Se você me encontrar perdido por aí, por favor, me mande de volte pra casa. Faz tempo que não me vejo e estou morrendo de saudades...
Eu tenho muitas saudades das velhas figuras que minha retina comia em momentos de calmo desespero. Ainda existem muitas regras que me afligem e não fui eu que as fiz...
Se você encontrar alguma nuvem que seja em conta, por favor, compre-a por mim. Coloque-a num pacote e mande-a, o carteiro que se vire de me encontrar por aí...
Há muito os flashs cessaram e as nossas ilusões foram descansar de suas vãs tentativas de alegria. Dia sim, dia sim, travávamos uma luta com dragões que, afinal, nem existiam...
Se você ouvir o zunido das flechas cortando o ar, por favor, não deixe de me avisar. Já fui atingido tantas vezes, corro um estranho risco de me acostumar com feridas e acabar gostando...
Muitos sóis e muitas luas se sucederam no alto dos céus e mesmo assim não vivemos o bastante para encontrar algum sentido pra isto...
Se você descobrir uma nova cor, por favor, me avise depressa. As velhas cores, mesmo que ainda queridas, já não podem mais impressionar minhas pupilas e nem minh'alma...
O tédio é um veneno lento que tem pressa de nos matar, com seus golpes sujos, com sua impiedade mais do que costumeira e disso, na verdade, todos nós fugimos...
Se você ver um novo lance, por favor, me conte depressa. o meu copo já está quase transbordando, a impaciência acabou me comprando no grande leilão de infelicidades...
Vejo os segundos passarem como espinhos que ferem invisivelmente e não há como ao menos me socorrer. As marés me trazem muita saudade, mas se despedir de tudo faz parte...
Se você souber de uma rota de fuga, por favor, não se esqueça de mim, eu preciso com urgência de algo que dê mais sentido ao que tenho sentido, falta alguma lógica para minha banalidade normal...
Não fui sentenciado, mas cumpro a minha sentença, existir é algo deveras complicado, com seus detalhes, detalhes atrapalham mais do que ajudam. Quebra-cabeças são feitos em série e a fábrica nunca descanso, está sempre produzindo...
Se você pode me socorrer, por favor, não hesite, me socorra, nem é preciso esvaziar seu bolso um pouco para isso, minha vida acaba não valendo o esforço. Gostaria apenas de compreender a essência de todas as coisas e a simplicidade maior que constrói a felicidade...
A cuva cai lá fora, cai e pára, cai e pára, para irritação de uns e desconsolo de outros, assim deve ser tudo, pelo menos aparentemente. Terei que esperar que passe e venha um novo sol...
Se você me encontrar perdido por aí, por favor, me mande de volte pra casa. Faz tempo que não me vejo e estou morrendo de saudades...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram de autoria de Carlinhos de Almeida).
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