quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Teoria da Alegria Número 1


Bolas de gude novas. Aquelas de cor de vidro com colorido dentro. Muitas muitas muitas. Num garrafão amarelo de plástico imitando palha. Na caixão de papelão quase bem conservada eles em fileiras. Aos pares. Com suas cores combinantes. O barco vermelho com seu salva-vidas de apito amarelo mais que o sol. O jipe verde de metal com sua buzina estragada pelas pilhas que vazaram lá depois de ali ficarem muito tempo. O velocípede que não dava mais tamanho e era mais rápido que um fórmula um. A tia me deu um Topo Gigio dizendo que um tio misterioso me deu e era sua forma de dizer que agora a vida seria um pouco diferente. O carneirinho na verdade era um ursinho de borracha pintada com a tinta de caneta que não saía. E minha mãe colocou elásticos nas pernas e nos braços pro Dominguinhos ficar como era antes. Eu sei agora que a cristaleira não era pra mim e seus cristais eram tão bonitos. Tudo quebra um-a-um. A Philco de madeira era linda. Era a janela de um outro mundo. E meu sono era meu inimigo nessas horas. Ainda mais quando queria sustos e um coração mais apertado. Fora isso tinha o parque. Onde meu medo se invertia e era bom aquele mar escuro da noite bem lá do alto. Era o tempo prometido onde ânsia e saudade saíam no tapa. Janus com seus dois rostos mais sorridentes um pouco. A máscara cobria o rosto e o medo ainda era o mestre de minha taquicardia. Mas era bom. Eu imaginava um mundo de mais de quatro dias. As cinzas eram tal qual um novo sal. Havia também um mundo doze por trinta com seus vigias. O da frente do velho. O isolado do menino. O perto da varanda o da sonhadora sem sonhos. E ainda lá na frente a alegria das alegrias em frutos parecidos com o sol. Na varanda haviam segredos e o ar era o alvo. O que foi é o que é que é o que será.

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