segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Brinquedos


Brinquedo de ver mortes no jornal
Brinquedo de escutar tanta promessa
Brinquedo de viver um carnaval
Brinquedo de comer com pressa
Brinquedo de viver sem esperança
Brinquedo de viver da covardia
Brinquedo de sofrer e ter lembrança
Brinquedo de brincar de rebeldia
Brinquedo de estar à toda hora
Brinquedo ser pau pra toda obra
Brinquedo do tempo ir embora
Brinquedo de se contentar com a sobra
Brinquedo de não ser mais nada
Brinquedo de achar que é brinquedo
Brinquedo de cair na porrada
Brinquedo de conviver com o medo
Brinquedo de um jogo de cartas
Brinquedo de marcá-las uma-a-uma
Brinquedo de ver mil mesas fartas
Brinquedo de não ter porra nenhuma
Brinquedo de cagar no meu voto
Brinquedo de viver sempre em disputa
Brinquedo de sonhar com a loto
Brinquedo de ser um filho-da-puta
Brinquedo de querer os tempos idos
Brinquedo de viver pensando em roupa
Brinquedo de estar na lista dos fodidos
Brinquedo de sorrir na fila da sopa
Brinquedo de putas pré-adolescentes
Brinquedo de michê de onze anos
Brinquedo de adormecer todos os meus dentes
Brinquedo de fazer já mortos planos
Brinquedo de crer numa justiça cega
Brinquedo de sentença escrita em braille
Brinquedo de vida que a vida nega
Brinquedo do fim de semana o baile
Brinquedo de ir na encruza acender vela
Brinquedo de ir no domingo no Maraca
Brinquedo de chorar pela novela
Brinquedo de assumir ser um babaca
Brinquedo de usar estes óculos escuros
Brinquedo de acordar com febre alta
Brinquedo de escrever merda pelos muros
Brinquedo de dinheiro não faz falta
Brinquedo de tomar outra saideira
Brinquedo de ser fino e ser educado
Brinquedo de caretice ser doideira
Brinquedo de saber qual é o lado
Brinquedo e saber que é tarde o cedo
Brinquedo brinquedo brinquedo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...