Gueixa ao avesso
(inclusive na cor)
para nós isso são meros detalhes
que nada importam...
Nossa história é tão longa,
tão bonita, mas tão triste...
Com uma leve pitada de sordidez
(quem disse que os sórdidos
não podem amar?...)...
...............................................................................................................
Faço qual aranha
Teço teias de fantasias
Quais presas procuro?
Alguns sonhos gordos
já são o bastante...
Quando pegos
eu os enrolo em minha ternura...
Quero que fiquem lá
até a hora de me deleitar
com cada um deles...
...............................................................................................................
Minha solidão é um cavalo selvagem,
me atira no chão quantas vezes quiser...
Minha tristeza é que nem um vírus,
qualquer hora ela me mata por acaso...
Minha aflição é que nem um trapezista,
se arrisca na corda bamba por palmas...
Meu tempo parece mais um pedinte,
quando tem é que não tem mais nada...
Meu amor é o mais cruel de todos eles,
me deixa suspirando e logo vai embora...
Desgraçado que sou entre muitos outros,
nem eu mesmo sei onde me encontro agora...
...............................................................................................................
Garganta...
Por ela não passarão mais bravatas,
Não mais apertarão minhas gravatas,
Não sustentará mais ideias primatas,
Assim...
Olhos...
Não testemunharão mais tanta maldade,
Não se assustarão mais com essa cidade,
Não se machucarão mais com a verdade,
Sempre...
Coração...
Acabou virando apenas uma pedra de gelo,
Acabou explodindo por mais um pesadelo,
Acabou se ferindo porque teve falta de zelo,
Coitado...
Acabei tirando meu diploma de robô...
...............................................................................................................
O poema é tão pobre...
Entra na fila da humilhação,
Ganha esporro do patrão,
É roubado dia sim, dia não,
Conta moedinhas pro seu pão,
Acabou virando bicho em extinção,
Era um guri, virou um ancião,
Não tem grana pra alimentação,
Um dia foi rei, mas hoje é peão,
Sua musa foi parar em um lixão,
Não tem modos, nem educação...
O poema é tão pobre...
...............................................................................................................
A garrafa de café sempre cheia
O saco de pão pendurado na parede
A televisão de madeira preto-e-branco
As roupas que a mãe passava cantando
O meu medo dos bacurais cantando
Noites frias cheias de estrelas
A casa pequena sem muitos móveis
Sonhos tão simples e tão bons
Tantas vezes esbarramos com a felicidade
mas nunca que a vimos...
...............................................................................................................
Bandolins agora tocam
saudades que não passarão jamais...
Eu nunca vi um campo de trigo
mas devem ser bem bonitos...
Por que deveria reclamar?
Existem outras belezas
para meus pobres olhos...
Nunca vi plantações de girassóis
mas vi pelo menos alguns deles...
Ah! Tinham algumas abelhas
que voavam em torno sempre...
Violinos também me fazem chorar...
..............................................................................................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário