quarta-feira, 19 de agosto de 2020

E O Sangue Escorre Pelas Cidades

Jornal Ação Popular | Portal de notícias do Vale do São Francisco
Acabo tendo pena de mim mesmo, mesmo que isso não seja o melhor que possa fazer...
É que os dias andam sujos, mais sujos do que esta metrópole onde estamos enterrados. Todos nós, sem exceção alguma, estamos mortos, mas de mal jeito. 
Não podemos escapar desses cheiros, mistura exótica do mau e do pior, chegando em nossas narinas, sem licença alguma. Todas as coisas possuem um odor próprio. Já notaram? E agora o cheiro do medo predomina sobre tudo e sobre todos.
Acabo tendo asco de mim mesmo, mesmo quando de forma involuntária me torna tão idiota como qualquer um...
Como um camaleão caricato me torno o juiz que condena tudo, menos as suas próprias sandices. Todos nós, atrelados estamos, na carroça das obrigações de uma sobrevivência de que de nada adiantará...
Não há mais piedade suficiente para tanto sofrimento, mas uma apatia vendida no mercado com descontos promocionais. Na corrida de pânico geral, todos atropelam todos. Já notaram? O mal acaba sendo inevitável e o bem apenas dispensável.
Acabo tendo nojo de mim mesmo, mesmo que tome todos os banhos possíveis e me perfume com o que há de melhor à venda...
Enquanto existirem tapetes e máscaras, tudo vai quase bem, a nudez da alma humana é mais imoral do que a da pornstar. E há palavras mais chulas em nossos hábitos do que aquelas que se escrevem em paredes de banheiros.
Não há mais novidades em tantas guerras, as novas doenças entram na fila esperando pacientes seus pacientes. Certos venenos acabam caindo bem melhor. Já notaram? Nessa disputa insana, os primeiros serão os primeiros e do segundo em diante todos acabam perdendo.
Acabo tendo medo de mim mesmo, mesmo porque sou o único que me ataca de verdade sem avisar, totalmente traiçoeiro...
Os espantalhos agora são dançarinos, sua dança surda no meio de milharais gigantes nos avisam spbre vendavais que ignoramos até que eles venham e destruam tudo. A cilada do óbvio é a mais perfeita de todas elas. 
Não há mais imobilidade que nos salve dos tiros, os projéteis são como mosquitos zunindo no quarto. O tamanho do predador e da presa pouco importam agora. Já repararam? Não temos mais espetáculo para assistirmos e o sangue escorre pelas cidades...

(Extraído do livro "Rubianan Decide" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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