quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Poema Quase Inocente


Morde os lábios,

Quase come a língua,

Olha para a câmera

Feito um demônio inocente,

Não sabe o tempo exato

(Segundos? Minutos?)

Mas o gozo será o ápice

E também a aniquilação.

Tirou a roupa,

Ficou com a outra,

A pele é uma simples moda

Como outra qualquer...

Entrou na rede,

Está na nuvem,

Numa nuvem sem céu

Em que estrelas desconhecidas

Mostram que o nome

Não significa nada. 

Trilha sonora,

Um som mais mudo,

O desconhecido se conhece

Para milhares de olhos

Que se alimentam 

De um simples anonimato.

Palmas que não escuta,

Palavras que não ofendem,

Moedas de uma pobreza

Que dá mil gritos 

E que dá mil saltos.

O teu escravo é teu senhor,

O invasor acabou 

Entrando pela porta aberta.

A porta aberta,

A janela aberta,

A morte inexistente.

Não importa tua cor,

Teu gênero não importa,

Toda dor não é parecida,

Toda dor é igual.

A dor que finge 

Ou é verdadeira,

A dor que ri 

Ou chora também fingindo.

Era tudo,

Não era nada,

Humano talvez pela forma.

Um tecla apertada,

Um dedo na tela

E estará acabado.

Morde os lábios,

Quase come a língua,

Será um, 

Será dois,

Será quantos forem,

Obedecendo e mandando,

Nada mais rápido,

Nada mais nulo,

Abominação e não,

Bata o martelo,

Profira a sentença,

A multidão é um esconderijo,

O orgasmo foi apenas

Anterior ao próximo...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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