Não tenho manto para que joguem dados sobre ele
Toda crença é mais uma questão estética de absurdos
A minha arte é andar na corda bamba sem a corda
Agora o vazio tem seu nome registrado em cartório
Quantos tiros serão necessários para derrubar a ave?
Agora as estações renderam-se ao falso modismo
Apagamos as lâmpadas com os mais débeis sopros
Não morrer no dia certo é perder o lugar na fila
Poderei guardar a água do mar com minhas mãos?
Só esperemos carícias das pedras e dos espinhos
A minha fraqueza é o que me restou de velhos dias
E os meus risos são do mais franco dos desesperos
De onde vem tal ciranda que está me deixando tonto?
Cada segundo que o relógio me dá é apenas uma perda
Falta-me olhos para as cores que nunca vi e nem verei
Cada brinquedo deve ser guardado até não existir
Qual dança a morte virá dançando até me alcançar?
Estamos fartos de bons conselhos que são fantasiosos
A mentira e a verdade possuem por nós o mesmo apreço
Os gatos sobem nos muros por serem bons estrategistas
Onde estavam as fogueiras que iluminavam as noites?
Um cego toca sua viola no meio de uma feira livre
Mas ele não é livre como a feira sempre foi e será
Sob todas as máscaras há somente feias aberrações
Quanto mais vivemos temos menos motivos para tal?
Escuto tantos barulhos vindo do lado de fora na rua
Mas deixem-me ficar aqui neste meu fiel abandono
Não sei o que é bem pior: perder algo ou não tê-lo
Quem aí que já matou esse meu amigo vento?...
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