sábado, 14 de março de 2020

Tansuque

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Tansuque era um motivo pra eu rir em dias de suma tristeza. Ventos vadios e muitos ainda me cobrem. E eu via tantas estrelas como cabiam meus fracos olhos. Sem dúvida, a lógica nos cobre de trapos que não escondem nossa nudez.
Havia muita farinha, faltavam-nos os pratos. E as regras foram feitas para serem desprezadas. É pau à pau, como sempre foi. Não vamos negar os absurdos, são a eles que devemos nossas maiores dívidas e não mais.
Sinto um perfume no ar e enjoativo, só como dias passados podem assim ser. Nada mais, nada menos. Salvador vendia pastéis com a máxima discrição que os sábios ou os cínicos o podem ter. Nessa época eu desmontava relógios ou quase quebrava a louça dos elefantes. 
Um corredor, vários deles. Uma rua, todas elas. O maior dos enigmas foi meu desmaio de circo e o passeio longo no ônibus velho. Os palhaços bebiam suas águas e rasgavam suas sedas. Eu não possuía tal maestria e ainda não consegui tê-la. Minhas visagens são tão raras.
Depois do primeiro, o seguinte, tudo conforme os conformes de arames farpados e outras ideias. Direitamente da forma mais errada possível. O restinho do copo ainda é meu e reclamarei por isso sempre.
Todos os reis perderam seus tronos para a fatalidade. Só existem empates ou perdas, do resto cuidamos nós. Ando meio fraco dos dentes, mas isso é bem comum. É uma nova moda que acabou de de envelhecer. Sopranos e contraltos em prateleiras.
Matei meus sonhos por dois tostões e me satisfiz por isso. Sou tão imaturo como qualquer um, mesmo assim uma dose de atrevimento fere minhas pobres mãos. Estão mortos os folguedos para hoje e amanhã é quase certo.
Caldo de cana na promoção e lindos dispositivos de  tecnologia mais que obsoleta. O que não mais existe acaba sendo bem mais caro. Toda a sabedoria cabe num simples pedaço de pão. Tanto por cima quanto pelo meio. O errado e suas virtudes.
Gritos de uma vitória sem luta ecoam pelo ar. O maior sentido é não ter sentido algum. E boas prateleiras para aguentar os trancos. Meus pulmões encheram de fumaça e minha morte será com a precocidade de um minuto a menos. 
Sou eu quem conta quase tudo, desde de astros inexistentes à algumas piadas insalubres. Sou mais um aposentado, para honra e glória de intermináveis partidas de dama na praça do meu quase bairro. Engulo todas as imagens que posso.
Tudo já passou de um certo limite e eu quero é mais. Eu não estava em lugar nenhum e tem uma certeza quase incerta sobre isso. A fila anda e as doenças acabam chegando de uma em uma. Nunca dei tantos nós em toda a minha vida. Um dia saberão que eu não sou eu faz muito tempo.
O que tenho já partiu, os brinquedos já viraram vapores quase venenosos e invisíveis. Não há outras estratégias senão chorar, talvez funcione, talvez não. Minha sanidade e minha loucura saem no tapa, eu não posso desapartar essa briga.
Cachorro grande, café pequeno, eu celebro o que não possui motivo como uma nova religião. Desentendi-me com meus botões e não há mais conversa com eles. Falo ainda com meus alfinetes, mas muito raramente por falta de oportunidade. 
Vamos ver pelos ângulos que nossos óculos derem, mesmo sendo um pouco enjoado isso. Muitas bandeirinhas para aqueles desfiles que muito nos atingiam em cheio. Bem melhor que um bom murro na cara, sem anúncio, sem outdoor, um copo de água fervendo por ora nos basta.
Tansuque era um motivo pra eu rir em dias de suma tristeza. Ventos vadios e muitos ainda me cobrem. E eu via tantas estrelas como cabiam meus fracos olhos. Sem dúvida, a lógica nos cobre de trapos que não escondem nossa nudez...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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