quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Filosofia

Eu como meu silêncio em silêncio

Em pequenos pedaços e bem pequenos

Escolho as roupas que não combinem

Sobretudo as que são mais esdrúxulas

O doce deve ser consumido com sal 

Bom-dia seus grandes filhos-da-puta

Afinem de uma vez essa merda de piano

Posso falar ou não posso?


Eu vejo quase tudo e finjo não ver nada

Testemunhar pode ser o que há de fatal

Macaco velho não põe mão na arapuca

O celular agora é quem manda nessa porra

Conforme diz aquele maldito popular

Se a farinha é pouca pode engasgar com ela

Tenho manhãs de anjo e noites de Cão

Posso gritar ou não posso?


Eu sinto muitas coisas que a tela não aceita

Os cirurgiões estão agora em ritmo de funk

Hoje é dia de pão com mortadela e cachaça

O segredo da poeira é ser servida em copos

No dia do cabelo maluco eu raspei o meu

A nossa vergonha acabou morrendo de velha

O pobre do Jeca agora fez seu doutorado

Posso berrar ou não posso?


Tudo o que eu quero é ilegal e imoral ou diet

Eu pedi um dengo e me deram um soco na cara

Juro que nunca mais morderei a língua nativa

Comprei um pião eletrônico muito legal mesmo

Fui rezando para que o vento levantasse sua saia

É bem mais educado comer com a boca aberta

Para ter sol amanhã eu fiz logo a dança da chuva

Posso uivar ou não posso?


Eu penso no anonimato porque que é arriscado

Caprichem no molho do meu radinho de pilha

Tubarões agora usam sapatos de couro de jacaré

E na tenda do malandro ocorrerem muitos milagres

Só deliro nos dias pares e nos dias ímpares também

Ganhei um choque no aparelho que está desligado

Posso grunhir ou não posso?


Eu me perdi numa selva de perigosas balelas

Só apoiarei aquele que nunca na vida me apoiou

Fiz um curso de como fazer ignorâncias caseiras

Jujuba de caju é muito bom para nossos dentes

Fui ali catar uns cacos e acabei me tornando um

Já morri tantas vezes numa mesma esteira

Posso latir ou não posso?


Fatídico agora é meu sobrenome de família

Bah acabei sentando no ferrão do marimbondo

Queimo tubo de pólvora na mão e nem dói mais

Mercedes bebia cerveja até no palito de dentes

Vou fazer uns biscates pra perder uns trocados

Marinheiro que sabe nada cai também no fogo

Posso miar ou não posso?


Eu como meu silêncio em altos brados

Em pequenos pedaços e bem pequenos

Escolho as roupas que estão rasgadas

Prefiro os salgados feitos anteontem

O sal deve ser comido com açúcar

Bom-dia seus grandes filhos-de-égua

Afinem logo esse caralho de pandeiro

Posso falar ou não posso?


(Extraído de "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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