Que o poema venha bem depressa,
Com a maior pressa possível,
Levantando poeira pela estrada,
Tropeçando pelas pedras
Sem reclamar dos ferimentos
Que elas façam em seus pés...
Que ele não reclame do calor
Ou se está fazendo frio demais,
Que não tenho medo de sombras,
Que escape de certas emboscadas
Que sempre haverão de existir...
Que o poema venha aflito,
Isso faz parte da natureza do poeta,
O servo quase fiel que transformará
Em palavras o que escorre dos olhos,
O que corre em todas as veias,
O que vagueia por aí, pelas nuvens...
Que ele tome a forma que quiser,
Que seja pequeno com um inseto
Ou ainda maior que o Himalaia,
Que tenha todas as cores ou nenhuma,
Talvez como uma televisão velha,
Como o camaleão que sempre foi...
Que o poema venha ligeiro,
Sem ter algum motivo plausível,
Sem abrir sua boca para explicar nada,
Invasor como um garoto mal-educado,
Que pula o muro e invade o quintal
Para roubar fruta ou pegar sua bola...
Que ele seja que nem a menina louca,
Que invade minha sala e minha vida,
Beija minha boca sem o menor pudor
E vai embora do jeito que chegou,
Sem dizer ao menos aonde vai agora
E se um dia voltará para mim novamente...
Que o poema venha bem depressa,
Com toda a aflição que ele puder...
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