola
Nesta grande feira livre que se chama mundo...
Pobres burgueses que se consideram poetas
Mal sabem que a poesia só é feita de restos...
E a beleza só consegue sobreviver se mascarando
Assim como os pássaros que vivem fugindo...
Nada mais quero que aquele sonho de águas
Águas escuras em pesadelos tão sonhados...
A banda certamente vai parar de tocar
Enquanto eu não posso mais respirar como antes...
(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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