sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Teoria da Contradição


Não só em palavras me faço. Mas as usarei como artifício engenhoso para dizer o que não dá pra dizer. Tudo que falo era o que não queria falar. Mas coloco gravados em pedra meus erros mais banais. Não sei quais são as cores e eu colorizo. Não sei quais são as dores e prescrevo os remédios que não preciso. Nada em mim se transforma e eu não mais vejo. Tudo é sorte. Tudo é norte. É o periquito do realejo. A canção banal. Assobiada entre os dentes. É a mente. Tão somente. Por que mentes? Quando diz que gosta de mim. Não foi assim. Sem princípio. Logo no fim. Flores sem jardim. Espalho versos deveras sem utilidade. Não é novidade. Não há nova idade. Só peso e vontade. Vera inverdade. As frases ora diminuem e ora aumentam. Mas se sustentam. Na macia cama do ar. Por que será? E sem explicar. A dor aumenta e os passos também. Não há mais pausas. Só o meu bem. Meu bem querer. Meu bem me quer. É e não é. Eu contradigo o que digo. As vezes consigo. E prossigo. E as vezes não. A contradição. É a condição. De viver em qualquer parte. Em qualquer arte. A obra ruim de um autor famoso. Estava desgostoso. Estava sem idéia. Mas tinha platéia. Tinha bastante palma. Só faltava a alma. Era dia de descanso. Era um rio manso. Sem impulso pra canoa. Doa que doa. Nada foge deste conceito. Torto ou direito. Quero teu peito. Quero tua graça. Tua pirraça. Nem bem disfarça. Por entre a massa. Isso é trapaça. Fugir enquanto eu nem olhava. Mas te amava. Com todos os suspiros. Rosas e tiros. E eu nem prefiro. Quem canta. Seus ares espanta. Nada novidade. É tudo o que é. Desde a eterna idade. No campo ou na cidade. Calmaria e tempestade. Desde o velho erro. Folia ou enterro. Alugam-se carpideiras. Refalam de quaisquer maneiras. E o cigarro queimando. No cinzeiro me esperando. Politicamente incorreto. Ou somente secreto. Ou indiscreto. Como todo mundo deseja. Assim seja. As mocinhas de véu e grinalda. Bebês e anciões com fralda. E um final sem ter feito nada. Quando muito a tarefa executada. Eu não virei astro. Não deixarei rastro. Nada fiz de bom e nem de mal. Joguei bola no quintal. Alcancei a minha meta. Nem sei andar de bicicleta. Nem dar um teco na gude. Fiz o que pude. Me bateram na luz do dia. Não digo quem seria. Ou então só digo. Era meu amigo. O amigo que não esperou dar o troco. Num plano louco. Pedras e pedras ainda estão no caminho. Ando sozinho. Rosa e espinhos. Rosa ri por coisas engraçadas. São quase nadas. Nadas hoje e amanhã e em qualquer rotina. Rosa felina. Domingo não tem sabatina. Tem parafina. Tem muita esquina. Não só em palavras me faço. Aquele abraço. Sobrou espaço. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...