domingo, 1 de setembro de 2019

Poema Baseado n'O Conto do Leitor de Epitáfios de Carlinhos de Almeida

Resultado de imagem para passeando no cemitério
Todo tom e tom nenhum
uma noturna ventania rude lá fora
onde estamos afinal? eis a questão
perdidos de nós mesmos caminhamos
ao som de uma rumba que nos anima
ao doce sonho de nada ter ou fazer...

Quando tentei fazer frases bonitas
acabei falando segredos inconfessáveis
e as minhas tardias tentativas
acabaram num itinerário mais que perdido
assim são todas as nossas contradições
o que falamos nunca se escreve...

Estou sozinho junto à todo mundo
nas multidões existem sólidas solidões
e o desespero é um ato sem sentido algum
eu me debato como mosca na teia
mas acabo perdendo todo meu sangue
nas mais obscuras futilidades...

Não fiz sequer uma grande façanha
minhas tentativas são fracassos variáveis
alguns bem perto e outros distantes
e a minha opção restante foi a solitude
de andar por entre jardins de tristeza
olhando as flores que não posso colher...

Eu sou a estranha criação do esquecimento
o que poderia ser lembrado e não foi
e tudo no final se parece com um filme mudo
sem legendas e sem cores e sem enredo algum
incompreensível para um eventual espectador
como as lacônicas sentenças das lápides...

Cada frase um livro com a história quebrada
datas que determinam o fim das esperanças
tudo poderia ter sido bem mais diferente
todo e qualquer final feliz é esperado
mas até as próprias linhas chamadas retas
acabam ocasionando acidentes de percursos...

Como um charadista de tempos já idos
passeio tranquilamente nas ruas desertas
guardando no fundo de minhas pobres retinas
o que além de simples pedras se revelará
tudo o que a imaginação pode indagar
e acabo guardando um pedaço comigo...

Nunca sei de exatidão alguma sobre
mas pelo menos haverá alguma coisa
nos empoeirados arquivos da memória
alguma coisa restará ou apenas um sinal
e eu serei como quem embala com tristezas
algo que poderia ter sido diferente...

Eis então o meu tributo singelo
para a própria morte que me salvou da vida...


(Extraído da obra "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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