Pequeno Diálogo Entre O Poeta e Uma Pequena Nuvem Vadia

- Nuvem vadia?

Por onde andas?

- Ando por vários céus...

Quer notícias?

- Sim, quero...

- Tenho visto várias coisas,

umas boas, outras ruins...

- Conta-me primeiro as boas...

- As boas? Não são muitas,

ou melhor, as boas e as ruins

acabam se misturando,

assim é tudo o que acontece,

mas mesmo assim, 

podem lhe deixar contente...

- Fale-me logo...

- As crianças ainda continuam

com a sua alegria e pureza, 

mesmo quando os homens 

as maltratam de formas diversas...

- E o que mais?

- Vi amores florescendo,

tais como as flores nos jardins

e os sonhos teimando 

em continuarem à fazer

as maiores conquistas possíveis...

- Só isto?

- Não, não, vi muito mais...

Vi a natureza seguindo seu curso,

às vezes carinhosa, outras cruel,

ensinando todas as lições possíveis...

- Continua...

- Vi os tolos continuarem mentindo,

tentando gozar daquilo que não podem, 

pois o tempo toma tudo dos homens,

quando a vida não faz isso,

vem a morte e assim o faz...

Vi irmãos matando irmãos

em guerras inúteis...

Cegos andando em fileiras

para conseguirem o que não necessitam,

esquecendo de viver

porque achavam que viviam...

Repetindo o que não entendiam,

achando que eram modernos,

mas apenas repetindo velhos erros...

Esses estavam mortos,

desconhecendo tal fato...

- E o que mais?

- Vi muitas coisas, poetas,

mas a imaginação poderá lhe dizer

mais do que essas perguntas...

- Então me fala mais uma coisa...

- O que? Pergunta porque tenho

uma quase pressa de continuar...

- Posso ir junto?

- Ir junto? Por que?

- Ando muito triste e muito sozinho...

- Como andam muitos...

- Mas eu não quero mais...

- Muitos não querem, cada um ao seu jeito.

- Por favor, me leve...

- Cada coisa no seu tempo, poeta,

eis a regra que devemos obedecer...

Sou apenas uma pequena nuvem, 

pequena e vagabunda como muitas

que povoam os céus por aí.

O chão pode parecer ruim,

mas tudo pode e é assim,

o bem e o mal contido em tudo...

Já é chegada a minha hora,

o vento já me chama...

- Então, nuvem vadia,

me faz uma promessa?

- Que promessa?

- Mande sempre notícias...

- Ah, isso é muito fácil,

todas as vezes que olhar o céu,

estarei lá, sempre,

eu e minhas irmãs

sempre traremos notícias 

em forma de sonhos...