quarta-feira, 12 de agosto de 2020

No Espelho

Menino Novo Que Penteia Seu Cabelo No Espelho Foto de Stock ...
No espelho vejo tudo, vejo nada, a vida escorrendo feito água, a vida correndo feito rio, vai dar no mar, mas não sabemos quando...
Revejo cada centímetro conhecido com estranheza, deve ser assim mesmo, até algumas palavras conhecidas me soam estranhas, isso do primeiro ao último momento.
No espelho vejo o mundo, vejo só a mim mesmo, um grande estranho, velho conhecido, com mudanças em cada segundo...
O que eu era, o que não mais serei, seu reflexo não é suficiente para iluminar o meu destino, triste destino, diferente e tão igual à tantos outros, tentativa e fracasso.
No espelho minha vontade, vontade alguma, de gritar feito uma fera, de me calar feito pedra, mas sou apenas os dois ao mesmo tempo...
Reflito como o vidro não reflete, como seria bom se nada fosse, se fosse tudo apenas diferente, mas nada deu certo e batia a minha cara na parede várias e muitas vezes.
No espelho eu sinto tudo, não sinto nada, a dor acaba se anestesiando e chamamos isso de nosso costume e até rimos ao deitar na cama de pregos...
Chego quase aos extremos, dar um soco bem forte na tua superfície, dar outro na cara dos canalhas que andam por aí, mas admito toda a minha fraqueza.
No espelho caio no riso, fico tão sério, repito essa dicotomia que é tudo o que temos, somos assim, beirando às raias da loucura, percebendo ou não...
Quase sinto os grãos de poeira invadindo minha janela escancarada, a do quarto e da alma, tudo se acumulará e não terá mais jeito de tirá-la, pelo menos de mim.
No espelho eu tenho tudo, não tenho nada, na verdade me sinto mais insignificante que um cachorro de madame, um vira-latas em desabrigo...
Tento fazer algo que preste, que valha a pena, lavar a louça, arrumar o quarto, varrer o chão, mas só consigo fazer alguns versos feios de genuíno desespero como são muitos.
No espelho vejo tudo, vejo nada, até parece que adivinho alguma coisa, mas foi apenas engano, um grande engano, pois estou morto e nem percebi...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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