domingo, 16 de setembro de 2012

Teoria do Tamanho


O meu coração é que mede o tamanho das coisas. Dá para elas o tamanho que acha. A mente nada faz. Quando muito tenta justificar mesmo sendo desnecessário. E acha que comanda alguma coisa. O coração é quem manda. Os pés são seus cúmplices. E acabam levando aonde aquele quer. O levam ao encontro do choro e do riso. O fazem conhecer terras. Ver ventos e sóis e chuvas. Noites e dias numa sucessão quase monótona e no entanto bela. O espaço não existe. E o tempo é uma piada de mau gosto que pode fazer rir.
O menino sabe. Aquele que anda escondido pelos corredores agora vazios sabe disso. Haviam muitos mundos que ele fazia. De várias formas e tamanhos e cores. Alguns bons e outros não. Mas eram seus. E ninguém podia tomá-los dele. E estavam escondidos numa sombra qualquer. A sombra era a própria luz. A mesma luz que dourava cabelos e polia metais. A mesma sombra que vivia dia e noite. Por mostrar é que ninguém vê. Quando chora é que dizem que ri. E quando suas asas aparecem pensam que é o anjo. Não. Não são do anjo essas asas. São negras. Mas só se percebe o que se quer. O coração também manda nos olhos.
O meu coração é que mede o tamanho das coisas. E diz qual dos beijos foi o melhor. Se o primeiro ou o segundo. Diz o tamanho do que resta. Dá conselhos para a teimosia que finge que escuta. Quantas borboletas estarão hoje no jardim? Estarão todas se assim quiser. E haverá lugar para todas elas. Borboletas e pétalas. Bom arranjo. Como foram também certas lembranças. Aquelas com o tamanho sem tamanho. Que o ontem parece com elas. O ontem breve. Terno. Suave. E se entristece é outra história. Eu bebo o vinho mesmo sabendo que embriaga. Eu sei o caminho e gosto de me perder às vezes. 
O meu coração é que mede o tamanho das coisas. Os carros já rodam. É tempo de fechar o livro. É tempo de estar sem tempo. Ou não. O livro pode ficar aberto por enquanto. E os carros dar sua pausa para descanso. Se não for domingo. Assim mesmo será. O mestre manda que os passos sejam sutis pelo menos por agora. Há guerras e muitas. Mas nenhuma delas terá força alguma. Não pararão o mar. Não calarão o vento. E mesmo as frases óbvias que falar serão detidas. Tudo é bom e belo...

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