Transcendente

Eu transcendo em muitas ondas siderais,

Transformando o que está longe em perto,

Povoo esse meu peito que está tão deserto,

Transformo em folia estes meus funerais...

Consigo rir desta tristeza cada vez mais,

Estar vivo é estar aos poucos quase morto,

É ser como um barco que não tem um porto,

Estar sem um teto na cabeça sob temporais...

E eu vejo o fogo que consome os matagais,

Vejo os homens e suas loucuras mais que vãs,

Enquanto não sabemos se haverão amanhãs

Ou se tudo se acabou ou se foi tarde demais...

E a loucura em mim é apenas fato contumaz,

Sou aquilo que sou, nem eu posso reclamar,

Eu sou aquilo que tenho, não posso reclamar,
Para onde vou agora não importa, isso tanto faz...

Eu transcendo à ira de todos, de todos os boçais,
Transformando em tudo o que já foi um nada,
Hei de prosseguir para sempre minha jornada,
Transformo em meu brinquedo estes temporais...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).