Todo tempo do mundo e nenhum. Um certo malabarismo com ares imutáveis. Adjetivos muitos sem saber o porquê para tanto alarde. Aonde iremos depois desta festa? Talvez para casa, talvez para lugar algum e alguém desligue o aparelho.
Os ratos já estão prontos para o desfile. Nada é tão solene quanto a mentira. Gestos afetados e tal. Distribuição de gadernal para todos os normais. O demônio não pode comparecer por causa de compromissos inadiáveis. Qualquer secretário sabe disso.
Não tenho medo. O meu já foi gasto em situações irremediáveis e não tive grana para substitui-lo por algum equivalente. Não elogiaram os meus fiéis exageros. Não tenho febre, isso me preocupa muito.
Mal consigo abrir a boca quando vou ao púlpito. Minhas roupas abusaram nas cores e esqueceram de vários tons. Eu mexo no teu remelexo, não me queixo e tudo deixo. Suspiros caprichados no açúcar e ídolos quebrados com violência.
São muitos sofismas para um canalha só. Podemos apenas responder questões de múltipla escolha, só lembramos do xis. Todo modismo vai dar logo ali onde nada há. O esquecimento é o mais banal de todos os remédios, mas sempre dá bons resultados.
Queremos poesia, certamente, mas não esqueçamos da sacanagem. Que usa disfarces mais mirabolantes dos que em filmes de quinta categoria. Fico feliz quando me esqueço de certos detalhes. Rir até a exaustão é a forma mais comum de fugir.
Há certos mistérios nas gavetas mais comuns. Não sou bom exemplo de coisa algum e nem quero ser. Basta minha humana mediocridade que já dá muito trabalho. As minhas costas doem e meus pés não se cansam de me xingar. São muitas taxas e meu dinheiro não dá.
Fugir não é tão complicado assim, complicado é para onde iremos. Eu poderia escolher algumas curvas mais tentadoras. Mas o conforto excessivo pode ser desconfortável demais. Até segunda ordem é sou o grande enganador de mim mesmo. Quantas vezes já puxei o gatilho e eu mesmo era o alvo?
A minha fome é bem menor do que eu penso, a minha sede de enganos é bem maior e não cabe nem em mim. Quanto mais me escondo me exponho e a minha nudez caga e anda para o meu inútil pudor.
Nada é tão exato como a inexatidão e a perfeição é um bicho novo descoberto pelos paparazzis em uma hora de folga. Para longas corridas, muletas caprichadas. É só perder a audiência, os gostos somem. Jóias falsas para braços e mãos mais falsos ainda.
Há um silêncio gritante em cada peito, mas as mentes estão drogadas demais. São formadas grandes filas para nos jogarmos em abismos, mas eles já estão cheios demais. O Papa é Bope, nunca podemos nos esquecer disso, de forma alguma.
O Diabo já desistiu de arrebanhar tantos fiéis, o inferno está cheio demais, os pobres demônios já não passeiam mais tranquilamente. E passar férias por aqui é perigoso demais.
Eu não ligo mais o rádio porque não tenho, só há apenas extensões de minha própria alma. Ave, tecnologia! Nós que estamos mortos, te saudamos! Ergamos nossas taças de veneno num brinde ao nada!...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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