Deve existir um céu para os cães. Para os homens, isso eu não sei. Poucos merecem isso, então por que fazer um espaço tão grande pra tão pouca gente? Mas para os cães tenho certeza, ah, isso eu tenho. Tia Ruth deu você pra mim, não me lembro se era filhote da Lambreta, mas foi ela que me deu, isso é quase certo. Papai lhe deu o nome de Lassie, apesar de ser uma cadela, coitado, ele pensou que era um cão e lhe deu, apesar de ser mestiço, parecia mais com um pastor alemão, deveria ter sido Rim-Tim-Tim, mas não foi. Você foi um dos únicos amigos meus de infância. Nunca me machucou, não zombou da minha cara, sempre que eu queria me agradava e brincava comigo. Nunca me pediu nada em troca, só carinho, atenção e um pouco de comida, já que naquele tempo nem se vendia ração para cães nas lojas, pelo menos nas daqui e um simples lugar pra se abrigar. Pena que papai teve aquela ideia idiota de lhe colocar numa corrente passeando por cima do muro da dona Amália que no nosso lado era mais baixo. Fomos para São Gonçalo passar uns dias e quando chegamos você tinha pulado pro outro lado e acabou enforcado por uns poucos centímetros. Ser humanos só fazem merda mesmo. Eu me lembro que chorei muito, hábito que não perdi até hoje, mesmo passados mais de meio século. Você deve estar bem, muito bem, lá em cima. Quem sabe me deixam ficar pelo menos na porta pra poder lhe ver um pouco? Chorei novamente ao escrever isso...
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
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Céu para Os Cães (Miniconto)
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