Caio em abismos ao meu bel-prazer e não dispenso quantos adjetivos couberem em meu histórico. Falta-me um pouco de vento, eu bem sei. Mais conformei-me com uma solidão feita sob medida. Minha cabeça sabe girar como um pião e os autógrafos rendem por tal fato. Quem não tem mãos que batam suas palmas. Uma suprema discrição faz os dândis quererem apenas voar.
As bolachas acabaram-se e eu quase chorei. Tenho que sentir-me o mais caçador possível por falta de uma outra estratégia. No momento, minha memória acaba falhando. Consequência dos muitos séculos que vivi sem dar-me conta de tal façanha. Sou de algo que não mais existe, somente em delírios e orações.
Qualquer hora dessas atravesso a avenida correndo, de mãos dadas com minhas mais generosas ambições. A lagoa está serena agora, foi bom ter dispensado algumas dos milhares de regras que me algemei ontem mesmo. Nada morre sem uma compensação, li isso um dia desses que está anotado em meu caderninho de esquecimentos.
Falta-me ar. Fui ao supermercado inda ontem e me esqueci de comprar. Deveria ser mais meticuloso em meus devaneios. E que devaneios, por falar nisso. Daqueles que fazem que grite frases sem nexo alguma como em qualquer pessoa. De tanto falar, tornei-me um mímico. Não sou nenhuma prodígio da ciência, mas não me faço mais em cacos.
Sou atrevido o bastante para dedos em riste e alguns xingamentos de certa classe quando posso. Quando não posso, faço algumas ladainhas de improviso mesmo. A bondade agora está na mão dos ambulantes do centro de qualquer uma das metrópoles do mundo, este pode ser algum outro indício da mesmice de algumas tragédias.
Um banda sem músicos desfila por aqui, chama atenção de todos os mortos, lembrando-os de solenes promessas quebradas. Assim mesmo que funciona, dispensemos botões e outros dispositivos um tanto ineficazes. Tecnologia nula para o próximo instante, meu senhor!
Os vasos sagrados estão quebrados, mas a culpa não foi dos tigres, não havia trigo neles, apenas algumas fantasias falidas. A firma está fechada e não é para balanço. Nostra culpa, nostra culpa, nostra culpa! Os dicionários dormem, mas preocupadamente, isto como bons andarilhos que são.
Sou tão real quanto a ilusão, sei bem isso. Como também sei de pirâmides e trâmites legais, essa é uma função como qualquer uma outra por aí. Uso meus dedos para contar todos os universos numa expectativa só, nasci para isso. Não gosto muito de certas profecias, mesmo quando elas apontam o dedo em minha direção.
Pecado na capital, isso que é, nem em milênios as desculpas chegarão pelos correios. Gentilezas e funerais são inegáveis, ainda mais quando as estações chegam. Nunca fomos tantos por tão poucos, mesmo em condições extremas de maquinações. É um simples abano e as cartas já caíram de seu castelo...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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