Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
domingo, 30 de outubro de 2022
Urbania II
sábado, 29 de outubro de 2022
(Im)Percepção
Abraça um tango chinês com desvarios que só o violino pode nos dar. Homem ao mar! Homem ao mar! Na garupa de um unicórnio galope em prados azuis com tons mesclados de rosa-choque. Não procurei mais nada, o palheiro incendiou quase agorinha. Meus cigarros têm alguma pressa. Madeira, pregos, uma lata de sardinha vazia e o fogareiro está pronto! Eu tenho mais tatuagens do que o vulgo imagina... Não sei de mais nada, mas a velha máquina ainda funciona um pouco. Até quando? Isso não é pergunta que se faça. Minha bula não era papal, mas determinava ordens expressas. Um vento de sol dançava margaridas de todas as cores (desde que fossem brancas...). Uma pintada de sal, outra de açúcar, outra de saudade, a sorte está lançada, mesmo que nos faltem dados e algum evento inédito. Eu mesmo me condeno, eu mesmo prescrevo a minha pena e caio na gargalhada, sou mais um bêbado solitário em multidões nervosas. Minha fome sofre de amnésia crônica e minhas unhas doem quando penso em alguma coisa. Levantem as cortinas e comecem o novo show! Hoje teremos encenações baratas e óbvias sobre um cálculo que deu errado. O auto acabou de passar, mas eu não tinha chegado no ponto. Na hora exata, estarei quase lá. A fila anda, se tiver fila... Dou bom-dia até aos mosquitos que estão nas paredes fartos do meu sangue, somente esqueço de mim. Pobre espelho, tem que repetir a mesma cena quantas vezes quiser eu. Pensei em algo, juro que pensei, mas os bárbaros estão lá fora, querem invadir meu frágil castelo de ilusões inocentes e maliciosas. Todo som agora é bem-vindo, inevitável de acordo com o que foi decretado. Haviam lembranças que evito com assovios desnecessários. Pés manipulando areias, isso sim. Não como eu queria, mas as flechas acabam conhecendo seu caminho. Namastê, Zan-Zan, a chaleira já chia no fogo. Estamos irreconhecíveis como todos os outros ficaram também. O Forte caiu de fraco. Um sabor desagradável de conhecimento é o que eu quero. Estamos parados nesta correria toda. A partida já é chegada e os quartéis tremem em alvoroço. Uma balada cigana em pleno carnaval precisa de algumas carpideiras. Tudo muda de nome hora dessas. Meus erros são propositais. Deu águia na cabeça! E coceira nos pés! Javalis assados já valem alguma coisa... Borboletas malvadas brincam de vampiros. Eu bebo mais que a bebida. Pode assinar aqui onde tem um xis. O bolo está pronto, mas ainda está quente. Toda nudez será notada. E receberá inúmeros likes por conta disso. Todos os rádios eram do mesmo tom, plásticos até. Nova ciência acabou de nascer. É muito inglês para meu humilde sotaque eslavo. Bombas festejam quando querem. Quando não, acabaram se emocionando, mas só um pouco. A mentira pari muitos filhos. Estou aqui, mas em outro lugar desconhecido. Meu chá acabou de chegar, o motoboy foi até muito solícito. Entre gregos e troianos acabaram indo todos embora. E o tango continua...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 206
Passarim caiu do alto,
Passarim não sabe nadar,
Caiu, se afogou,
No lago do meu chorar...
Passarim veio de longe,
Veio de qualquer lugar,
Caiu, não morreu,
Mas soube se machucar...
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A lâmina que fere. O metal que mata. Não há mais tempo para passadas brincadeiras. Há poeira suficiente para nos sufocarmos. Eu gostaria de ser mais um entre alguns. Mas a dança da morte requer minha triste coreografia. Eu tropeço em meus passos e minha cara vai beijando a lona. Minha salvação - alguns versos me levantam, mesmo quando tonto. Minha mãe me embala, suavemente, mesmo não sabendo que estou morto...
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Me perca, se quiser, a floresta é densa e perigosa. Não há jeito de sair ileso. Aqui não há saída de emergência. Todo som pode ser enganoso. Toda festa terá seu final. Palmas e vaias pouco definem qualquer apreço. Os índios e os ciganos conhecem suas fogueiras. O meu vidro embaçou, culpa das lágrimas. A verdade não conhece cor alguma. Há mais fantasmas no meu armários que estrelas num céu grande. Enganaram-se todos, principalmente os mais sábios. A tolice assobiou uma canção e todos acabaram gostando. A floresta não tem nome, já que seu nome é vida...
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Notas musicais
Preenchiam-me a alma
(e com isso matei o tédio
sem pena alguma...)
Cores possíveis
Pintaram-me o rosto
(mais do que um clown
um arco-íris...)
Sonhos diversos
Todos tão bonitos
(até minha musa
ficou com inveja...)
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Alto no céu (céu)
Fundo no mar (água)
Não estamos onde estamos
O que temos? Mágoa...
Perto da vida (vida)
Quase na morte (fim)
Eu tenho vários enigmas
Onde que estão? Em mim...
Junto do nada (nada)
O talvez (talvez)
Caminho nas sombras
Meu medo? O fim de mês...
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Toda rotina
Assassina
Ou pelo menos desanima
Todo tédio
É médio
Ou não tem remédio
Toda cobiça
Atiça
Ou não tem justiça
Toda rotina
Assassina
Ou é a guilhotina...
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Nem quando nem nunca
Os meus passos doem por si
Não há melhor carrasco
Do que eu...
Eu sou a chuva que não posso ficar sob
O sol que abrasa minha solidão
Toda história dispersou-se
Nos mais variados pedaços...
Não há remédio algum
Quando a doença é o tempo
E mesmo estando em várias águas
O fogo já se apagou...
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segunda-feira, 24 de outubro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 205
Todos loucos...
Tua nudez bem vale um jardim de goiabas e teu rosto de sol, acho que mais ainda. Nunca entendi de signos, mas assim mesmo escrevo em estrelas. Eu faço uma festa de pequenos detalhes, será até não poder mais. Tudo tão igual... Meninos e meninas desenham flores e pássaros em generosas areias e eu bato palmas, mesmo que sob algum desespero que me traz comoções. Ontem mesmo, abria a jaula de leões procurando algum colorido, talvez com maios ou setembros para um ano inteiro...
Todas loucuras...
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Quando brinquei de nomes
Eram todos eles azuis...
Não estava me lembrando
De alguma outra cor exata...
Quando brinquei de céus
Exagerei nas nuvens...
Todas elas me davam
Os mais reais jardins...
Quando brinquei de amar
Feri-me gravemente...
Quantos espinhos irão
Esconder tantas rosas?
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Infinito sem cor
De uma morbidez imediata
Que salta aos olhos
Nunca mais haverão versos sinceros
Enquanto o tempo ainda for tempo
E ao mesmo algum sequer
Eu quebrei todos os vidros possíveis
Enquanto o caminho
Era apenas mais um desconhecido
Numa métrica tão exagerada
As palmas se desfazem em folhas
Que caem mortalmente tranquilas
Assim são meus domingos
Tristes como todos eles são...
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Em quase mil anos que te vivi, tudo era apenas um tédio venenoso que suspendia-me pelas paredes. Qual mosca na teia sem apresentar desespero, apenas silêncio. Estão chegando novas tempestades, mas as velhas continuam seu roteiro. Velhas manchas na tinta antigo, quem poderá me livrar? Talvez o mistério, companheiro de inumeráveis eras que ajudou a esconder meus inocentes pecados. Numa ladeira está o destino de cada um de nós, mas desconhecemos qual nosso sentido...
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Havia um rio como qualquer outro. Azul? Verde? Depende de olhos para esses detalhes. Parado? Ligeiro? Não queremos entender de tal malabarismos, pelo menos por agora. Saudades doem mais do que espinhos, pode anotar isso. Somos de um tempo de simples toques e, aí, tudo acabou caindo. Havia um Rio que tentava me engolir. De uma vez só? Me come aos poucos? Depende de quantas calçadas existentes. Original? Repetitivo? Não sei, acabei virando solenemente meu rosto para o lado, não quero me lembrar jamais...
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Era um galope extremo. Como um pássaro que foge, meu cavalo de ilusões foi estrada à fora. Uma taquicardia que me aflige sem ao menos me matar. Não relembro de batalhas antigas, cada dia surge uma nova. E como saio ferido. Talvez um dia consiga escutar um samba-canção sem ao menos chorar. Eu trago pés e mãos atados e pés feridos. Toda tristeza é inevitável, afinal, somos o que somos...
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Rei deposto
Rei morto
Rei posto
A maldade é o prato do dia dos homens
A sã loucura está em falta no mercado
Quanto pior, melhor - eis o nosso lema
As asas já chegam quebradas da fábrica
Rei deposto
Rei morto
Rei posto
A mediocridade chega, saúda, pede passagem
Novas cores são inventadas para cegarem
O poeta é o clown sem ter qualquer picadeiro
A fome nos anima cada vez mais ao desespero
Rei deposto
Rei morto
Rei posto...
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sábado, 22 de outubro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 204
Onde estamos?
Onde nem esperamos...
O sonho já acabou,
Mas ninguém acordou...
Pensamos que subimos,
Mas apenas dormimos...
Um som atrapalha a canção,
Deve ser nosso coração...
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Eu não sei andar de bicicleta,
Nunca nem ao menos tentei,
Nas poucas vezes que fui na garupa
Tive medo e como todo medroso - gelei...
Pelo menos não posso reclamar,
Pois nunca caí...
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Os dias te enganam...
Não são dias,
Nunca foram,
São noites disfarçadas...
As alegrias te confundem...
Todas elas,
Quando menos se espera,
Trarão algum choro...
Os amores te enganam...
Não acariciam apenas,
Deixam marcas
Que nunca sairão da alma...
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Os poetas não possuem mais tempo,
Não que o desperdicem como os burgueses
Que tentam de uma vez engolir o mundo...
É que agora as tempestades são frequentes,
Mesmo sobre estas eles devem escrever...
Todo antagonismo merece ser lembrado,
Se não for, será apenas falta de talento
(O que agora quase virou moda),
Gosto muito de rosas, mas até seu cheiro
Acaba de vez em quando enjoando...
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Não sou filósofo,
Não procuro solução alguma
Para problema algum...
Não sou cientista,
Não quero estripar a verdade
Quem nem um peixe...
Não sou político,
Não quero falar de nada
Sobretudo inverdades...
Sou apenas poeta,
Brinco com nuvens
Tão facilmente...
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E o meu chão estremeceu feito epilético na hora da crise. Eu bebi demais o mundo, agora impossível colocá-lo para fora. Seu veneno passeou entre as minhas veias como um velho cão pela praça enquanto ninguém acordou para o domingo. Estou agora confundindo os dias. E acabo dançando nos lutos e chorando compulsivamente pelas folias. Acontecem alguns milagres, mas só vez em quando. Não sei quantas pátrias apareceram, só sei que foram tão repentinamente como paixões sufocantes. Os doces dos cinemas estão em falta, o amargo da minha boca acabou de responder - presente.
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Quero morrer como nunca vivi - alegre. Não preciso estar feliz, estive tantas vezes e nem notei... A alegria sim, essa faz um grande alarde. Ela acorda os que dormem, cumprimenta os vira-latas da praça, os meninos da rua compartilham dela, brinca com as nuvens e entende a língua dos passarinhos. Quero morrer como nunca vivi - contente. Contente por tê-la feito rir com alguma coisa engraçada. Contente simplesmente por estar, mesmo quando haviam motivos para não estar...
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quinta-feira, 20 de outubro de 2022
Todos os Lugares da Alma
Todos os lugares da alma
Estão preenchidos pela ressaca do ontem
Ela não se importa com a natureza
De seus fantasmas e ilusões
Um vento frio leva a poeira embora
Enquanto saudades teimam em ficar
Um par executa um tango argentino
Em passos precisos demais...
O meu contentamento se espalha
Entre os móveis mais imóveis
Como um menino acuado no canto
Que nem sabe se chora ou se ri
Como só as marés sabem fazer
Um pássaro solitário e sem malas
Prepara ao acaso uma viagem
Para durar segundos ou eternidades...
Eis a poesia bebida em fartos goles
Como num quadro na parede
Onde autos amarelos desfilam
Em um carnaval fora de prumo
Com a pressa imotivada de zumbis
A menina loura de lábios de sangue
Ainda repousa num mundo morto
Que podemos chamar noite passada...
Somos todos canalhas por acaso
Até que alguém prove ao contrário
Um inferno de chamas coloridas
Aguarda-nos em novas embalagens
Que acabaram de chegar pelo correio
E todos os profetas de plantão
Anunciam mais breves tempestades
Festivais de adjetivos e substancialidades...
Os trios elétricos da ilha de Marajó
E a foto do Elvis no boteco sorriem iguais
Um pouco de ternura faz muito bem
Mesmo quando isso nos acaba ferindo
Domingos esperados de cinema
Com luzes numa roda-gigante
Que só mesmo os antigos verões
Acabam nos presenteando gentilmente...
Todos os lugares da alma
Estão preenchidos pela ressaca do ontem...
quarta-feira, 19 de outubro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 203
Prefiro em pequenas doses
O veneno que me fará sucumbir
Serei apenas mais um vulto
Desbotado entre muitos...
Prefiro em pequenos passos
A minha marcha ao abismo
Pularei sem asas no espaço
Não pássaro e sim pedra...
Prefiro em pequenos estágios
A maior das caretices
Ser mais um burguês cínico
Que não viveu e está morto...
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Dança que balança
Folhas e frutos
Numa cadência quase perfeita
Na nossa alma...
Dança que balança
Suspiros quase escondidos
De amores novos...
Dança que balança
Chamada esperança...
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É o karma
é a arma
é o pequeno vício crescendo
é o dia escurecendo
É o esmero
é o desespero
o castelo de cartas caiu
é o ninguém viu
É o carro
é o escarro
Há lapelas sem cravos
Somos todos escravos...
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Não gosto do classicismo afetado,
afinal de contas, a pobreza bate em minha porta,
devo atendê-la com certa simpatia
e por que não? o companheirismo dos que sofrem...
Falo das traições que acabam magoando,
dos amores mais óbvios e menos fiéis,
são como novelas previsíveis...
Lembro da poeira que insiste de tudo sujar,
do tempo que acaba enferrujando tudo
e engole o brilho de tantos metais nas manhãs...
Meus dedos vacilam sobre o teclado
e minha mente acaba se ensandecendo
como quem se afoga numa poça d'água
depois de voltar do bar debaixo de chuva...
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Paradoxos paradoxais é o que temos
É o prato do dia o que nós comemos
O amor e o ódio nunca brigaram
Os que acham isso se enganaram...
A tristeza e a alegria nunca saíram no tapa
E toda certeza não está no mapa...
Paradoxos paradoxais é o que temos
Estando vivos é que nós morremos...
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Bom dia, fim de mundo...
Até quando nossa expectativa
(De dias bem melhores)
Irá tirar este nosso sono?
Preciso sonhar com amores novos,
Amores que me firam menos,
Já sangro faz muito tempo
E não sei de onde consegui
Sobreviver desse jeito...
Eu saúdo o sol das manhãs
Como quem respira inutilmente...
Bom dia, fim de mundo...
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Um brinde à mediocridade, senhores!
Ergamos nossos copos de plástico
Para louvarmos a idiotice humana!
Aos poetas que se acham estrelas
Mas que o são apenas de papel dourado!
Eu quis acordar quem dormia,
Mas como era pesado seu sono...
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Poemo
De peixe
de inúmeras estações
Um nó na garganta
De segredos inconfessáveis...
De rosas
com muito pouco sangue
Veias abertas ao vento
De tantas canções...
De marinas
com cores diferentes
As naus se foram
Para a escuridão da tempestade...
De desenganos
em porões mais escuros
Onde correntes maltratam
Todo o meu ser...
De caminhos
que conduzem aos olhos
Os olhos sem par
Onde posso morrer...
De fumaças
que sobem lentamente
Enquanto o tédio
Mata tudo em torno...
De bicho
em perigosas selvas
Onde tudo e nada
Acaba dando na mesma...
De sangue
uma interminável romaria
O coração num baticum
Feito samba-canção...
De sono
livre de todos os pesadelos
Ninar que embala
Com o passar das horas...
Poemo
não me aponte o dedo
Eu não sou culpado
De ser somente assim...
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 202
Quadriláteros insanos
Jardins com indiscreto charme
Drogas impensadas de mais nada
Triângulos aflitamente
Colocados de uma vez
Em mais um dos ataúdes
Prontos para entrega...
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Faça uma longa túnica
(Ou será talvez um manto)
Coloco estrelas possíveis
(Um Universo inteiro)
Calo-me ante tanta tristeza
Mas nem todas elas sujas
Eu vou usá-lo um dia
Não como Bispo
Porque não espero algum final...
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Perdi minha velocidade
Estaticamente quedei-me vencido
Estou mais que exausto
Esse mundo certamente não é meu
Nem um pequeno pedaço
A alegria não me foi negada
Ela nunca foi minha
Já o choro é sim
É todo meu sempre
Tanto que todas as minhas lágrimas
Ainda estão em meu peito...
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Chamem o gato! Chamem logo o gato!
Acabei de ver um rato andando pelos cantos...
Ou seria uma barata e me confundi?
Mas ainda assim o medo é o mesmo...
Chamem o gato! Chamem logo o gato!
Atrapalhem seu sono e o acordem logo...
Se está se lambendo sob o sol da manhã
Expliquem que isso é mais importante...
Chamem o gato! Chamem logo o gato!
Diga para ele que o meu desespero
É bem maior do que todas as nuvens juntas
Para poderem cair logo lá de cima...
Chamem o gato! Chamem logo o gato!...
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Num dia desses qualquer
Não estarei mais aqui
E em lugar algum
(Meu corpo não será
Mais a minha pobre casa...)
Não sei se algo existe
Ou mais nada há
Tudo é bem parecido
Dentro do meu silêncio...
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Atrás de qualquer drama
Uma trama
Atrás de qualquer trama
Um enigma
Estamos num tempo
E num espaço
Desnorteados
Só as estrelas
Continuam presas
Na colcha do céu...
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- Ave de mau-agouro,
Por que sobrevoas minha cabeça?
- O cheiro dos teus sonhos mortos
Acaba me atraindo...
- Nunca me deixarás em paz?
- Não sei em que tempo,
Mas certamente te deixarei...
- Não me darás
Um sinal do teu abandono?
- Sim, te darei.
Irei embora qualquer dia destes
Em que fores igual aos teus sonhos...
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Alguns Poemetos Sem Nome N° 201
Eu estou num labirinto
Sem Creta,
Apenas meus sonhos me confundem,
Se fundem,
Entre a dor e que não há,
Será?
Eu estou num cadafalso
Tão falso,
Ilusões me perseguem,
Conseguem,
Que eu chore até cansar,
Será?...
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A mania de ter manias
vindas de não sei onde
Algumas antigas
Outras quase novidades
Algumas tiques?
Não sou famoso para tanto
Só tenho
Mania de ter manias...
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Todo poema é grande
enorme
independente do que é ou do que diz
Toda palavra é significante
decisiva
mesmo que não haja contexto algum
Toda letra é decisiva
marcante
ainda que seu som seja mudo
Todo poeta é pequeno
formiguinha
andando pelas folhas da poesia...
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Ele não pede, fica com aquela cara de bobo sem pedir, mas pedindo. Os minutos passam, ora ligeiros, ora lentos, na fumaça de vários cigarros que explodem sua fumaça pelo ar. Seu rosto é um enigma, daqueles que já vêm com alguma receita na embalagem. Se assim não fosse, impossíveis seriam por toda a eternidade dos tempos. Um riso sai de repente, sem motivo algum, outros o seguem, mais ilógicos ainda. O que farei? Não sem, sinto em mim o mesmo medo de quem vai apertar o botão e lançar a bomba...
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Acabou de sair o café. Os pequenos sons saem da cafeteira automática. Alguns sons místicos até. E o seu cheiro? Ah, o seu cheiro... É o responsável por várias epopeias, centenas, milhares, milhões delas. O café? Grande viajante da história, consolo de vários poetas. Cafeteira ou varinha de condão?
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Tantos vidros quebrados. Alguns barulhentos, outros mudos. Alguns assustados, outro surdos. Muitos saem dançando, outros quedam paralisados. Os poetas enlouquecem de tantas inspirações. Muitos carnavais e fantasias diversas. As músicas acabam escapando da poeira. As cores são salvadoras, pois não. Hoje os lobos não uivaram para a lua, nem bois berraram para o sol. Tantos vidros quebrados...
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Ria sem motivos até não poder mais. Olhava nuvens de todas as matizes com desmedida felicidade. Anotava águas de pequenas poças de chuva. Sentia cheiros de calmas praças. Narrava divinos eventos de meninos jogando. Tinha a tranquilidade de manhãs com mais um sonho. O burburinho de entradas e saídas nas escolas. Os primeiros amores? Anotava-os todos sem falhar em algum sequer. Paixões quase esquecidas. Escrevia receitas de inocência com variadas ternuras. Ria sem motivos até não poder mais...
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domingo, 16 de outubro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 200
Gueixa ao avesso
(inclusive na cor)
para nós isso são meros detalhes
que nada importam...
Nossa história é tão longa,
tão bonita, mas tão triste...
Com uma leve pitada de sordidez
(quem disse que os sórdidos
não podem amar?...)...
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Faço qual aranha
Teço teias de fantasias
Quais presas procuro?
Alguns sonhos gordos
já são o bastante...
Quando pegos
eu os enrolo em minha ternura...
Quero que fiquem lá
até a hora de me deleitar
com cada um deles...
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Minha solidão é um cavalo selvagem,
me atira no chão quantas vezes quiser...
Minha tristeza é que nem um vírus,
qualquer hora ela me mata por acaso...
Minha aflição é que nem um trapezista,
se arrisca na corda bamba por palmas...
Meu tempo parece mais um pedinte,
quando tem é que não tem mais nada...
Meu amor é o mais cruel de todos eles,
me deixa suspirando e logo vai embora...
Desgraçado que sou entre muitos outros,
nem eu mesmo sei onde me encontro agora...
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Garganta...
Por ela não passarão mais bravatas,
Não mais apertarão minhas gravatas,
Não sustentará mais ideias primatas,
Assim...
Olhos...
Não testemunharão mais tanta maldade,
Não se assustarão mais com essa cidade,
Não se machucarão mais com a verdade,
Sempre...
Coração...
Acabou virando apenas uma pedra de gelo,
Acabou explodindo por mais um pesadelo,
Acabou se ferindo porque teve falta de zelo,
Coitado...
Acabei tirando meu diploma de robô...
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O poema é tão pobre...
Entra na fila da humilhação,
Ganha esporro do patrão,
É roubado dia sim, dia não,
Conta moedinhas pro seu pão,
Acabou virando bicho em extinção,
Era um guri, virou um ancião,
Não tem grana pra alimentação,
Um dia foi rei, mas hoje é peão,
Sua musa foi parar em um lixão,
Não tem modos, nem educação...
O poema é tão pobre...
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A garrafa de café sempre cheia
O saco de pão pendurado na parede
A televisão de madeira preto-e-branco
As roupas que a mãe passava cantando
O meu medo dos bacurais cantando
Noites frias cheias de estrelas
A casa pequena sem muitos móveis
Sonhos tão simples e tão bons
Tantas vezes esbarramos com a felicidade
mas nunca que a vimos...
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Bandolins agora tocam
saudades que não passarão jamais...
Eu nunca vi um campo de trigo
mas devem ser bem bonitos...
Por que deveria reclamar?
Existem outras belezas
para meus pobres olhos...
Nunca vi plantações de girassóis
mas vi pelo menos alguns deles...
Ah! Tinham algumas abelhas
que voavam em torno sempre...
Violinos também me fazem chorar...
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sábado, 15 de outubro de 2022
Cansô
Cansou,
canso maneira,
tanta besteira,
quero esquecer,
(em que lagoa)
onde estão os patos,
onde estão os fatos,
o menino faz caretas
e expõe a língua...
Camões estava mais surdo
do que cego,
batemos palmas
sem saber o que é palma
e os idiotas vão para o trono...
Vocês querem bacalhau?
Então, comprem,
seus filhos-da-puta!
Suspira o bardo,
com cara de leopardo,
traseira famosa,
quanto goza
(suspira ou agoniza?)
o livro de ética moral
caiu na sanita
e puxaram a descarga...
Acadêmicos,
lambam meus pés,
a minha bunda nunca,
eu não tenho dinheiro
para pagar a conta,
do meu cigarro sobrou a ponta,
Querem dar um trago?
Sou bonzinho e deixo...
Coloco o Jabuti
numa sopa,
Opa, opa,
como as mulatas
que os turistas degustam
quando pisam
com tênis de marca
invasores piedosos...
Vamos jejuar?
Dia sim,
Outro também,
cresçam suas barbas,
até quem não tem...
Raspem seus pentelhos,
as genitálias agora
também possuem fome...
Cansou,
canso maneira,
tanta besteira,
quero esquecer,
(em que buraco)
onde estão os ratos,
onde estão os fatos,
o menino faz caretas
ri e quebra vidraças...
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 199
Meus olhos riem
apesar de uma qualquer imobilidade...
Movimentos imóveis
é que nos restaram...
Cores imperceptíveis
de um jogo apenas cego...
É quase noite
e os guerreiros não voltaram para jantar...
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Eu escrevo versos
Como quem veste seus mortos,
Com roupas feitas em casas,
Com alguns panos tortos,
Eu escrevo versos
Sem pé e também sem cabeça,
São apenas improvisos,
Mesmo que assim não pareça,
Eu escrevo versos
Sem métrica e sem sequer ciência,
Versos apenas tristes
Desde o fim de sua antiga inocência...
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Numa simetria quase impossível
Desenhei honestos desenhos
De toda a sinceridade do meu peito...
Meus sonhos estão fracos
Rastejam pelos desertos
De todas as minhas desilusões...
Não sei até quando suportarei
Um sol em minha cabeça
Até que os delírios comecem...
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Não pode rir...
Não pode se mexer...
Quem rir, perde...
Quem piscar, também...
Mas como irei fazer isso?
Olhar em teus olhos,
Duas estrelas que são?...
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O corpo em cena,
O corpo é arena...
Como num palco com as luzes acesas,
Somos nós, as mais simples presas,
De uma trama malfeita,
De onde a fera agora espreita...
O corpo em cena,
O corpo é arena...
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Tatuagens de flores em suas pernas,
flores parecidas com um fênix...
A minha inocência misturada
com mais uma dose de lascívia...
Onde estará daqui um segundo?
Ainda não tive tempo de escolher
Em que nuvem será nossa cama...
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E eu a vi...
Como um menino que toma um susto
vendo a tempestade que já chegou...
Como um passarinho que perde o rumo
e vai querendo percorrer o mar...
Como quem vai fazer um discurso
e esquece aquilo que ia dizer...
A ferida acabou de se fechar
mesmo que a cicatriz agora reclame...
E eu a vi...
A mais linda de todas...
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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322
O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...
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O caminho que vai dar no mar. Consequências de tudo o que pode acontecer. E lá estão barcos e velas incontáveis. E amores em cada porto ...
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Não sabemos onde vamos parar Mas qualquer lugar é lugar Quantos pingos nos is temos que colocar Quantos amores temos que amar Quantos ...
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Um sorriso no escuro Um riso na escuridão Um passado sem futuro Um presente em vão... Mesmo assim insistindo Como quem em a...