sábado, 7 de março de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 65

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Trago um buquê de flores nas mãos. Não estão murchas, mas dá para perceber que logo, logo começarão a murchar. Fico pensando então. Essas flores que trago nas mãos são como a vida, dispensam-se explicações mais detalhadas do que é. 
Faz um pouco de calor, o que é normal aqui em nossa cidade. Alguns reclamam dele, outros reclamam quando faz frio. É normal do ser humano reclamar por certos detalhes, certas nuances. Eu, entretanto, com o passar do tempo, aprendi à não reclamar de quase nada, pelo menos do que acontece diretamente comigo. A calma se transformou numa aliada, até bem mais cruel do que eu possa ser.
Tenho que chegar logo, o meu tempo é pouco, aliás, sempre o nosso tempo é pouco e, para piorar tudo, nunca conseguimos perceber isso com exatidão. Vivemos invertendo a importância de tudo, isso é bem verdade. 
Mas eu já vou, meu amor, não tenha pressa, o meu corpo já não é mais como antes, isso é percebido de longe. Até minha mente anda diferente, esquecendo do que está bem perto e lembrando do que está longe, agora longe do alcance dos meus olhos, agora mais cansados do que nunca.
Como essa rua é comprida! Aqui existem dezenas, centenas, milhares de histórias que não serão mais contadas. De todos os tipos, algumas muito grandes e interessantes, outras pequenas e sem quase nenhum detalhe que seja digno de nota alguma.
Tento não me ater à detalhe algum, esta curiosidade mórbida não é muito recomendável, mas é que todas essas placas parecem me atrair para um atraso imperceptível de alguns pedaços de segundo.
Cheguei, meu amor, cheguei, aqui estão suas flores, espero que goste...

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Quem não conhece portas nem janelas
e entra através delas mais que o sol?
Quem sabe todos os segredos possíveis
e conhece todas as histórias antigas ou não?
Quem conhece todos os caminhos e atalhos
e nunca perde seu rumo e nem sua hora?
Quem não consegue acabar com o amor
mas sabe torturar quem ama com a distância?
Quem é mais forte do que qualquer paixão
e conhece todos os abismos existentes?
Quem consegue andar pelos campos de batalha
e tira todas as vantagens da tolice humana?
Quem sabe onde estão todos os espinhos
e não se importa se eles a ferem ou não?
Quem desaba todos os castelos com um sopro
e derruba todos os tiranos de seus tronos?
Quem aumenta o desespero dos desesperados
e faz com que a solidão seja mais cruel?
Quem entra nos versos sem ser convidado
e emudece todas as canções possíveis?
Quem nos acompanha passo à passo
e segue nossos rastros mais imperceptíveis?
Quem zomba prazeirosamente dos sábios
e faz de toda ciência um mero fracasso?
Quem é mais parado que a água dos charcos
e tem mais voracidade do que os famintos?
Quem consome todo o ouro da terra
e não possui luxo nenhum para si mesmo?
Sem dúvida nenhuma nosso destino - a Morte...

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Sou um abusado com certeza
me encho de reticências a hora que quiser
desprezo um pouco os pontos finais
e não compreendo totalmente a gramática
minha mente fala mais que a minha boca
e a minha alma me atormenta quando pode
não pretendo ser mais do que sou
e nem menos que um sonho pela metade
espero alguns dias que sejam bem melhores
apesar do meu pessimismo vir da realidade
da maldade que os homens fazem e repetem
Sou um canalha sem dúvida alguma
tento sobreviver no meio dos muitos tiroteios
que a vida sempre acaba nos oferecendo
não sou um anjo  e nem um demônio sequer
sou apenas representante do que há de pior
um cidadão urbano perdido na multidão...

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Mesmo quando cessar
todo o som
dancemos...
E se a festa se acabar
faremos 
alguma outra...
E se o amor for embora
iremos 
buscá-lo...
E se os sonhos desabarem
peguemos 
o que restou...
E mesmo a vida
sendo malvada
vivamos...
Quando a ilusão querer
nos machucar
nos previnamos...
E quando a morte chegar
dormiremos
tranquilamente...

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Sol que sangra 
aberto
poucas palavras
desperto
amor que engana
deserto
nunca vi a alegria
de perto
já é de manhã
desperto
como será o dia
incerto

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Que a nossa loucura esteja presente na carne de nossos dias e que aproveite todas as chances pra nos trazer novas alegrias. Que não nos falte o ânimo de olhar as coisas simples compreendendo o valor de todas elas. Que a esperança não corra de nós e fique junto e acompanhe toda nossa tristeza até que ela se acabe. Que nossos dias sempre sejam claros mesmo quando o sol não compareça pra nossa lida e tenhamos que enfrentar todas as chuvas. Que nossos olhos vejam todas as cores mesmo com alma e que nossos ouvidos escutem todos os sons que o universo nos oferece. Que nossos pés doam menos com as pedras do caminho e aguentemos até chegar no seu fim. Que nossas reclamações sejam menos frequentes e nossos agradecimentos constantes. Que o nosso medo não seja grande o suficiente pra trocar nossos princípios e nem as tentações do mundo pra comprar nosso destino. E que nossa compreensão seja a mais exata possível pra que a morte não nos aflija tanto quanto foi a vida...

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Quem sabe
te encontro noutra vida
em outro corpo
em outro tempo
e o perdão poderá 
estar entre nós

Aí sim
outras flores em jardim novo
em outra cidade
em outro país
e a ternura poderá
ficar com a gente

Os passarinhos
cantarão novas canções
em outra língua
em outro tom
e a felicidade
não mais correrá de nós

Quem sabe 
te encontro noutra vida
em outro corpo
em outro tempo
e a não serei mais o triste
que sempre fui...

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