quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Idade Mídia

Idade mídia, idade das trevas, nova idade de velhas coisas, disfarçadas com papel alumínio tão brilhante. Capriche aí no mimetismo, desfaça tudo, o que construímos, o que pelo que sangramos, façamos quase tudo de novo.

Respiremos o ar malsão de manhãs de olhos forçados, com adjetivos nunca usados e tal. A hora da morte chega em cada minuto na falta de tempo, na falta de nexo, num barato tão caro. Taoísmo, meu cinismo, nosso abismo. De rimas improcedentes e um canibalismo do novo idioma.

Pés sujos dentro do tênis, mágica dos ambulantes... 

Procuremos motivos para o gasto e a moral reservante da eterna nudez. Somos os primeiros e somos os únicos de uma eterna barbárie em forma de multidão. Sem arrimo, irmão e primo, sabe-se lá o porquê. Não há mais, decibéis e bits agora dão as cartas neste jogo engraçado, nada mais para declarar.

Eu quase nem acredito que estou nesse tempo, sobretudo, quando entro no pé-sujo agora quase arrumado, tomo uma e vou embora. Até as tradições bandearam-se para o outro lado. Ninguém é nada, ninguém é nada porque agora ou se é tudo ou não estava valendo.

Amores desconhecendo o que é amor...

Tocadores de tuba e de gaita-de-foles na Baixada Fluminense ganhando seus trocados. Amantes de plantão para a satisfação da libido nas manhãs de terça à noite. Espera maldita de eternos segundos. Motivos são agora dispensáveis coisas. O latim agora é coisa para latinos de outras paragens.

Esconder-se é a coisa mais difícil do mundo...

A morte anda agora assaz atarefada e não pode tirar férias. Os aviões fazem uma fila no céu. O que é meu, é meu e o que é de todo mundo, também. Vejamos versículos manipulados com os olhos que não temos, faça isso e será comum. Tudo pela metade do preço para aqueles que estão pela metade. A fonética tem dificuldades para andar.

Eu sou Millôr Fernandes em alguns momentos...

Monto em minha mula que estaria de bateria nova. Quisera eu ter uma máquina do tempo. Desfazia uma série de enganos vitais. Rodas quadradas e nada senão à mão. Talvez um pouco de açúcar não fizesse tanto mal. Um soco na cara dos famosos e já está muito bom. Que tudo seja veneno mesmo. Meu dicionário que vá à merda.

Vamos fazer um desfile no beco...

Agora fotografias sem tragédias não valem mais. É insosso fazer poses bem-comportadas. Eu me suicido a três por quatro sem explicações cabíveis. Agora Tati quebra-nozes. E cenas impressionáveis entram sempre em cena. O errado sempre foi certo e os desenganos enganam tanta gente. Por trás da cortina – paredes evidentemente. 

Estragaram todas as obras-primas que haviam...

Neologismos mais antigos que a minha avó. Sabedoria de trios-elétricos movidos à carvão. Pulsação de veias sem sangue. Sangue morno agora. Escalo o Himalaia de costas e olhos fechados e uma mão nas costas. Por dinheiro faço quase tudo, menos ser honesto. Viva os gaviões e os mosquitos. Não há muita diferença entre o indiferente e o diferente.

Agora só a propaganda propaga...

Hermeticamente falando a hermenêutica perdeu toda sua terapêutica. As andorinhas não andam mais em bando, só os caquis e as ventarolas. A bola é que fez todos os gols. Eu danço maxixe em cima do prato. Não tenho medo de mais nada, só do medo. Retiro tudo que disse desde a primeira palavra que falei quando nasci.

Os soldados agora jogam só dados...

Estampidos zoam em meus ouvidos. São os soluços de alguém que cansou de chorar. Possa eu cantar mesmo que escondido. Lições de como falar mandarim é tão fácil. Meu rosto já não é mais meu. Eu arroto com toda classe. Não me venha com explicação alguma sobre aquilo que você não entende. Eu sou um cidadão do mundo, mas mesmo assim não o conheço.

Há sempre um preço que pagamos bem alto...

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