sexta-feira, 30 de maio de 2025

No Paradise

Quantos Nirvanas já desabaram

E outros tantos outros desabarão

Temos tantas rezas

E nenhuma oração...


A fome é o prato do dia

A solidão é nossa companhia

Não pense em mais nada

Nem na queda da escada...


Quantos carrascos já nos mataram

E outros tantos também se matarão

São tantas perguntas

E nenhuma indagação...


O medo é prova de coragem

A ida nem sempre é viagem

Não pense em mais nada

O que temos é a estrada...


Quantos Infernos já brotaram

E outros tantos já brotarão

Temos tantas dádivas

E nenhuma salvação...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Carliniana LXXXVII ( Todos, Todos )

Todo zero.

Um beijo desenfreado que não aconteceu.

Eu jurei nunca mais jurar coisa alguma.

Façamos camas nas nuvens com capricho.

Todo um.

Aquilo que nasceu destinado para a morte.

Um tango tocado com cores de uma outra dança.

Uma caravana de ciganos em direção ao mar.

Todo dois.

Rosas em espiral com toda loucura possível.

Acendamos todos os cigarros que existirem aqui.

O meu tempo acaba sendo mais um segundo.

Todo três.

A mágica do óbvio é semelhante ao sono dos cães.

Todas as palavras não admitem nenhuma escolha.

Não existe antes e nem durante e nem existe depois.

Todo quatro.

Um tiro pela culatra não deixa nunca de ser um tiro.

Jogaram a moeda de esmola no chão mais que sujo.

Aqui não há mais paredes para erguermos os tetos.

Todo dez.

Os camaleões são apenas mestres de estratégia.

Eu roubo fotografias do desamor pelas redes sociais.

Quero incendiar-me mesmo se não houver inquisição.

Todo cem.

Cada ferida tem seu destinatário e chegará na hora.

Eu perdi o medo de quase tudo exceto da tal coragem.

A fama do anonimato é a mais usada por todos nós.

Todo mil.

Não escolhemos nosso nome e nem a roupa do enterro.

Eis a nova moda - quebrar todos os ossos de uma vez.

Falta-me o ar nas veias e o sangue em meus pulmões.

Todo milhão.

A solidão é a mais nova aquisição de todos os rebanhos.

A minha fé é como areia que escorre entre meus dedos.

Um dia serei esquecido com todos assim foram sempre.

Todo zero...

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Indecisões Sob A Lua

Qualquer caminho vai dar em nada

E toda a certeza é um mero desespero

Estar dormindo pode ser o melhor que há

Todas as cores um dia ficam esmaecidas

Mas esse meu vício de andar não acaba...


Todo amor um dia vai se acabar enfim

E só nos deixará profundas cicatrizes...


Logo e estaremos na Idade da Pedra

Aonde seremos primitivos como somos

Porém sem mentirmos sobre tal coisa

Não há nada que seja mais moderno

E a nossa maldade sempre esteve aqui...


A canção pode ser bonita para a alma

Mas mesmo assim não mata a fome...


Como cangaceiros sem ter algum sertão

Mas também sem glória para carregar

Pensamos que alguma coisa deu certo

Mas isso é apenas mais um ponto de vista

Que somente os cegos têm quando deliram...


Os rastros de todos os pássaros surgem

Mesmo quando estão nos ares em bandos...


Faltou algum mármore para os astronautas

E comemorações apenas imaginadas que são

Uma herança que nunca vai nos dar bem algum

Mesmo se esses ao alcance de nossas mãos

No mesmo afã de poder ao menos respirar...


Há toda uma bela vitrine cheia de escolhas

Mas a pressa nos impede de acertar no certo...


Tenho o hábito de acordar inúmeras vezes

Mesmo quando não estou ainda dormindo

Sótãos e porões agora não servem de abrigo

Chuvas de bombas fazem o mais novo enfeite

Não sei se me transformo ou não sob a lua...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 27 de maio de 2025

Tragédia à La Grega

Cabelos de um emaranhado de sol que não sei

Espelhos apavorados por uma tal novidade

Nunca tive mais forte do que em minha fraqueza

Um painel épico para as paredes de uma padaria

O tira-gosto sempre acaba deixando mais um...

Consigo escrever epopeias com alguns monossílabos

Mas as minhas declarações de amor ou são caladas

Ou são cheias da mais pura de todas as prolixidades

Como assim deve ser todos aqueles que são tolos

Ou ainda que carregam dose excessiva de loucura...

Queria fazer um curso para ser logo um faquir

Mas ainda não escolhi quais espinhos de rosas usarei

Para construir um novo colchão para o meu descanso

Isso faz parte daquele meu contumaz arrependimento

Por certas dores que deveria um dia ter passado...

A nudez dela mesmo quando está toda assim vestida

As centenas de beijos que ainda guardo em minha boca

Todos os nossos pecados sempre foram brindados

E o nosso tesão mesmo que destruído ainda permanece

De forma desconhecida por todos os olhos que olham...

Antiquadas tecnologias mais do que tecnológicas

Em que pulamos direto para as mais acesas fogueiras

Em noites enluaradas sem alguma lua que console

Esfregando seu sexo perante a câmera em uma live

Eis a nossa confissão de pecados que não cometemos...

Uma andorinha só não faz estação alguma que exista

Nesta multidão de muitos sozinhos nos encontramos

Porque assim foi desde que começamos a jornada

Nenhum sono pode ser dormido por mais de um só

Assim como o sono maior que afinal todos têm medo...

A mesa agora está posta e o conviva ainda não veio

Não sabemos se ele se atrasou ou se foi o tempo que

As montanhas agora são construídas apenas de papel

E a palavra só desliza pelas asas da internet

E o nosso arroz acabou virando mais uma tragédia...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 24 de maio de 2025

Nada de Novo na Fonte

Nada de novo na fonte

São os enganos que continuam por aí

Pensamos que pensamos que pensamos

Mas somos apenas fantoches

Dia após dia, momento após momento

Toda vontade sempre foi manipulada...

Não pense em alcançar as estrelas

E nem pense em batalhas épicas

O que pode nos alegrar está aqui

Nas coisas mais pequenas possíveis

Coisas pequenas que passam

Mas que podem nos trazer contentamento...

Esqueça qualquer uma vitória sensacional

Tudo é assim: começo, meio e fim

Só nos restará a lembrança na alma

Assim como temos velhas cicatrizes

Que um dia doeram de alegria ou tristeza

Mas isso agora pouco nos importa...

O mais importante é nos lembrarmos

Que entre todas as vitórias e derrotas

Fomos humanos o suficiente para erros

E que se superamos foi á nós mesmos

Mesmo que isso tenha fugido de nossas mãos

Naquilo que um dia chamamos - vida...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Carliniana LXXXVI ( Pois Até O Vento Já Morreu )

Não tenho manto para que joguem dados sobre ele

Toda crença é mais uma questão estética de absurdos

A minha arte é andar na corda bamba sem a corda

Agora o vazio tem seu nome registrado em cartório

Quantos tiros serão necessários para derrubar a ave?

Agora as estações renderam-se ao falso modismo

Apagamos as lâmpadas com os mais débeis sopros

Não morrer no dia certo é perder o lugar na fila

Poderei guardar a água do mar com minhas mãos?

Só esperemos carícias das pedras e dos espinhos

A minha fraqueza é o que me restou de velhos dias

E os meus risos são do mais franco dos desesperos

De onde vem tal ciranda que está me deixando tonto?

Cada segundo que o relógio me dá é apenas uma perda

Falta-me olhos para as cores que nunca vi e nem verei

Cada brinquedo deve ser guardado até não existir

Qual dança a morte virá dançando até me alcançar?

Estamos fartos de bons conselhos que são fantasiosos

A mentira e a verdade possuem por nós o mesmo apreço

Os gatos sobem nos muros por serem bons estrategistas

Onde estavam as fogueiras que iluminavam as noites?

Um cego toca sua viola no meio de uma feira livre

Mas ele não é livre como a feira sempre foi e será

Sob todas as máscaras há somente feias aberrações

Quanto mais vivemos temos menos motivos para tal?

Escuto tantos barulhos vindo do lado de fora na rua

Mas deixem-me ficar aqui neste meu fiel abandono

Não sei o que é bem pior: perder algo ou não tê-lo

Quem aí que já matou esse meu amigo vento?...

Pedido de Ajuda do Autor Deste Blog

Estimado Visitante:

Sobretudo se você visita o meu blog e é do Brasil, vai aí meu pedido de ajuda para que eu possa continuar a postar meus poemas.

Qualquer contribuição será bem vinda.

Isso poderá ser feito através do seguinte pix:

21 96907 3872 (Leonardo).

Desde já muito agradecido. 

Quer Comprar Um Poema?

Quer comprar um poema?

É baratinho... Custa tão pouco...

Menos do que você possa imaginar...


Será um poema feito de nuvens...

Com algumas rimas tímidas e bobas...

Aquelas que eu puder achar...


Na verdade eu gostaria de guardá-lo 

Assim no meio de muitos que já fiz...

Mas o rio é assim, não pode parar...


Quer comprar um poema?

Prometo que vou esquecê-lo!

Prometo não mais me lembrar...


Esquecerei a data que o fiz

O motivo da minha tristeza

E o porquê estava a chorar...


Mais que um ghost writer

Estou virando um shadow writer...

Não há como evitar...


Quer comprar um poema?

Custa menos que um maço de cigarros

O cigarro que vai um dia nos matar...


Não será um soneto... Nem um haicai...

Não terá beleza... Nem terá alegria...

Mas sentimento, isso sim, terá...


Vai, compra aí, está na promoção

Eu gostaria de guardar todos eles...

Mas compra pra me ajudar...

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Carliniana LXXXV ( Comendo Os Ossos e Roendo A Carne )

São apenas mais alguns girassóis mortos

Nosso pavor em sussurros silenciosos

O hoje é quase o ontem só que está pior

Minha inocência é um labirinto tão escuro

A porta de saída pode dar em nada mesmo

Eu peço um cigarro e acho que ninguém tem

As minhas razões são pedaços de papel

Fazer rimas sem propósito pode um ofício

Quase como fosse um artesanato da mente

A minha idade é maior do que das pedras

Tudo que é distante pode estar mais perto

A dignidade e a teimosia são quase primas

As dores me doem menos que as desilusões

As esmolas do destino até me queimam mais

A arte e a vida sempre estarão brigando

Voar não significa poder ir para os céus

Vou estar vivo até o último momento da vida

Ironicamente acabou toda esta minha ironia

O último a sair que quebre de uma vez a lâmpada

Nenhum amanhã merece o que o hoje recusou

Todas as minhas feridas estão em seu lugar certo

A humildade e a humilhação jogam damas agora

Escolher o nada pode ser uma opção plausível

O pulo do gato acabou virando curso com diploma

Vou economizar meus pensamentos para depois

Qualquer desculpa é um modo novo de hipocrisia

Em terra de banguela quem tem um dente é rei

Vou rabiscar novas epopeias nas paredes do banheiro

O único prêmio que ando merecendo é uma porrada

Não sou nem um cão e nem tenho mais um osso...

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Ilustre Desconhecido

Com a corda dos sonhos que morreram

hei de me enforcar na árvore da ilusão...

Irei seguir o rastro dos amores que partiram

até que não consiga retornar nunca mais...

Não há mais palavras que eu conheça

e eu sou um estrangeiro daqui mesmo...


Onde estão as nuvens de meus céus

que um dia me acostumei à brincar?


Com a máscara do espelho me esconderei

não me importando se o vidro irá me ferir...

O meu sangue ainda corre nos rios das veias

mesmo que estando quente já está frio...

Minha calma é composta do desespero

que não me deixa sair desta gaiola suja...


Onde estarão todas estas alucinações

que são pedaços de uma realidade cruel?


Ilustre desconhecido em meu próprio ninho

esqueci todos os nomes e todas as suas cores...

O meu riso acabou me derrubando no chão

e daqui não me levantarei em tempo algum...

A minha sonolência é de uma outra espécie:

é a dos que bebem sem beber e morrem sobrevivos...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

quarta-feira, 21 de maio de 2025

O Ontem É O Hoje Que Chegou Atrasado

Desprovido de todos os sotaques possíveis,

Fazendo apenas as coisas mais terríveis,

Estou me estrangulando na frente do espelho,

Até meu rosto ficar ou azul ou vermelho...

Me falta o ar, me falta o ar!

Pulei o carnaval, mas não sei sambar...


Eu sou o miserável sem uma conta bancária,

Sem coragem alguma, nem uma alma operária,

Corro de medo das luzes dos carros,

Junto para depois as pontas dos cigarros...

Me falta o blue, me falta o blue!

Mesmo estando vestido me sinto nu...


Palhaço sem graça num circo sem picadeiro,

Nem como e nem bebo por não ter um dinheiro,

Maldita seja a hora em que eu nasci,

Eu vim do inferno e ainda estou aqui...

Me falta o tom, me falta o tom!

Não há tanta diferença entre mau e bom...


O ontem é o hoje que acabou chegando atrasado,

Cada lado acaba sendo na verdade o outro lado,

Eu tenho os castigos que não mereci

E lamentar não adianta... E daí?

Me falta o mar, me falta o mar!

Tempestades agora são canções de ninar...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Carliniana LXXXIV ( Passos de Um Cão Sem Pernas )

Acordo todas as manhãs sem ao menos dormir,

A vida é um pesadelo mesmo se não há sustos,

A minha coragem é feita de pequenos gestos,

Dilaceram-me as carnes sem ao mesmo senti-lo...

Lembro-me de tão pequenos e cruéis absurdos,

Necessidades básicas tornadas feios fantasmas,

Velas que um simples sopro acabou apagando,

Era tão simples esse temporal antes de sê-lo...

Houveram alegrias em tempos agora já partidos,

Quando o riso era frequente nos lábios e o rosto

Colaborava com esta mais que agradável tarefa,

O meu mundo era meu e também de meus sonhos...

Imaginei as fantasias com detalhes minuciosos,

Era como um mago e suas mais sutis façanhas,

O realismo ainda não tinha acertado o seu alvo,

O alvo era eu como quem cai e não se levanta mais...

Até o que se distanciou e que nunca mais pude ver

Permanece bem perto e morando em meu coração

E já possui passagem garantida para aquele dia

Quando a minha grande viagem finalmente ocorrer...

Um cão velho e sem dentes é o que eu estou sendo,

Minha vista já está quase totalmente embaçada

E aquela pobre e fatídica falta de pernas ágeis

Não deixa nem ao menos chegar para fuçar o lixo...

Minhas Meleca I

Berreco era um cara mais importante

Tinha a buzanfa de um elefante

Cagava merda de noite e dia

Mas só mijava dentro da pia...


Pois é pão velho, pois é pão novo

Pão com sabão e pão com ovo

O seu dentado não é acostumado

A comer um bão cozinhado...


Bizico era o mandão da estribeira

Vivia sempre pra fazer besteira

Fumava pó e cherava maconha

Nunca teve um pingo de vergonha...


Toma porrada pra lá, porrada pra cá

É muita porrada presses beiço inchar

Um dia ele morre e vai pro inferno

E até o Capeta vai botar terno...


Mané Mindiguim quando bebia chaça

Só queria saber de fazer pirraça

Botava a freguesia toda pra fora:

Seus filho-da-puta, vai tudo simbora!


Pobre dele que num foi pro céu

Mas acho que já foi lá pro beleléu 

Foi pra lá montado num cavalo manco

Ou no burro sem rabo que pega no tranco...


Lurdinha era malandra do pé de goiaba

Era lá de cima que dava aquela raba

Fazia um feijão gostoso de linguiça toscana

Mas gostava mesmo era de uma banana...


Pobre da moça que pelo dito envelheceu

Já tá viúva e é mãe e vó de fariseu

Se mostra tudo ninguém mais lhe nota

Isso até o dia que vai bater as bota...


...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 20 de maio de 2025

Muitcho Danié

Pruquê neissa vida tem muito Danié

Ah se tem madruguento zerado de pulha!


Tem (tinha) o Danié bicuda miseráve

Que morava pra lá do Juidas

Mano do Basto cara de paca zimbuda

Danié dorava dá bucho frito burracha

Pra quem num puixava o saico...

Que o Diabo o tenha mais que seimpre

E que te dê uma caiganera por dia!


Pruquê neissa vida tem muito Danié

Ah se tem madruguento careta de ferrolho!


Tem (tinha) o Danié aqui de pertinhu

Que agora se foi pruma faivela quarqué

Essi num valia a maiconha qui fuimava

Essi inganaiva até o muribento cainino

E faizia até o quiabu se escorreigar...

Seivirço daiva mais coiceira nu pobrezico

Duquê a ziquizira que tinha no coiro!


Pruquê neissa vida tem muito Danié

Ah se tem madruguento malandrico fanta lairanja!


Tem (tinha) o Danié de mai pertinhu inda

Que daiva uma de machu(cado) tadim

Aigora tá comeindo marmitinha azeida

Vistido de ropa de buirro quando fogi

E uisa mais o burruco dique a bilolinha...

Isperto é água moirna meo cumpadi

E si bobiá eila fica logo fria!


Pruquê neissa vida tem muito Danié

Ah se tem madruguento teim pió queoutro!


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 343

Eu vejo os dias nascerem, 

Todos eles calmos e tímidos,

Escondendo dramas e fatalidades,

Como o crupiê esconde o ás na manga,

Como jagunço que faz a tocaia,

Como o rio cruel e a maré falseando...

Lá vem os dias com seu cúmplice tempo!

Fabricando escombros e desilusões...


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Peguei um pedaço de alegria

(Como quem pega um pedaço de rapadura)

E guardei-a no bolso para mais tarde...

Me apossei de um fragmento de sonho

(Estaria seguro aqui em meu bolso?)

Para que um dia ele pudesse acontecer...

Engoli meu amor com toda pressa

(Se estava quente ou estava frio nem notei)

Para que não o perdesse de uma vez...


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Acordei de madrugada,

Acho que acabei sendo ela...

Vejo o sol todos os dias,

Principalmente esse em mim...

Faço carnaval o ano todo,

Sou folião de todas as horas...

Vejo uma nuvem multicolorida

Que me fez e faz criar asas...

Acordei de madrugada,

Mas hoje não tinha lua para uivar...


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Vejo séries antigas em preto-e-branco

Aproveitando para rir risos há muito não ridos...

Estarão todos mortos ou alguns ainda vivem?

A vida é um menino que quer jogar cartas

Mas não sabe quais são as figuras do baralho...

Como já dizia minha avó em sabedoria bruta:

- Quase tudo pode, mas adivinhar é proibido...


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Fiz um barco de papel

Com todo o capricho de ocasião,

Um barco sério, meticuloso,

Mas só não tem nem tripulação,

Ele tem pressa de ir embora,

Mesmo me deixando na solidão,

Corre então por essas calçadas,

Nunca conheceu o ribeirão...


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Pois é esse mudinho que escolhemos,

Mudinho pequeno em tamanho grande,

Que nos manda o tempo todo que há,

Onde tiros de festim matam bem mais

E quem pensa o faz por conta e risco!


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Miro em frases

Acerto em versos

Grandes ou pequenos

Curtos ou longos

Tanto faz...


A poesia é bela

Mesmo se feia

E sua nudez

É tão mais relativa

Estando nua

Ou estando seminua...

Carliniana LXXXIII ( Na Faixa Etérea )

Jogadores compulsivos de damas

Em praças assim mais que públicas...

Observadores do tempo desperdiçado

Nas mais velhas modas do momento...

Filosofias que acabam generalizando

Tudo aquilo que aconteceu uma vez só...

Eu estava errado em não cometer erros

E deveria ter dado com a cara na parede...


Há muitos cadáveres mais que insepultos

Que nos recordam nomes e alguns risos...

A menina que foi morta em algum jardim

Quatro tiros nas costas dados por alguém...


Nem todos os nossos crimes são pecados

E nem todos os nossos pecados são crimes...

Os azuis das asas de nossas borboletas

Agora nos trazem a armadilha mais cruel...

Fico esperando o meu delivery de agonia

Enquanto meus dias acabam encurtados...

Cada sonho é uma tocaia bem montada

E a vítima não morrerá mas vai agonizar...


Abri a porta do meu manicômio particular

E acabei perdendo a chave não sei onde...

Gasto o que sobra dos meus pobres dias

Com enigmas da mais extrema clareza...


Nossa maestria nas coisas mais duvidosas

Constroem e destroem os castelos de cartas...

Os dois patinhos ainda nadam pela lagoa

Mas o problema é que ela anda tão seca...

Uma dose de uísque triplo aqui na mesa 4

Para o distinto cavalheiro que nunca bebeu...

Os meus dedos acabam sempre confundindo

Nesta maior de todas babilônias de idades... 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Depois Não!

 

Estar perdido em alguns passos

Não medindo mais espaços

A minha pressa esperou demais

Nenhuma guerra pode trazer paz

Quero comprar asas na liquidação...

Calma, vai dar certo! Amanhã? Não!


Deletem logo estas bobagens

Elas não passaram de miragens

Qualquer hora dessas vou sem avisar

Quem vai garantir que algo sobrará?

O que sobra vai dentro de um caixão...

Calma, vai dar certo! Amanhã? Não!


Todo rio passa e ele não volta

Toda ingratidão traz uma revolta

Eu tentei ser bom e não quis ser mau

Isso tudo foi bem antes do temporal

Quem me chama agora é a solidão...

Calma, vai dar certo! Amanhã? Não...


Amanhã? Amanhã, não!

Hoje, depois nunca mais!...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Carliniana LXXXII ( Game Over )

Game over.

Game cover.


As pedras cantam em um coral.

Até os tristes fazem um carnaval.

Agora até o particular virou geral.


Game over.

Game cover.


Meu amor é quem mais me desama.

Nem todo compromisso é um programa.

Pode haver frio até no meio de uma chama.


Game over.

Game cover.


Agora até a calçada pode ser moradia.

O sol sai todas as noites e a lua sai de dia.

Qualquer besteira que agrade virou poesia.


Game over.

Game cover.


Todos os rios vão para o mesmo lugar.

Cada forma de amor é uma forma de amar.

A felicidade do silêncio é uma forma de cantar.


Game over,

Game cover.


O velho camaleão muda a sua aparência.

Mesmo a loucura possui uma sensata ciência.

Todo pecado é uma simples forma de demência.


Game over.

Game cover.


Isso aqui nunca foi e nem será nossa casa.

Se eu não voar a culpa não vai ser de minha asa.

Um coração frio pode ser aquele que mais abrasa.


Game over. 

Game cover...

Ainda Não

Ainda não tivemos tempo suficiente:

 para descobrirmos o valor real do tempo

 que não necessita de coisas vãs e mesquinhas

 que seu valor real está na simplicidade e na ternura...


Ainda não tivemos coragem bastante:

 para gritarmos na altura mais alta

 contra a tolice de todos os malvados 

 que hoje dominam o mundo por nossa culpa...


Ainda não tivemos amor na medida exata:

 esse mesmo amor que necessitamos tanto

 o mesmo amor que sempre jogamos fora

 e que deveria ser distribuído pelo mundo todo...


Ainda não sonhamos como deveríamos:

 confundimos o nosso verdadeiro sonho

 com aquilo que acabam nos impondo

 e que afinal nunca foi e nem será nosso...


Ainda não escapamos da armadilha dos sentidos:

  acabamos achando que é básico o que não é

 pagamos tão caro pelo que não tem valor nenhum

 a realidade não é tão malvada como parece ser...


E ainda possuímos o medo que não existe:

 vida e morte nunca foram grandes inimigas

 ambas são essencialmente necessárias 

 e andam sempre caminhando de braços dados...


Ainda não...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Nós, Os Clowns

Para a chegada da solidão

Caminhos totalmente abertos.

Para o triunfo do nosso medo

Apenas um estalar de dedos.


Para a flor que não desabrochou

Ofereço todas minhas lágrimas.

Para o temporal que não veio

Meu sincero muito obrigado.


Afinal, o que somos nós?

Palhaços no picadeiro

Mas o espetáculo nunca começa...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 12 de maio de 2025

MaraRique

Tirrebento us coirno nazarenta

Num teim adisculpa sua nuzenta

Qui o Cramulha ti abenza di boista

Iti mijie nesça boica abierta

Pururaca praiga de maldrinha 

Buiceta di maizi di parmo i meiu

Qui goteri caina na teo bairraco

I tuia aboca teje abeirta i ingula tuido

Atéi qui tui vumite feitu poirca quié

Lei ié lei suija vanica piramba

Nuim foi neim nui inteirro dái minina

Dizqui eila taiva qui neim mimindo

Sói faizia malu praiela merminha

Queibro teo bairraco filhaduunha seica

Tirrebento us coirno nazacrenca 

Coimida di mailuco caichacento

Qui u demonho saimbe incima do teo caixião

Meileca di uim poirco mai qui inchadu

Meirece seija xingaida nu meiu dái proicissão

Buneco de Juidas caigado di meirda

Tirrebentu eisse limpaidô di laitrina 

Eispinho nui péi di penitenti e di retiranti

Sói nuim tixingu purque ié elogio...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 342

Divertidas tragédias...

Malvadas comédias...

Caiu no chão e quebrou. 

O amor me magoou. 

Não sei mais quem sou...


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A carpideira morreu de rir.

Minha ferida é a rotina.

Sou menos do que meu cão.

A poesia é meu veneno.

Até o rei irá embora um dia.

Os palhaços também choram.


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A vida... Um solo qualquer...

Mesmo com grandes orquestras...

O pássaro canta um enigma...

O compositor é  o destino...

Em que idioma foi feito?...

Não se decifram corações...


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As minhas ruas são minhas.

Mas os meus caminhos não são.

Eu mando em todas as nuvens.

Mas as chuvas não me obedecem.

Eu tento fazer somente o bem.

Mas o mal é que habita em mim.

Minhas asas possuem muitas penas.

Mas todas elas são de sofrimento...


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Toda lógica é ilógica.

Toda vida é cronológica.

Os segundos correm.

Os tiranos também morrem.

Todo amor termina.

Toda ação é uma sina.

Aperta-se um botão apenas

E a luz está apagada...


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Viver cada dia como se fossem todos

E não sobrasse mais tempo algum...

Amar todo amor que possa existir

Como se fosse uma invenção sua...

Sonhar todos os sonhos que estão no ar

Como se pudesse somente respirá-los...

Comer toda a poesia com a tranquilidade

De um menino que queria aquele doce...


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Mística e mágica a tragicomédia dos dias

Mesmo quando não a enxergamos como deveria

Todas coisas simples se igualam a enigmas

Todos os átomos acabam nos ensinando lições

Todas as pedras fazem os mais exímios discursos...

 

Nai Teirra du Naida, Nu Dia du Impossive

Muriola com cerveija é bão! Vaile mais que um milhão! Sairdinha cum tuibarão? Isso vai dair confuisão... Feiliz ié u gaito! Qui naum preicis...