Enxergo as coisas na inversidade imediata
daquilo que deveriam ser
E nem as minhas súplicas eu mesmo ouço
Todas as coisas são apenas jogos de palavras
e quem permanece em silêncio
Pode afinal esconder alguma carta na manga
As novelas das oito ou ou os samba-enredo
acabam nos respondendo perguntas
Mas é uma grande pena não temos as chaves
Escondo a maldade que habita em minha alma
enquanto durmo sobre os pregos
Nada valia mais do que o que joguei no lixo
Joguei no lixo e o caminhão do tempo veio e levou
e se agora chora é por um motivo
Um bom motivo sou um velho sem ter envelhecido
Todos os disfarces afinal não deram muito certo
e nem o meu cinismo me salva
Talvez alguns versos banais salvem meu pescoço
para não ser enforcado dessa vez
Mas nunca se sabe se o carrasco está contente ou não
Os mortos descansam séria e serenamente em suas covas
e a cidade explode em cores mortas
Os pombos percorrem os chãos por suas migalhas
e os mendigos filosofam suas dúvidas mais que óbvias
Tudo é apenas um grande labirinto
mas os barbantes estão em falta nos mercados
Eu até queria a comodidade de dias mais simples
mas infelizmente meus neurônios negam
Não há mais sossego aos que tentam ao menos pensar
e isso pode ocasionar meia dúzia de novos pesadelos
O ódio então se tornou apenas amor
E agora nem me apresentando eu não me reconheço mais...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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