A salvação é a perdição.
Ícaro agora está aposentado.
Venenos muito temos agora.
Celulares apontados feito armas.
Comoção quase que nacional.
Macarrão instantâneo e batuques.
Fendas sem biquíni para consolar.
Silêncio de milhares de decibéis.
Midas passou a mão no traseiro.
Joga-se futebol com crânios.
A viola nunca violou coisa alguma.
Mistura de valsa com frevo deu certo.
Toda afeição tem sua feição própria.
Acerte na palavra e ganhe um charuto.
Milhões de exemplares jogados fora.
Nossa escolha agora se acabou de vez.
Os comerciais antigos ainda continuam.
Eu berro com um porco para o abate.
Minha imaginação morreu engasgada.
A star pornô não gosta mesmo de sexo.
Todos os meus dias são solidão e dor.
Fechei a porta do quarto que não existe.
O escudeiro acabou de esquecer o escudo.
Meu nome agora é o meu endereço.
Eu nunca sei quem é que pode ser quem.
Faço versos nas tiras de minha mortalha.
Anjos barrocos agora vivem em barracos.
A sua mediocridade merece muitas palmas.
Acabei escolhendo o disfarce de condenado.
Meu narcisismo é a minha real timidez.
Balas e doces acabaram de acabar todas.
Só uso óculos comprados no camelô.
Qualquer dificuldade é minha lição de casa.
A salvação é a perdição.
Ícaro agora está aposentado.
Capriche na pose para a foto.
(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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