quinta-feira, 6 de março de 2025

Alto do Prédio

A salvação é a perdição.

Ícaro agora está aposentado.

Venenos muito temos agora.

Celulares apontados feito armas.

Comoção quase que nacional.

Macarrão instantâneo e batuques.

Fendas sem biquíni para consolar.

Silêncio de milhares de decibéis.

Midas passou a mão no traseiro.

Joga-se futebol com crânios.

A viola nunca violou coisa alguma.

Mistura de valsa com frevo deu certo.

Toda afeição tem sua feição própria.

Acerte na palavra e ganhe um charuto.

Milhões de exemplares jogados fora.

Nossa escolha agora se acabou de vez.

Os comerciais antigos ainda continuam.

Eu berro com um porco para o abate.

Minha imaginação morreu engasgada.

A star pornô não gosta mesmo de sexo.

Todos os meus dias são solidão e dor.

Fechei a porta do quarto que não existe.

O escudeiro acabou de esquecer o escudo.

Meu nome agora é o meu endereço.

Eu nunca sei quem é que pode ser quem.

Faço versos nas tiras de minha mortalha.

Anjos barrocos agora vivem em barracos.

A sua mediocridade merece muitas palmas.

Acabei escolhendo o disfarce de condenado.

Meu narcisismo é a minha real timidez.

Balas e doces acabaram de acabar todas.

Só uso óculos comprados no camelô.

Qualquer dificuldade é minha lição de casa.

A salvação é a perdição.

Ícaro agora está aposentado.

Capriche na pose para a foto.


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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