Não é possível negar o desejo
e tão-pouco satisfazê-lo
Vivemos atormentados e muito
é como um respirar que não pára
Eis-me aqui andando apressado
na fácil tarefa de me trair
As ruas são meus cúmplices
e toda a sua sujeira não aflige
A minha memória é seletiva
lembro do que queria esquecer
E se tive alguma alegria
dessa eu não me lembro mais
Entre espinhos faço a cama
porque varandas já faltam
Eu me inspiro em mentiras
até os desastres são coloridos
O nada não é consolação
e muitos restos permanecem
Quem eu quero enganar?
à cada segundo morremos
Eu sou o alvo e o projétil
não há como nunca errar
Tudo é tão pequeno
o tamanho é uma ilusão
O gosto é a necessidade
e o engano seu tempero
Eu tenho muitos códigos
e papéis de cigarros prateados
Eu não sou maldito
maldito é ainda muito pouco
Os demônios saem correndo
quando me aproximo deles
Agora estou sem musas
ou elas são putas ou drogadas
Agora estou apenas sozinho
como se isso fosse novidade
Ando desesperado como um cão
que mete o focinho numa bolsa de lixo...
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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