Acordo todas as manhãs sem ao menos dormir,
A vida é um pesadelo mesmo se não há sustos,
A minha coragem é feita de pequenos gestos,
Dilaceram-me as carnes sem ao mesmo senti-lo...
Lembro-me de tão pequenos e cruéis absurdos,
Necessidades básicas tornadas feios fantasmas,
Velas que um simples sopro acabou apagando,
Era tão simples esse temporal antes de sê-lo...
Houveram alegrias em tempos agora já partidos,
Quando o riso era frequente nos lábios e o rosto
Colaborava com esta mais que agradável tarefa,
O meu mundo era meu e também de meus sonhos...
Imaginei as fantasias com detalhes minuciosos,
Era como um mago e suas mais sutis façanhas,
O realismo ainda não tinha acertado o seu alvo,
O alvo era eu como quem cai e não se levanta mais...
Até o que se distanciou e que nunca mais pude ver
Permanece bem perto e morando em meu coração
E já possui passagem garantida para aquele dia
Quando a minha grande viagem finalmente ocorrer...
Um cão velho e sem dentes é o que eu estou sendo,
Minha vista já está quase totalmente embaçada
E aquela pobre e fatídica falta de pernas ágeis
Não deixa nem ao menos chegar para fuçar o lixo...
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