Eu vivo num país sem leis, onde a insanidade é a palavra de ordem. Onde os papéis são invertidos e muitos mártires morreram por causa nenhuma. Onde ser livre é uma forma mais perigosa de escravidão e pensar uma forma mais arriscada de loucura.
Eu vivo num país tão belo, onde as máscaras são tão comuns. Onde a hipocrisia é a opção de rota de fuga para monstros que não deveriam existir, em que quem deveria consolar provoca o choro e quem deveria responder à nossas perguntas, às fazem ficar sem resposta alguma.
Eu vivo num país tão absurdo, onde crianças são transformadas em novos adultos sem futuro, onde mulheres são apenas pedaços de carne expostos no mercado, onde velhos são apenas panos de chão. Onde os donos da terra são alvos de um esporte insano, onde a natureza é profanada por quem nem deveria ter a terra como última moradia. Onde se briga pela forma, mas é esquecida a essência, onde um tom de pele é mais valorizado do que a própria moral.
Eu vivo num país onde todos se drogam, cada um de seu jeito. Uns com drogas ilícitas, outros com lícitas, uns com drogas que se mostram e outras camufladas. Onde a vida é gasta com o que não fazer, onde a felicidade é posta de porta para fora. Aprendemos desde de cedo a sermos humanos o bastante para sermos mesquinhos e egoístas.
Eu vivo num país onde se ri de coisas sérias e se chora por qualquer banalidade, onde os enganos são mais fortes que os ideais e os princípios são apenas motivo de piada. Onde há religiosos sem Deus e sábios totalmente tolos. Onde quem governa, desgoverna e todos fingem não ver e batem suas palmas.
Eu vivo num país que deveria ser o melhor, mas é o pior; que deveria ser de paz, mas é de violência. Um país onde a moda nos coloca os arreios para que puxemos sua carroça. O paradoxo é o novo Messias e o desperdício do final de semana o nosso mais sério compromisso.
Eu vivo num país limpo e sujo, bom e mau, como os outros do mundo, mas exageradamente exibido em suas mazelas, que não tem vergonha de expor sua bunda para tantos outros que a queiram ver. Não sei se alguma coisa boa ficou no passado, porque até esse passado se acha distorcido para quem assim o interessa.
Eu vivo num país com carnaval o ano todo, mas que ninguém perguntou se eu queria brincar...
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