É quase meia-noite. Deve ser sim. Só sei que hoje é o último dia do ano, isso é. De vez em quando esqueço a minha própria idade, depois lembro. A de muita gente que já foi na minha frente, esqueço. Não é minha culpa, juro que não é. A vida vem da morte, é o que dizem. Acaba obedecendo ela. Tudo que nasce morre um dia, é a verdade. Mas veja bem, hoje é o último dia do ano, é sim. Juntei o que podia, dessa semana que passou, sabe? Fumei menos, bebi menos cana, o que sobrou deu pra passagem. Não vou lá pra Copacabana. Eu sei que lá tem bastante gente, gente com mais grana do que eu, gente fodida igual a mim, muito gringo também. Mas lá a competição é bem maior, ah, isso é. Mistura tudo, quem vai correr atrás do seu com quem vai passar a perna nos outros. Preferi vim pra cá, dei um pulo no muro, peguei o trem, depois a van. Cheguei. Aqui não tem muita gente com grana, mas tem gente que bebe também. É só não dar mole, pego muita lata hoje. As garrafas de champanhe do pessoal da curimba, nem ligo, já foi tempo que vidro valia alguma coisa, hoje uma merreca que não vale a pena. Ainda bem que não choveu mais estes dias. O clima aqui anda meio pancado das ideias, não se sabe mais se é verão ou o que é. Já começaram a tocar funk, mais tarde vai ser pagode. Nem quero saber. Não tenho relógio, meu celular tá ruim, mas quando der meia-noite escuto os fogos no céu, os cachorros desesperados e muita gente fazendo promessa pra não cumprir. É cada um com seu cada um, se vierem me desejar, eu também desejo: Um Feliz Ano Novo!
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
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Quase Meia-Noite (Miniconto)
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