quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Ciência das Cores

Mão pintada imagem de stock. Imagem de cultural, alaranjado - 31746421
Tua nudez em brancos versos
lembraram-me de histórias que não vivi
mas que queria ter assim vivido
hoje, nada mais adianta, é tudo morto
porque a inocência corrompida 
nunca mais poderá ser revivida...
Eu fujo do amarelo deste sol
pois preferiria singelas margaridas,
nada disso mais me pertence
e mesmo estando aqui e vivo
a vida não me pertence mais
(aliás, acredito que nunca não)...
Não irei mentir (dessa vez pelo menos)
queria verdes discursos animados
contando um pouco dos meus sucessos
mas só houveram corridas ao abismo
que acabaram dando muito certo
e, no fundo, não era aquilo que queria...
Em tons de cinzas um tanto acanhados
participo deste meu teatro de marionetes
e acabo me esquecendo que o tempo
(esse mais que incorrigível fanfarrão)
poderia ser usado para tantas façanhas
que a rotina acabou matando sem dó...
Esqueça aquele vermelho que tive ontem
pois o medo acabou gelando minhas veias
todos somos assim uma hora ou outra
somos o oposto daquilo que juramos
e a nossa solenidade de nada serviu
à não ser manchar mais nossa reputação...
Minha mentira vestiu-se toda de lilás
(talvez como um rude luto sem lágrimas)
e manda-me cartas com uma esperança
que pode ser a mais perigosa possível
pois a ela pode ser apenas fatalmente
aquele tiro certeiro que saiu pela culatra...
Eu tento dourar as coisas mais banais
e assim vou mostrando a minha farsa
pois pareço apenas um menino bobo
que mostra aquele seu álbum de figurinhas
que não completou a sua coleção
e que não encontramos mais nas bancas...
O azul daquele meu terninho desapareceu
(a minha lembrança é visão que me persegue)
explodem bombas sobre um céu medroso
em tempos que não conheço nem a mim mesmo
e como um ilustre desconhecido caminho
sem medo de me encontrar com ela...
É tão normal as trevas que me cercam
(não há perigo, o perigo agora sou eu)
não deixarem confissão alguma de meus pecados,
mas se quiserem podem tomar nota aí:
eu conheci o segredo de todas as cores, todas elas...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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