sexta-feira, 29 de maio de 2020

Em Mim

Menino, espantado. Retrato, cima, espantado, menino.
Em mim:
a tristeza de muitos dias,
as camas vazias,
as noites vadias,
tudo o mais que nem sei dizer...

Em mim:
tudo aquilo que não sei,
o que não terei,
o que não mais verei,
o sonho que passou indiferente...

Em mim:
a ferida que ficou aberta,
a hora incerta,
a rua deserta,
o meu desespero não foi ouvido...

Em mim:
a doença que não me mata,
a paixão ingrata,
as trinta pratas,
a traição feito um mártir...

Em mim:
o plano bom que falhou,
eu vou e não vou,
eu sou e não sou,
corta o vento frio feito navalha...

Em mim:
nada...

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Me Traga Aqui

Menino que mostra a língua foto de stock. Imagem de criança - 64221740
Me traga aqui essa saudade,
ela é minha, sempre foi,
tem que ficar ao alcance das mãos...
Sem ela ficarei mais vazio
ainda do que estou...
É triste, muito triste mesmo
quando a alma sofre amnésia...

Me traga aqui essa tristeza,
ela me fere, fere muito,
mas também me faz carinhos...
Queria eu poder dar
a felicidade para todos...
Mas são assim todas as vidas
nós não disso escapar...

Me traga aqui esse desamor,
se eu o tenho, ele é meu,
não quero mais discutir sobre isso...
Afinal, todos escolhemos 
o que somos e o que teremos...
É meu um caminho solitário
e as minhas mãos vazias...

Me traga aqui esse choro,
ele é forte, muito mais forte
do que todas as palavras que falei...
Quantas vezes me virei prum canto
e chorei sem ninguém escutar...
Pois assim sempre será
a verdadeira solidão da dor...

Mas também...

Me traga aqui essa loucura,
é a única que tenho, quero sempre ter,
dela não abro mão nunca...
Eu sou o palhaço desse circo,
podem me aplaudir de pé...
As minhas palavras, rudes ou suaves,
ecoarão sempre. por toda a eternidade...

Eu Sou

Menino sorridente apontando o dedo para si mesmo em pé perto da ...
Não sei se sou o rio
ou se rio
Não sei se sou o mar
ou o amar
A rua é minha
o caminho é meu
Não sei aonde irei
mas onde estiver
eu estarei lá...

Não sei se sou o erro
ou se erro
Não sei se sou o berro
ou se berro
A alma é minha
a eternidade também
Não sei se mal ou bem
eu estarei sofrendo
mas eu viverei...

Não sei se sou o choro
ou se choro
Não sei se sou o silêncio
ou se me silencio
Quando o sonho chega
a tristeza chega junto
Mas a teimosia chega
e os meus pobres pés
andam até sangrar...

Não sei...
Mas eu sou...

terça-feira, 26 de maio de 2020

Cena Congelada

Conheça e reverencie a dança do universo chamada vida!
A cena congelada
muito além das retinas,
as lágrimas que escorrem
pela lei da gravidade
Nada mais é...
A cor tão imortal
em uns tons azuis.
Se real ou não real
tão pouco importa
Imortalizou-se...
Eu me desesperei
faz muito tempo,
mas até a dor passa
e mesmo se não passe
Nos acostumamos...
Eu tremo e muito
como um embriagado,
rindo demais
feito um pateta
Lá vem o circo...
O desejo contido
foi na água do rio,
foi parar lá no mar
onde desapareceu
Virou estrela...
A chama se apagará
tudo normal e surpreendente,
como grito de repente
espantando a multidão
No infinito...

Alea Jacta Est

ピクニックにオススメなカードゲーム5選【携帯性、低難易度】 - いつか ...
Notícias vindas de longe
A tristeza criou-me raízes
Todos os labirintos em mim...

Estradas sem onde dar
Vertigens de pura exaustão
Eu sou o meu medo...

Equívocos não-esclarecidos
Atrasos que foram fatais
Era meu desconhecido...

Alguns amores de gaveta
Segredos com banalidades
Esqueci-me de lembranças...

Uma fúria diante do espelho
Quebram regras como vidro
Minha chance foi negada...

Uma carta sem palavras
Os carinhos são feridas
Como durmo acordado...

A estética fez-se grosseira
Tudo é desculpa esfarrapada
E eu finjo que nem ouvi...

O futuro é passado encoberto
Lá vem o fim começando
Meus senhores eu morri...

domingo, 24 de maio de 2020

Quase Poema

Quando levar seu filho ao psicólogo - post Tá, e AGORA?
Em notas dissonantes me mirei
num quase espelho
e me indaguei sobre perguntas
que nem mesmo sabia que existiam...
Não eram meros cálculos
eram bem mais que isso
eram reflexos que me perseguiam
por onde eu passasse...
Eu tentei quebrar o velho relógio
mas isso foi apenas uma inutilidade
as coisas acontecem como são
e evitar o inevitável
é lavrar pedras com mãos puras...
Espinhos também trazem recordações
e na distância em que vivemos
o bem e o mal se esmaecem
e acabam se confundindo para nós...
Nem sei em qual chuva estamos
o que aconteceu já aconteceu
não há retrocesso para o destino
as sentenças já foram lidas...
Não sou o pior e nem o melhor
apenas mais um que fala e ouve
e as palavras vem no galope
dançar alegres em torno de mim...
Esqueçam velhos sonhos que teimam
o encanto é a tinta que esmaece
o gosto nunca mais será o mesmo
e a poeira vai se acumulando...
Não mapas e nem roteiros tão seguros
para essa estrada chamada vida
os tombos nos esperam pacientes
para poderem ri de todos nós...
E quase como num ritual
tentei fechar meus olhos cansados
mas é difícil com os berros da solidão
virar para o lado da parede e dormir...

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O Mestre das Nuvens

Olhando as nuvens imagem de stock. Imagem de liberdade - 51852927
Vês aquele menino de cabelo penteado 
para o lado com um topete, 
com seus óculos desajeitados
em frente aos olhos agora não mais azuis?
Esse sou eu...

Repara no seu terninho de linho
com um ar indefinido e tão bonito,
seu lencinho arrumado no bolso
e suas botinhas com meias listradas...
Esse ainda sou eu...

Nota na expressão meia triste dele,
ele vê um mar sem tamanho
e sonha com grandes passeios
na roda-gigante vendo as luzes noturnas...
E continua sendo eu...

É ele que espreita em velhos corredores
a menina tão bonita de tranças
e aparelho nos dentes séria ou sorrindo
que desapareceu mas ainda permanece...
Será eu sempre...

De repente, ele se transformou,
é agora o poeta sujo e bêbado
que anda por ruas estreitas e escuras
mas a procura continua a mesma...
Eu ainda sou...

Ele ainda procura os sonhos perdidos,
aqueles que foram embora,
a felicidade que não conheceu,
mas que ainda espera...
Pois é, sou eu ainda...

Chama-me de qualquer nome,
em qualquer lugar onde estejas,
eu atenderei prontamente,
pois sou o Mestre das Nuvens...
Esse sou eu...

Talvez Círculo

Clássico antigo armadura guerreiro crianças cosplay traje para o ...
Galhos e folhas e galhos
e uma brisa bem mansa
ou um vento mais ligeiro,
tanto faz...

Espelhos antigos refletindo
os velhos semblantes
que mais eu nem sei,
tudo tão calmo...

Esferas coloridas em repouso
e um futuro que não espero
e acabará vindo
e tão inesperado...

Palavras mornas de carinho
e um sussurro vindo longe
com uma preguiça gostosa
que faz tão bem...

Estive tão e tão longe
que quase me perdi
mas me encontrei 
numa flor qualquer...

Era um dia de meio-dia
e vesti a minha prateada
roupa de cavaleiro
e saltei abismos...

Era madrugada bem alta
e eu acendi uma fogueira
no meio da mata
e chamei pirilampos...

Sou eu agora apenas um só
mas o mestre das nuvens
e cavalgarei uma delas
e irei para bem longe...

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Desculpe O Incômodo

Menino Assustado Fotos do acervo - FreeImages.com
Desculpe o incômodo, se lhe atrapalhei,
se quis me mostrar o tal, mas nunca fui,
é do ser humano se mostrar mais do que é,
Desculpe, desculpe mesmo, de coração...
Desculpe se não aprendi as lições 
que você sempre quis me ensinar,
de ser bem mais um pouco paciente,
porque tudo tem sua hora certa de chegar...
É que eu sempre vivi cheio de medo
e qualquer sombra era motivo de susto,
mas eu desconheci que andei tranquilo
na beira de muitos abismos e nem notei...
Desculpe, se não fui um bom amigo,
se me enganei com muitas coisas fúteis,
quis o que não prestava e o bom joguei fora
como diziam: me enganei com a cor da chita...
Desculpe, eu acabei exagerando no café,
não devia ter nunca nem fumado, 
mas existem outras nuvens piores,
a inveja e a ingratidão podem dizer...
Desculpe se não cheguei na hora certa,
desculpe se eu falei demais ou de menos,
desculpe se eu votei num cara errado,
se eu olhei pra outro lado disfarçando...
Desculpe se fui atrevido, se fingi tesão,
desculpe se fui grosseiro, se fui desonesto,
se exigi demais o que não merecia,
se não dei nada do que podia dar...
Desculpe seu eu lhe amei demais, 
desculpe se eu lhe amei de menos,
eu sou assim mesmo, um louco
que perdeu o controle de quase tudo...
Desculpe se fui um vendido, um canalha,
um vagabundo andando por aí,
alguém que poderia ter sido melhor,
que poderia ter dado menos trabalho...
Desculpe se eu não fui fiel,
se minha alma é mais torta que os olhos,
se a minha rudeza espanta muitos,
mas a minha ternura nunca foi vista...
Desculpe se meus versos são tristes,
se mesmo alegre encontro alguma coisa
que posso dar algum motivo de choro,
é o vício de ser sempre assim mesmo...
Desculpe o incômodo, desculpe aí...

Demais, Pouco

Foto de Menino Com Muletas e mais fotos de stock de 10-11 Anos ...
Nem eu mesmo sei como tudo está, sendo eu mesmo testemunha ocular de mim mesmo. Não sei se tem que ser assim, dizemos que aprendemos á viver, mas no fundo, no fundo, desconhecemos as regras. 
Demais, pouco, tanto faz.
Quantos segundos vivi até hoje, qualquer computador pode fazer as contas; quanto de oxigênio consumi, talvez a atmosfera me faça o favor de dizer; quanto espaço ocupei em desnecessidades absolutas; quantos quilômetros correram o sangue de minha veias; mas, isto tem sido necessário?
Demais, pouco, tanto faz.
Não sei mais dizer onde estão os meus brinquedos; as fantasias que um dia usei, essas também não sei; para onde foram parar os meus antigos carnavais, não faço a mínima ideia, a amnésia do corpo é grande e a da alma também.
Demais, pouco, tanto faz.
Muitas canções penso que escutei e nem acabei escutando; outras tocam todos os dias dentro de minha cabeça, mesmo que eu nem perceba; todo o silêncio vem gritando aos poucos, é apenas um artifício para não ser tão notado.
Demais, pouco, tanto faz.
Tentamos ser melhores, eu tento, todos nós tentamos, mas velhas ideias acabam atrapalhando; todos nós vivemos no lixo da nossa própria responsabilidade; comemoramos o nada; vivemos a morte. nosso medo não nos faz nada para afastá-la.
Demais, pouco, tanto faz.
Tudo que é grande acaba diminuindo até chegar ao nada; do nada podem surgir as maiores coisas; dicotomia sim, dicotomia sempre, mesmo que os senhores filósofos puxem minha orelha; tudo vai na mesma direção.
Demais, pouco, tanto faz.
E eu continuo andando, nem sei o porquê, talvez seja pela força do hábito. As alucinações podem ser tal reais que podemos até tocá-las. Os meus mortos me esperam com solene paciência, todos têm quem os espere, num dia certeiro.
Demais, pouco, tanto faz...

Assim, O Silêncio

Portal del Profesor - As transformações socioculturais do ...
É só silêncio em minh'alma
como uma casa vazia,
um jardim maltratado,
um cão vadio pela rua,
assim sem você...
E nem reclamo mais
de alguns espinhos,
podem servir de companhia,
o quarto desarrumado,
o riso sem plateia...
Tenho quase a certeza,
que estás dormindo ou não,
com um outro cara,
em outro lugar
numa vida vazia feito morte...
Morreremos todos nós,
qualquer dia desses,
um por um, a fila anda,
sem podermos nada levar...
E eu vejo tuas carnes pelas fotos,
enraiveço vez em quando,
se as cores não esmaecem,
devem ser culpa da tecnologia,
tudo foi do ontem, nada é agora...
Celebremos sem motivo
toda essa suja e vil trama,
é melhor disfarçar a alegria
que dar o braço à torcer
e dizer que finalmente erramos...
Eu acendo mais um cigarro
como quem vai embora
mesmo que ficando parado,
escutando berros numa noite
que não existe - é só silêncio...

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Uma Chave de Segredo

Niilismo Passivo: Nada de Vontade • Razão Inadequada
Não há sossego, mas bordões descoloridos ainda saem pelas bocas de atrasados foliões. Adjetivos muitos senhores, acabamos esquecendo das sobras de ontem e os insetos já chegaram. Não há muito o que fazer senão gritar.
Desculpem minha tremenda falta do que fazer...
Vários teclados, sim, mas a visão já curta acaba tendo certa pena de mim. Nunca mais teremos um piano, era tão divertido, mas acabou a dose. 
Um bem-te-vi canta inutilmente quase agora...
Eu não sou a novidade exposta na praça agora quase vazia, eu sou o óbvio desconcertante de quem não sabe mais nada. Novos gostos são tão iguais, afinal de contas foi o que pedimos.
Alguma lâmina de faca deve brilhar por aí...
As máquinas não pararam de vez, seu dom de esmagar carnes é ainda muito presente em todos os roteiros. Me esconderei sob uma pedra até que venham o final dos tempos. Tudo é fácil de compreender, menos nós. 
As maternidades e os necrotérios tão parecidos...
Queria ter mãos mais suaves do que estas, mas tudo é um grande engano, um engano desses que enchem as almas, mas esvaziam os nossos estômagos. Faz um certo tempo que não vejo a luz, estou apenas enganado com isto.
Arremessar pedras na água é verdadeira ciência...
Minha paciência está se esgotando desde a primeira vez que respirei. Muitos nuances para praticamente nada, um gosto de anis quase foi a nova sensação de todos os idiotas.
A subversão nasceu de uma simples pergunta...
Para onde andam as rodas-gigantes? Eu sou um célebre observador de fumaças que apenas sobem e isso custou-me uma fortuna contada em segundos e depois de tudo fechei meus olhos.
Façamos um acordo: nunca faremos um acordo...
A simplicidade se travestiu de muitos detalhes e a futilidade bateu palmas com discreta euforia. Eu nunca prestei e foi a cartomante que descobriu tal coisa, meus sinceros agradecimentos.
Abri a porta da gaiola e os pássaros entraram...
Acabei de ir ao barbeiro e ele não conseguiu aumentar os meus cabelos, assim como os castelos continuam de pé se não caíram. Eu não queria ser outro, Sartre estava redondamente certo. Invasões são desprovidas de qualquer lógica.
Minhas gargalhadas são as mais silenciosas...
Coleciono tombos e outras tolices, agradeço todas as que vi, é muito legal ser um grande desconhecido. Minha paixão é tudo o que existe e isso pode ser bom ou não de acordo de como estou agora.
Algumas miras acabam errando sempre...
Filhos de Caim, somos menores que os gatos e maiores dos que os cães. Nunca se esqueça do esquecimento, isso os vídeos já nos ensinaram. Recomenda-se imprudência somente para os que são imprudentes.
Eu tranquei muito bem a gaveta, nem precisei de chave alguma...

(Para Júlio Morikawa Filho).

Manhã de Cinzas

Céu encoberto impede elevação significativa da temperatura ...
Manhã de cinzas,
manhã de cinzas sem carnaval,
cinzas assim, cinzas de mim,
menos mal...

Tempo parado,
tempo parado sem temporal,
inquietante, só um instante,
sem final...

E eu na noite,
dentro da noite de bacurau,
o olho torto, o corpo morto,
tudo igual...

Manhã de cinzas, 
manhã de cinzas com tudo mal,
cinzas assim, cinzas assim,
tudo vai mal...

domingo, 17 de maio de 2020

Breve Discurso pela Madrugada de Meus Dias

Menino é encontrado andando sozinho de madrugada em rua de MS ...
Não que eu viva em simples paradoxos, eu sou um deles...
- Bom dia, senhoras e senhores! Por favor, levante a mão quem nunca foi triste...
Eu ando tropeçando nos corpos dos meus sonhos, alvejados pelo destino tal qual um passarinho pela atiradeira de um menino malvado...
- Quem nunca conheceu o medo aí? Muitos devem até conhecê-lo por seu próprio nome...
Eu não estou bêbado, nada bebi hoje, são as paixões que me deixam assim...
- Quem aqui já quis pular de mais de um abismo?
Podem me chamar de louco, mas saibam todos que a loucura é talvez a única salvação, o único remédio para vidas sem sentidos que passam diante dos olhos sempre...
- A morte e a felicidade são as duas grandes esperadas, uma certa e o outra tão incerta...
Eu faço gestos mágicos sem propósito nenhum e aí que surgem as coisas mais bonitas...
- Vamos! Riam todos comigo! Por que motivo? Nenhum... Esses certamente são os melhores que podemos ter...
A única pressa que devemos ter não é aquela do carrão novo, do cargo de chefia, da fama que passa, da moda quase obsoleta. Devemos ter pressa de amarmos mais até transbordarmos o copo e termos ternura até gritarmos que doeu...
- Encontram o fio da meada? A resposta do enigma? Agradeçam à vida por ter-lhes maltratado tantas vezes porque sem tais lições seríamos bem piores do que já somos...
Olhem bem para as nuvens que cobrem nossas cabeças, pensem em tudo aquilo que nos proporciona algo ou alguma coisa, mesmo sem mérito algum...
- Alguém aí chora por sua solidão? Não se engane, meu amigo!... Estar totalmente só é uma impossibilidade, nunca deixaremos a nossa própria presença...
É uma pena que as pessoas acabam indo embora sem dar adeus, nunca dão, em ocasião alguma...
- Obrigado por esse minuto de atenção, isso pelo menos iluminou um pouco a madrugada dos meus dias...

Alguns Poemetos Sem Nome Número 77

Foto de Menino Desconfiada Quanto Ao e mais fotos de stock de 12 ...
Não sei se as coisas mudarão,
temos velhos produtos com embalagens novas,
mudaram os carnavais e as fantasias não...

Eu gostaria de engolir a esperança,
nos maiores tragos que pudesse dar,
mas minha garganta secou ao extremo...

Um minuto de silêncio para nossos mortos,
todos o que já descansam em seus leitos,
a morte não conhece diferença alguma...

Gostaria de rir mais, dançar mais, 
acender muitas fogueiras pelas noites,
mas até minh'alma já se apagou...

Não sei se as coisas mudarão,
mas ainda assim tenhamos certos cuidados,
porque o nosso predador somos nós...

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Festas de morte
Sozinhas na alegria estúpida do coletivo
Nada existe mais que a tristeza
E um sol quente junto 
Ao grande catálogo de sóis frios
É o que quero falar 
Em meu silêncio constrangedor
Como num cinema mudo
A imaginação prega peças
E eu quase sempre sei disso
A modéstia me obriga
À levar centenas de estrelas
Guardadas em meus bolsos...

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Eu nem queria...
Mas há abismos e abismos,
Nunca sabemos ou que são...
Por isso, vou em minha solidão
Sem deixar rastros
E não haverá mais um som...
O silêncio incomoda 
Mas nem sempre...
Não há cálculos exatos
Nem para choros e nem risadas...
Pelo menos minhas palavras
Ainda me obedecem
E eu posso brincar com elas 
Todas as vezes que desejar...
Minhas aflições são ocultas
E parecem participar
De um jogo de dados...
Nunca se esqueçam do sol...
Eu nem queria...

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As nuvens estão prontas
(Pra partir ou pra ficar)
Eu sinto o calor em meu corpo
(Apesar da alma tão fria)
E os sons oferecidos pelo dia
(Mesmo que a solidão silencie)
O caminho é o mesmo
(Pedras e poeira, nada mais)
Eu bebo do meu veneno
(A pequena distância o faz)
Gostaria de dormir mais um pouco
(Mas o sono foi embora)...

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Não gostaria nunca de falar isso
Mas a mágoa impele tanta coisa...
As sombras acabam me acompanhando
E tenho que me acostumar
Com a única companhia que tenho...
Os nervos não estão à flor da pele
Pois já saltaram faz muito tempo no chão...
Não há mais trânsito movimentado
E a cidade está vazia como meu peito...
E queria ter pelo menos asas
Para sobrevoar a própria escuridão
Dessa minha própria noite...

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Algumas invejas podem ser tão tristes
Que poderiam se tornar engraçadas
A minha tristeza é como a queda de braço
Que sei de antemão que vou perder...
É difícil escolher as cores dos pesadelos
Mas sem querer acabamos acertando sempre...
É um tiro no escuro que damos
E os versos mais fatídicos acabam nascendo...
Todos os partos doem e a criação
É em si uma criatura também...

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Eu fui um menino
E como todos eles
Sofri e ri de acordo
Com as estações...
Quando foi?
Foi quase ontem...

Eu amei em demasia
Desenhei corações
E pensei que o meu
Não poderia ser ferido...
Quando foi?
Foi quase ontem...

Eu tive o sonho
Preso entre os dedos
Mas como bicho arisco
Ele escapuliu-me
Para bem longe...
Quando foi?
Foi quase ontem...

Eu chamei a morte
E ela meio apressada
Veio tão louca
Que errou meu endereço...
Quando foi?
Foi quase ontem...

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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Como Se Fosse

Menino pobre Banco de Imagem | k8169751 | Fotosearch
Ando em ruas escuras
como se fossem selvas 
e vejo gente andando
como se fossem bichos
e perigos iminentes
como se fossem meus

Vejo mentiras sujas
como se fossem regras
e futilidades tantas
como se fossem vida
e novas invenções
como fossem antigas

Sofro novas dores
como se fossem hábitos
e recebo desamores
como se fossem dádivas
e sinto medo da morte
como se fosse rotina

 Estou tão confuso
como se fosse um qualquer
e procuro meus sonhos
como se fosse um louco
e vou calando meus versos
como se fossem os últimos...

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Meu Coração É Nuvem

papoinverso: Nuvem solitária
Se você olhar pra cima pela manhã,
Não se espante ao ver algo diferente,
No meio de nuvens tão branquinhas
Haverá um cinzenta com jeito triste,
Ela não refletirá que vem do sol,
Seu lugar verdadeiro é a escuridão...

Sim, foi meu coração que virou nuvem
E que o vento logo vai levar embora...

E se entardecer como sempre acontece,
Se ela estiver no mesmo lugar que antes,
É porque está relembrando velhas coisas,
Relembrar é sofrer mais uma vez,
Os tristes acabam fazendo isso sempre,
Ninguém consegue correr mais que a saudade...

Sim, essa nuvem que agora ainda flutua,
Um dia cairá no chão e não mais será...

E com certeza será a noite que virá,
As estrelas com suas fogueiras em festa,
Mas essa nuvem não, ela cobrirá a noite
Como se desse uma mortalha para a noiva,
Todas as noites mesmo quentes são frias,
Assim como o desamor que sempre tive...

Sim, a escuridão quase não mostra mais,
Só que é negra minh'alma feito essa nuvem...

Não espere noutro dia me ver novamente,
A chuva caiu e dormindo ninguém percebeu,
O jardim foi molhado e as flores se alegram,
Por mais que se queira de um modo lembrar,
Tudo passa, o que é bom e o que foi ruim,
A nuvem feia entre nuvens bonitas também
E quem sabe meu coração pode descansar...

Sim, foi meu coração que virou nuvem
E que a morte logo vai levar embora...

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 76

Pensando, menino, atraente, criança. Menino, antigas, pensando ...
Lembrar-me de certas tristezas
é como levantar um morto da cova
ele te fará sofrer das mesmas coisas
eu gostaria que seus ossos 
se transformassem em pó
e esse pó se dispersasse pelo ar...

Lembrar-me de certas dores
é como enfiar novamente o espinho
no mesmo local que fui ferido
eu queria apagar todas as marcas
mas agora isso é impossível
seria o mesmo que me matar...

Lembrar-me de certos amores
é como entregar o pescoço ao carrasco
ele lerá solenemente a sentença
eu ainda teimo que não é
mas os amores que foram perdidos
são como a morte novamente...

Lembrar-me de certos sonhos
é como se torturar o tempo todo
sonhos que partem se tornam maus
eu acabei disfarçando-os 
para que continuem o tormento
que sua partida me causou...

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Veneno que me salva
dor que me acaricia
Inverto todas as coisas
mesmo sem masoquismo
Sou eu! Sou eu!
Que brincou entre nuvens
Até me cansar totalmente
Sou eu! Sou eu!
Que nada teve do que pediu
e nada pediu do que teve...
Agora me transformei
no fantasma do que eu era...

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Nada esteve tão igual
os perigos apenas mudaram de nome
são os mesmos projéteis 
partindo de diferentes lados
para o mesmo alvo...
Tudo está mal como sempre
os homens são o mesmo perigo
e os afligidos são aqueles
que não afligiram ninguém
a mesma sandice manda no mundo...
Enquanto isso poetas e sonhadores
permanecem no abrigo da imaginação
esperando esperançosamente
que um dia tudo isso acabe
ou então o homem acabe de vez...

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A minha espera é a do desespero
que pelo tamanho que tem
parece que nasceu até antes de mim...

O meu amor é como um ladrão
que invade das minhas entranhas
para tirar todo o meu sossego...

Ser feliz é tão e tão complicado
que nesse vai-e-vem da mente
acaba se tornando simples demais...

A minha esperança é uma malvada
que faz com que o espinho
fique ainda na carne esperando o prazer...

A minha resposta é uma eterna dúvida
porque querer permanecer é algo
e ver o temporal passar é outra coisa...

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Não sou um fantasma
(pelo menos ainda não)
mas ando pelos corredores
de mim mesmo
procurando velhos dias mortos...

Não sou um demônio
(pelo menos ainda não)
sou apenas um sobrevivente
preso e triste
entre as ruínas de meus sonhos...

Não sou um animal estranho
(pelo menos ainda não)
ando no meio da madrugada
procurando
um amor que há muito perdi...

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Há tamanhos e tamanhos
e os enganos pousam sobre nós
pequenas ou grandes
as nossas paixões nos machucam
e aí... bem, e aí...
só nos resta chorar...

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Eu guardo em mim muitas perguntas:
Por que a maldade é sempre covarde?
Por que a ambição sempre se suicida?
A vaidade é parceira da decepção?
Por que teimamos numa felicidade impossível?
Gostamos de repetir velhos erros?
A saudade nos destrói aos poucos?
Por que o tempo se espalha como folhas mortas?
A vida é mais cruel do que a morte?
Os sonhos podem também nos matar?
Qual o endereço do destino?
O amor pode nos matar se assim quiser?
A esperança nos joga areia nos olhos?
Eu guardo em mim tantas perguntas...

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Eu Gostaria Um Pouco Mais

Um Menino Chorando, Medo Em ângulo De Imagem Edifício Abandonado ...
Eu gostaria de fazer um pouco mais, 
andar um pouco mais
em direção à alegria que nunca chega,
mas meus pés estão mutilados pelo tempo,
esse mesmo tempo que me embalou,
que me fez crescer para se tornar meu inimigo...

Eu gostaria de gritar um pouco mais,
mostrar um pouco mais
as maldades que andam por aí,
mas confesso humildemente
que acabo me entristecendo muito,
posso fazer pouco e quem pode não faz...

Eu gostaria de dançar um pouco mais,
mas o silêncio cortou o ar
com sua lâmina por demais afiada,
agora temos que velar nossos mortos
dentro da noite mais silenciosa possível,
sonhos e pessoas queridas são parecidos...

Eu gostaria de rir um pouco mais,
esquecer os perigos dessa selva,
mas acabo percebendo de forma tardia
que uns dos bichos mais perigosos
acaba sendo eu mesmo - homem
e mesmo se não quero destruo tudo em volta...

Eu gostaria de ser eu mesmo um pouco mais
e isso (com um esforço inesperado) 
acabo conseguindo por alguns breves momentos
quando olho o sol de frente apontando nuvens
e o carinho que sinto acaba me doendo
e os meus versos saem como num parto...

Eu gostaria um pouco mais...

Meia Luz, Meia Vida

Casal dormindo juntos | Foto Grátis
Pois aqui estamos, meu amor, num quase apocalipse de nós mesmos, na penumbra deste quarto como se fosse a própria realidade, dura, palpável, mas mais do que verdadeira...
Acenda um cigarro, jogue a fumaça na minha cara com aquele sorriso que só você sabe dar. Me chame para regiões mais distantes, onde a dor já morreu e o medo já se acabou...
Pegue aquela garrafa pela metade ali na mesa de cabeceira, preciso sentir-me como um rio onde águas correm, não me importando agora se turvas ou não...
Se achegue mais um pouco de mim, deixe que suas carnes macias toquem esse velho corpo que já vai embora aos poucos. O mesmo que abrigou o menino triste que morreu faz bastante tempo...
Coloque a sua perna em cima de mim, é apenas uma forma de abrandar o meu medo de perder o que consegui e que não abro mão até que o último dia enfim chegue...
Quero um beijo, um desses que duram uma eternidade, como só os filmes ou as novelas podem nos dar. Deixa eu sentir a sua saliva morna, que o mundo se acabe lá fora...
Reparte comigo o oxigênio da proximidade de nossas narinas, seremos como dois bichos que num respirar ofegante se preparam para uma luta que não haverá vencedor ou vencido...
É, meu amor, o mundo tem sido tão mal como sempre, as coisas complicadas como devem ser. Não nos matemos, pelo menos por enquanto, deixe que os outros enlouqueçam e acabem por se dar mal por coisas tão vãs e mesquinhas...
Deixe eu lhe falar, me lembrei de você hoje, não que eu não me lembre todos os segundos do relógio, mas é que foi tão diferente. Passei por um lugar hoje, tão meio triste que não sei se foi praça ou jardim ou até quintal, vi uma flor tão singela e tão diferente, lembrei de você...
Senti então uma dor lá no fundo do peito, um medo maior do que quando passo pelo corredor na madrugada. É medo sim, minha amada, um medo maior que o próprio mundo por saber que a morte levará um dos dois...
Se for eu, estrela, a saudade me matará pela segunda vez e pela primeira vez haverá uma alma morta assombrando os que já foram. Se for você, a dor me será tão grande ao ponto de transformar-me em algo mais triste que a própria tristeza e ela não admite concorrentes...
Por isso, chega mais perto de mim, isso, bem juntinha de mim, pelo menos agora. O sono já chega aos poucos, vamos então, tranquilamente, vamos dormir, pedindo ao destino que nos deixe ver a luz do amanhã, seja ela alegre ou não...

sábado, 9 de maio de 2020

Quero e Não Quero

Um Ramalhete Das Margaridas Brancas Do Campo Em Um Verde Borrou O ...
Quero que você me aceite mais um pouco, que me tolere mais um pouco, que aceite esse meu jeito louco de ser. Que veja comigo dias nascendo e outros morrendo, sabendo que cada um deles acabou deixando uma marca em nós, mesmo quando pensamos que não deixou nada...
Não quero que você goste das mesmas coisas que eu gosto, que tenha gostos parecidos, cada um é cada um. Pode reclamar quando me aproximar demais, ser carinhoso em excesso, seja ciumenta o tanto que quiser, eu até gosto disso...
Quero que tenha um sono tranquilo, desprovido de medo e de tudo que é ruim e que existe lá fora. Não corra perigo à toa, não queira ser como os outros por ser e não ligue para o deboche de quem verdadeiramente lhe conhece como eu...
Não quero que seja descuidada, nem desprovida de vaidade, só não exagere. Há tempo para tudo nesse mundo, nós é que não percebemos e insistimos em certos sonhos que acabam não sendo, apenas ilusões baratas que se esvaem no ar feito fumaça...
Quero que se mire todas as manhãs no espelho e não se espante ou se incomode com as rugas que ganhará aos poucos, isso não é ruim. São quando muito apenas sinais de que a roda da vida não pára de rodar...
Não quero que se intoxique com desnecessidades baratas, nem se impregne do que pode lhe fazer algum mal. Lembre-se que se não há um outro motivo pra vida, viver por sim já é o bastante mesmo que seja por algumas alegrias passageiros...
Quero que não ligue pra minha tristeza quase constante, esse meu jeito de emudecer no meio de certas frases. É que eu sinto certas saudades que me importam muito e tirá-las de mim seria quase me matar...
Não se angustie com a morte que muito provavelmente levará um de nós dois, é apenas o resultado de um cálculo que nem imaginamos o que será. Fica então assim feito um trato: quem for primeiro, espera o outro...

Que A Terra Me Seja Leve

Maringá: pais homenageiam filho morto com estátua
Que a terra me seja leve,
que a tristeza não seja tanta,
que os meus olhos estejam fechados
para a escuridão que se agiganta...
Que hajam poucas lágrimas neste dia, apesar de tudo sempre preferi os risos, as histórias bonitas, nem sempre verdadeiras, mas que acabam enfeitando antigos livros de história...
Que a terra me seja leve,
que o desespero não seja tanto,
que o sonho ainda esteja presente,
mesmo se a morte me dá seu manto...
Que velhos segredos fiquem guardados, apesar de que alguns são mais que presumíveis, eu amei como todos amaram, amores certos ou amores errados, todos eles são muito parecidos...
Que a terra me seja leve,
que a saudade não seja tanta,
que dê pra segurar essa barra
toda presa bem na garganta...
Dispenso que matem flores por minha causa, apesar de gostar muito delas, as que eu quero são outras, impossíveis de se ter agora, aquelas que colhi quando era menino e nem sei qual eram os seus nomes...
Que a terra me seja leve,
que a ritual seja mais santo,
se eu tive em mim muita culpa,
já paguei com meu pranto...
Longe de mim qualquer morbidez, eu até prefiro as cores fortes, quentes e alegres que só os dias podem nos dar, mas somos, todos nós somos, animais noturnos buscando suas presas, mesmo que elas sejam nós mesmos...
Que a terra me seja leve,
que a esperança seja tanta,
que a morte seja outra vida,
uma outra alegria que encanta...
Esperança é teu nome e apesar de tantas vãs utopias, quero ainda acreditar que terei mais uma chance de tudo aquilo que não tive, de tudo que me foi negado sem motivo algum, que conhecerei uma outra terra bem distante chamada felicidade...
Que a terra me seja leve,
que o destino seja portanto
a sorte que está lançada,
não me chama qu'eu me levanto!

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...