Mesmo passando sei lá quantos anos lembro. Deixem que a memória de um velho guarde certas coisas. Era um menino magrinho, bem magrinho, bem moreno, de cabelos bem lisos. Morava lá na favela que morei também, só não sei a casa. Aliás, não sabia quase nada dele, só o nome - Alessandro, e o apelido, Cocão. Não me perguntem o porquê desse apelido, geralmente apelidos possuem certa lógica, mas é proibido adivinhar. Cocão uma vez escreveu no asfalto da rua que dava direto pra pista - "Só eu e ela" - também não sei se com tinta, esmalte branco ou líquido corretivo. Pois bem, certo dia, eu e Dinho estávamos saindo e lá estava o menino caído no chão. Olhos meio fechados, babando um pouco, querendo falar alguma coisa e não conseguindo. Dinho colocou ele nos braços e levou para o hospital. Passados uns dias soubemos de sua morte, overdose de cola de sapateiro. Algumas mortes são bem estúpidas, essa seria mais uma. Viveu apenas treze anos, acho que nem deu tempo de deixar alguma coisa por esse mundo, nem de bom e nem de ruim. O mais provável é que ninguém lembre mais dele, exceto os pais, esses não costumam esquecer. E eu...

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