Eu vejo flores cegas
andando por aí
seu cheiro confunde
os meus sentidos
como quem vai
de encontro à parede...
Está tudo em câmera lenta
perco a noção do tempo
e então já é tarde demais
um simples baque
uma dor profunda
e finalmente vou ao chão...
O carro freia bruscamente
e a rota de colisão
já é mais que inevitável
apenas ferros retorcidos
e um sensacionalismo
em um jornal qualquer...
A noite chega intempestiva
em letras garrafais
sobre alguma dessas novidades
mais do que vulgares
sem nos explicar de onde
e nem como aconteceu...
O mar está revoltado
os peixes dormiram mais cedo
e os pombos da minha cidade
andam sem migalhas
e os que moram nas ruas
são seres invisíveis...
Talvez erre esse caminho
e chegue em algum lugar
um céu de sofrimentos
ou um inferno de alegrias
porque agora tudo se confunde
acho que de propósito...
Talvez as folhas secas
ainda prestem a última homenagem
e seu barulho me encante
como nunca fui antes
e o sono dure uma eternidade
ou apenas mais um segundo...
Eu vejo flores cegas...
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