sábado, 24 de maio de 2025

Carliniana LXXXVI ( Pois Até O Vento Já Morreu )

Não tenho manto para que joguem dados sobre ele

Toda crença é mais uma questão estética de absurdos

A minha arte é andar na corda bamba sem a corda

Agora o vazio tem seu nome registrado em cartório

Quantos tiros serão necessários para derrubar a ave?

Agora as estações renderam-se ao falso modismo

Apagamos as lâmpadas com os mais débeis sopros

Não morrer no dia certo é perder o lugar na fila

Poderei guardar a água do mar com minhas mãos?

Só esperemos carícias das pedras e dos espinhos

A minha fraqueza é o que me restou de velhos dias

E os meus risos são do mais franco dos desesperos

De onde vem tal ciranda que está me deixando tonto?

Cada segundo que o relógio me dá é apenas uma perda

Falta-me olhos para as cores que nunca vi e nem verei

Cada brinquedo deve ser guardado até não existir

Qual dança a morte virá dançando até me alcançar?

Estamos fartos de bons conselhos que são fantasiosos

A mentira e a verdade possuem por nós o mesmo apreço

Os gatos sobem nos muros por serem bons estrategistas

Onde estavam as fogueiras que iluminavam as noites?

Um cego toca sua viola no meio de uma feira livre

Mas ele não é livre como a feira sempre foi e será

Sob todas as máscaras há somente feias aberrações

Quanto mais vivemos temos menos motivos para tal?

Escuto tantos barulhos vindo do lado de fora na rua

Mas deixem-me ficar aqui neste meu fiel abandono

Não sei o que é bem pior: perder algo ou não tê-lo

Quem aí que já matou esse meu amigo vento?...

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