domingo, 16 de março de 2025

Cala Poética (Eu Não Quero Falar)



Eu não quero falar.

Não quero fazer um gesto qualquer.

Quero dormir, quero dormir...


Não quero discursar na ONU.

Lutar por alguma causa válida.

Nem sentir fome como sempre...


Eu não quero falar.

Não quero admirar alguma bunda.

Quero chorar, quero chorar...


Não quero saber notícia alguma.

Furar a fila pra morrer rápido.

Vou mandar a dor se foder logo...


Eu não quero falar.

Minha poesia é um espinho no pé.

Quero voar, quero voar...


Tenho vaga cativa no manicômio.

Deito tranquilo numa fogueira acesa.

O pornstar hoje está sem tesão...


Eu não quero falar.

Faremos um bunker no banheiro sujo.

Quero fugir, quero fugir...


O cadáver da barata está no canto.

Sou marginal só quando eu quero.

Tragam mais chá para esse desgraçado...


Eu não quero falar.

Toda cultura acaba se tornando obsoleta.

Quero xingar, quero xingar...


Enfia esse autógrafo dentro do cu.

O rato está sempre certo ao fugir.

A mocidade tem seus acidentes fatais...


Eu não quero falar.

As palavras se tornaram minhas setas.

Quero dormir, quero dormir...

...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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