segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Um Auto


Negra era sua cor. E ele rodou comigo em várias ruas. Já faz tempo garoto. E se eu pudesse, juro que te traria  de volta. Não para andar por essas ruas de hoje. Porque essas ruas são até mais tristes. As ruas de ontem me interessam mais. Nelas eu pegaria de volta os sonhos que um dia eu perdi. Nelas estão os poucos sorrisos que verdadeiramente dei. E quem sabe? Talvez encontrasse a chave desse cofre chamado felicidade.
Várias foram as vezes. Dias de sol, dias de chuva. O menino de quadriculado ia para a escola. Fosse bom ou não fosse. Eram outros dias em que haviam corredores. E rir podia ser o mal ou bem. E rir pudesse ser o começo ou o fim. 
O mar continua. Mas era algo especial. O que mata. Mas que pode alegrar. Num sonho de brancas cores como o vidro. Tudo é quente. Tudo simplesmente é. E protegido da areia me levava. Bem cedo. Bem tarde. Bem perto. Bem longe. Bem baixo. Bem alto. E tudo era o que era. E atravessá-lo é deleite. Ou estratégia. Como um coração que ama. Ou pelo menos palpita.
Uma deliciosa solidão. Solidão de nós três. Mesmo quando tudo era pequeno. E os bacurais cantavam para meu assombro. Amanhã-eu-vou! Amanhã-eu-vou! Um sofria pelos cabelos curtos. E mesmo assim era doce o que vinha na boca. Mais que mel. Não reparem. Tudo tem que ser assim.
Mas há carnaval sem folia. E que o começo parece o final. Pelo menos pra mim. Foi o fim sem adeus. Sem fotografia. Sem quase choro. Uma nuvem de poeira. E uma notícia sem graça. Falada sem tom algum.
Aonde será que ele anda? Talvez numa eternidade maior que a minha. Nas mesmas ruas. Onde o tempo nada pode fazer. Permanente. Brilhando. Com seu barulho e seu grito. Antigo e mesmo assim novo. Quem sabe? Talvez espere por mim...

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